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Fiquei incomodada, mas tentei não deixar transparecer, não ia estragar o clima por conta de uma pessoa do passado, né. Mas será que é passado mesmo?

Quando estudávamos juntos, a Dara namorou o Bala e o Acerola. Na época, eles eram muito amigos, tipo irmãos mesmo e isso foi uma loucura no nosso "grupinho". 

Consigo lembrar perfeitamente do dia em que eles brigaram na quadra. Nosso professor do primeiro tempo tinha faltado, então, estávamos todos na quadra, uma turma imensa deveríamos ser uns 40 alunos. Quando o tumulto começou, todo mundo parou pra ver, foi como num filme, todos nós olhando e eles dois no meio da quadra, na trocação. Ai, enfim...

Bala: Preta?! — me tirou das lembranças.

Viviane: Hm...

Bala: Tem certeza que tu não tá bolada? — balancei a cabeça positivamente. — Dá um beijo aqui, então pô. — inclinei o corpo pra frente e encostei a boca na dele, sem muita emoção.

Ele logo agarrou no meu pescoços, afastou um pouco meu rosto, fazendo com que nos olhássemos e ficamos assim por alguns segundos, até ele sorrir. Não conseguiu manter a postura.

Viviane: Postura nenhuma você... — deixei um sorriso escapar.

Bala: Ih garota, tô nem te entendendo. — riu e nos beijamos ali, sem muita pressa, só aproveitamos o momento. — Vamo parar por aqui memo, se não, não vai ter jeito. — olhou pra baixo e eu me afastei, negando com a cabeça.

Ficamos mais algum tempo lá, até acabarmos a nossa segunda torre.

Fui ao banheiro, enquanto o Daniel pagava a conta e quando voltei pra perto dele, desceu aquele temporal. Muita água, muita mesmo...

Bala: Eu falei que ia descer água. — olhou pro céu. — E não vai parar agora.

Viviane: Aí merda, eu só queria ir pra casa dormir. — encostei nele e ficamos mais um tempinho em pé na porta, olhando a chuva cair.

Bala: Fazer o seguinte, preta... — olhou no relógio. — Vou pegar o carro, paro aqui na frente, abro a porta e tu sai correndo pra entrar. Já é?

Viviane: Tá, vamo.

Chovia muito, coisa que eu não via há muito tempo. Assim que o Dani parou e abriu a porta, entrei rápido, quase mais rápida que o flash.

Pra subir pra casa dele, tínhamos que passar pela rua da casa dos meus pais, e como tava difícil de ver a rua, ele estava indo bem devagar.

Bala: Coé, parece que tem alguém deitado ali no bueiro.

Viviane: Tem não, amor. Deve ser alguém que botou lixo... — forcei a vista pra ver, enquanto o limpador mexia.

Bala: Tô falando, po. Tem alguém sim... — jogou o farol alto em cima.

Viviane: CARALHO! É O MEU PAI!!!

Nem esperei o Daniel parar o carro direito, já desci correndo, no meio daquele chuva e tentei levantar o meu pai, mas me faltaram forças.

Pra minha sorte, o Daniel conseguiu ergue-lo e levamos até o carro, botando-o deitado de lado, no banco de trás. De início, achei que estivesse desmaiado, mas não, parece que ele tava "dormindo" ali.

Eu já não conseguia mais enxergar, era chuva, lágrimas, meu corpo tremia, o coração acelerado. Que sensação horrível. Que cena horrível!

Meu pai já tinha ultrapassado todos os níveis do álcool, falava nada com nada. Ao chegarmos no portão da casa deles, tiramos do carro, apoiamos ele em nossos ombros e fomos entrando no quintal.

Bala: Amor... — nos entreolhamos e eu já sabia o que ele queria dizer.

Viviane: Não temos outra escolha... Como vou carregar sozinha? — ele apenas assentiu.

Bati muito na porta, até a Thatiana abrir e logo depois vir a minha mãe. Pra quê?! Logo quando o viu o Daniel, começou a gritar, dizendo que não queria ele dentro de casa dela, que era pra ele ir embora, fez um verdadeiro show. E ele? Permaneceu sério, sem esboçar reação alguma.

Viviane: Caralho! Como você consegue ser tão sem noção? — esbravejei. — Você aguenta segurar sozinha? Então, segura. Ele tá aqui ajudando a gente e você nessa.

Rose: Eu não sou obrigada a aceitar bandido dentro da minha casa, ué. E você? Vai continuar defendendo esse cara? Ele só vai te usar, enquanto tu é a novidade, a hora que aparecer uma melhorzinha pra ele, seu inferior vai começar.

Bala: Com todo respeito, a senhora não sabe de porra nenhuma, tá se equivocando maneiro. Mas é isso ai... — senti sua voz muito carregada, como se ele quisesse chorar, mas tava segurando a onda.

Viviane: É por essas e outras que sua vida não melhora, que você é toda amargurada. Adianta ir pra igreja, fazer novena, ver missa e continuar nisso? — deixamos meu pai no sofá. — Ingrata. Aliás, ingratas. As duas são.

Não olhei pra trás, nada. Só saí e entrei no carro com o Daniel.

Voltamos pra casa dele, passei o caminho todo quieta. Entrei e fui direto pro banho. Chorei como se o mundo estivesse acabando, agachei no chão e ele logo apareceu...

Bala: Bora, preta. Sai daí... — entrou no box também, desligou o chuveiro e me levantou. — Começa com essas ideia não, sai daí. Tu não tem culpa de nada, pacero. Ja te disse....

A minha vergonha era tanta, que eu não conseguia olhar nos olhos dele, eu só conseguia chorar e me sentir culpada por toda aquela situação.

Botei um pijama, enrolei uma toalha na cabeça e deitei, me encolhendo toda.

Bala: Vou jogar uma água no corpo, não vou demorar.

E assim ele fez, não demorou. Antes que eu pudesse sentir falta, ele já tava lá agarrado comigo. Foi uma luta pra eu dormir, mas depois de muita conversa e muitos carinhos, eu apaguei.

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