BALA
Tô de escritório, resolvendo todas as picas que esse morro tem. Bagulho de remédio, de luz, briga de marido e mulher, tudo que se pode imaginar.
Sangue apareceu do nada, botou geral pra ralar e começou a me passar a ideia de uma missão que os caras vão fazer. Entramos em contradição por algumas vezes, já que eu acho melhor subir pela carvoeira e ele quer subir pelo bigode.
Ficamos uma pá de tempo trocando ideia, e como é ele quem manda, a escolha da entrada dele, prevaleceu.
Não tô levando muita fé nessa ideia, tá ligado? Acho que esse bagulho vai dar merda e vamos sair em desvantagem, mas quem sou eu pra discutir com ele? Nunca, pô. Depois, eu digo que avisei.
Sangue: Como tu tá lá com a dona? — lançou do nada, achei meio estranho o papo.
Bala: Tamo tranquilo, po. Mas qual foi? Tá interessado em que? — já me escaldei logo, conheço o eleitorado.
Sangue: Nada, pô. Tá achando que eu tô de fofoca?
Bala: Dá logo o papo. Fica nessa não... — ele tirou o cigarro da carteira e acendeu.
Sangue: Tu tá ligado que ela é ex mulher do Acerola? — concordei com a cabeça. — Tu tá ligado também que eles tiveram um filho?
Eu nem consegui prestar atenção em mais nada que ele tava falando, sangue ferveu, a negativa chegou na hora, consegui nem disfarçar.
Bala: Comé que tu ficou ligado nesses papos aí?
Sangue: Ele deu o papo pros moleque e um deles me falou, sem fofoca, pô. Falou porque te considera e achou que ele tá de maldade ca tua mulher...
Bala: To ligado.
Sangue: Negócio é se manter atento. Não pode confiar em vacilão e nem em mulher, tu tá ligado.
Bala: Suave, po. Vou na direção do Acerola depois, ver qual que é a ideia.
Sangue: Vai não, po. Espera que os bagulho vem pra tu... — fez um toque de mão e saiu de lá.
Fiquei pilhado e isso não é novidade, po. Vagabundo vem, enche minha cabeça de ideia e sai saindo. Quer deixar como? Fodido.
Nem marquei muito lá, peguei a peça, joguei na cintura e saí sem destino, precisava pensar, distrair, porque o bagulho aqui é sinistro, se eu não distrair, faço merda.
Esse é um dos lados do monstro que eu sou, do monstro que tenho que domar todos os dias, pra ser alguém melhor.
Acionei o Lobada e como de costume, fomos tomar uma gelada. A tarde tava pedindo mesmo, nada melhor.
Lobão: Qual foi? Tá bebendo chei de raiva, po. — deu risada e balançou a cabeça em negativa.
Bala: Tá metido a querer entrar na mente de vagabundo, é?
Lobão: Só te conheço, po.
Bala: Tu nunca escutou papo da Viviane com Acerola não?
Lobão: Qual foi, Bala? De novo essa porra? Tu parece até esses novinho, po.
Bala: Pedi pra tu dar opinião de minha conduta não, porra. Papo é reto. Ouviu ou não?
Lobão: Só o que tu já ouviu, que o morro todo sabe. A tua mulher é ex do cara.
Bala: Então, tá safo.
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