1

28.1K 1.1K 111
                                    

VIVIANE

Cheguei exausta do serviço e como de costume, a Thatiana não sai desse sofá. Sinceramente, eu não sei onde meus pais erraram com essa garota.

Viviane: Boa tarde. — falei seca ao entrar em casa e já ia pesando direto pro meu quarto.

Rose: Oi filha. Como foi o dia? Nem um beijo na mamãe vai dar?

Viviane: Cansativo, como sempre. Que dia eu vou conseguir ganhar na loteria mesmo? — fui até ela e dei um beijo demorado em sua bochecha. M

Thatiana: Vivi... — olhei pra ela. — A Hellen teve aí atrás de você, falou que tá sem celular e se der, é pra chamar ela ali no portão.

Viviane: Tá bom. Obrigada! — virei pra minha mãe de novo. — Mãe, cadê meu pai? Tem um pão fresquinho aí não?

Rose: Ah Viviane, sei do teu pai não. — deu de ombros e continuou a cortar os legumes. — Tem nada, pedi pra sua irmã comprar, ela disse que daqui a pouco vai.

Viviane: Porra! Daqui a pouco amanhã, né? — bufei. — Serve pra nada hein, Thatiana. Vamo querer! — me olhou e sorriu com ar de deboche.

Saí logo da sala, porque se eu ficasse mais algum tempo lá, ia acabar perdendo minha razão com a minha irmã.

É incrível o dom que essa menina tem, de passar a perna nos meus pais. Aqui em casa, eles sempre foram muito severos com essas coisas de sair, namorar, estudar e tudo mais. Minha irmã completou 17 anos há pouco tempo, meus pais só a deixam sair se for comigo e eles acham, que ela só sai assim, porque nunca pegaram as fugidas que ela dá na madrugada.

Meus pais são casados há 22 anos, sempre moraram aqui no Carvão*, e eu sou nascida e criada também. Não sou de muitos amigos, só o pessoal da época da escola mesmo. Sempre fui muito esforçada, fiz magistério, meu sonho era ser professora, mas como não arranjei emprego na área, fui pro comércio mesmo, não teve jeito.

Minha mãe é diarista, trabalha feito uma condenada pra dar tudo o que a gente quer. Meu pai é pedreiro, também rala muito, não deixa faltar nada em casa, é um homem foda, mas tem um problema, o álcool.

Ele não aceita que é doente, que deve evitar o primeiro gole e com isso, às vezes cortamos um dobrado com ele por aí.

Tomei um banho, vesti uma roupinha qualquer, peguei um trocado e saí pra comprar pão, já que essa encostada não fazia nada. E aproveitei pra passar na Hellen, que morava no final do meu beco.

Viviane: Bora lá no seu Mauro comigo.

Hellen: Bora. Deixa só eu botar uma blusa.

Viviane: O que tu queria comigo cedo, doida? Não sabe que eu trabalho. — conversávamos e íamos andando devagar.

Hellen: É que eu esqueci, cara. Foi mal!

Viviane: Normal seu, mas fala logo.

Hellen: Tu tá muito cansada? Bora no baile hoje, tem atração, é aniversário do Bala.

Viviane: E quem é Bala, doida? — já estávamos na mercearia do Mauro e eu ia pegando as coisas que queria, pra fazer um cachorro-quente.

Hellen: Daniel, cara. Aquele que estudou com a gente. — assenti. — Vamo? Prometo me comportar.

Viviane: Não promete coisa que você não vai cumprir, cara. Mas vamos, preciso me divertir mesmo.

Hellen: Ai Vivi, eu te amo, nega.

Viviane: Tô sem dinheiro, já adianto. Tive que ajudar minha mãe com umas contas la em casa e sobrou o pouco do pouco.

Hellen: Não tem problema não. Deixa comigo. — reprovei com o olhar. — Ué, mona, de bico seco nós não fica. — jogou beijinho no ar.

Quando saímos do seu Mauro, olhei pra um bar perto e vi meu pai. Que cena! Sem pensar duas vezes, cheguei junto e ele estava cambaleando já.

Viviane: Bora, pai! — ele me olhou e veio na minha direção, me abraçando.

Josué: Ô Vivi, minha filha. — ele estava todo suado, fedia a cachaça.

Viviane: Bora pra casa, né pai? Já deu!

Josué: Só mais uma, só mais uma. — tentou voltar e eu segurei firme.

Viviane: Que mais uma, pai. Vamo pra casa! — fiz sinal pro moço do bar, que já nos conhecia e sabia que eu voltaria depois pra acertar. Ou ele mesmo voltaria, até porquê mesmo assim, ele lembrava de pagar os outros.

Josué: Poxa, filha. Era só mais uma. — não dei ouvidos, só coloquei o braço dele por cima do meu ombro, e fui o carregando até a Hellen.

Ela sempre me ajudava, já passou por poucas e boas comigo e meu pai por aí.

Hellen: E aí, tio.

Josué: Ê, minha filha, sua amiga não deixou eu beber só mais uma...

Hellen: É, tio. Não tá na hora de beber mais uma não, deixa pra outro dia.

Fomos pra casa carregando ele e quando chegamos, foi aquele escândalo de sempre. Coisa que nunca adiantava.

Viviane: Obrigada, amiga. Antes da gente subir, passa aqui pra comer o cachorro quente que eu vou fazer.

Hellen: Com certeza, né gata?! — rimos. — Não posso perder a oportunidade.

Ela saiu e eu voltei direto pra cozinha, tentando não prestar atenção na gritaria que meus pais estavam fazendo.

CARVÃO: Nome fictício pra favela em que eles moram.

5O TONS 🔥Onde histórias criam vida. Descubra agora