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BALA

Troquei uma ideia longa com o Sangue e ele me deu total liberdade pra fazer o que eu quisesse, então, antes que eu fizesse o que mais tinha vontade de fazer, as palavras da Viviane começaram a ecoar na minha cabeça: "não deixa o ódio te cegar".

Saí de lá, e acionei o Lobão novamente, ele fecha comigo pra caralho, tem jeito não. Também convoquei o Rato e o Paiada, pre ficar na escolta.

Passei lá em casa, avisei pra coroa que tava indo na direção da Roberta e ele também me deu mais uma ideia, pediu pra eu segurar minha onda e não fazer nada que me fizesse passar de herói, pra vilão.

Deixamos as moto na garagem e fomos no meu carro. Parei um pouco afastado da base, e fui procurando saber qual que era a realidade deles, tá ligado?

Tinha uma birosquinha aberta, bagulho sinistro, escurão. Mas é assim mermo, qualquer corredor vira bar, pessoal tem que fazer dinheiro, então, tem que dar o jeito deles.

Bala: Boa noite! — o camarada logo se assustou.

X: Bo...Boa noite.

Bala: Dá uma informação pra mim aí, pacero. Tu conhece a Roberta?

X: Hm, Robertinha? — falou com um tom meio estranho. — Conheço sim, mora ali. — apontou. — Se tu chega cinco minutos mais cedo, dava de cara com ela aqui.

Bala: Graças a Deus que eu não cheguei... — fiz o sinal da cruz. — Dá o papo pra mim, tu vendeu o quê pra ela aqui?

X: Uma garrafa de caninha... — ficou meio cabreiro, demorou até pra responder.

Bala: Mermo ligado que ela tá com criança pequena em casa, recém-nascido?

X: Eu não tenho nada a ver com isso não, meu filho. Se o cliente tem dinheiro, eu vendo.

Bala: Ai é que tá o erro. — dei logo um tapão no balcão, bagulho chega estremeceu. Ele arregou os olhos, e deu uns passos pra trás, se esquivando. — Nessa tua ideia aí, que muita criança sofre dentro de casa, tá ligado? Mas tem caô não, nem vim te cobrar. Meu caô é com ela...

X: E-eu... Eu não sei de nada não. — só pelo tom de voz, eu sentia o desespero.

Bala: Nem te perguntei nada pra tu tá dando esse papo. Qual foi? — cresci, né? O vacilão vacilou, deu a deixa. — Agora que tu se emocionou, vai me dar o papo direitinho. Tu tá ligado no que rola la na casa dela?

X: E-eu não sei não, meu filho.

Bala: Sou teu filho não, porra! — bronquei. — Fala logo, rapá. Antes que eu estoure essa porra toda na bala, vamo.

Tem que amedrontar mermo, chegar metendo bronca. Não sou de esculachar morador não, acho errado pra caralho, mas acho mais errado ainda nego ver o errado acontecer e não dar o papo. Só porque o errado, de certa forma, traz um benefício pra ele.

Nem apertei muito o cara não, ele já logo soltou tudo. Deu o papo que a Roberta se vende pra compras as coisas, que as crianças vivem soltas pela vila, quem leva pra escola é o mais velho dos moleque, mas ele trabalha no sinal e chega a noite. Falou também que dá pra escutar quando ela bate neles, que é todo dia, e quanto mais bêbada ou drogada ela estiver, mais porrada eles ganham.

Escutar as coisas que esse cara falava, faziam com que o meu nojo por essa desgraça aumentava.

O cara deu o papo que ela levava um monte de homem pra lá, tá ligado? Que as coisas aconteciam com as crianças em casa, isso não existe. Vai tomar no cu!

Eu tava de cara quente, emoção me dominando mesmo. Sentia meus olhos arderem, mas lembrei da Viviane e da minha avó, até que me meu uma acalmada.

Bala: Bó, Lobão! Vamo estourar aquela porra.

Lobão: Calma, Bala. Teus irmãos estão lá, po. Vamo chegar devagar!

Atravessamos a rua e eu fui direto batendo na porta, vários socão.

Roberta: Calma. Você tá muito adiantado pro seu ho... — parou de falar quando me viu.

Bala: Tô na hora certa mesmo. — pela cara, tava esperando alguém, cheia de maquiagem, um sutiã de oncinha e uma saia preta. — Cadê as crianças?

Nem pedi licença não, já entrei mermo.

Roberta: O que você tá fazendo aqui? Sai da minha casa!

Bala: Cala a sua boca, que eu não vou sair de lugar nenhum não. Vai pra casa do caralho! — entrei olhando tudo.

A casa tava caindo aos pedaços, cozinha cheia de louça, roupa por tudo quanto era canto, telhado com furo. Uma situação que não dava pra ninguém em sã consciência morar, tá ligado?

Bala: Bryan! — ele veio logo correndo pro meu lado e agarrou na minha perna. — Cadê o Callebe? Já chegou?

Bryan: Callebe!! Callebe... — saiu correndo pra um corredor. — O irmão tá aqui! O Daniel, vem cá!

Roberta: O que você vai fazer com meus filhos?

Bala: Tá falando comigo por quê, caralho? Cala a boca.

Callebe: Daniel! — senti um alívio na voz dele.

Quando se aproximou, pude ver várias marcas no braço dele, a boca meio inchada. O sangue logo ferveu...

Bala: Arruma as coisas de vocês, que eu to levando os três pra morar lá em casa. Os documentos também, esse negócio de certidão de nascimento. Cadê a pequena?

Roberta: Você não vai levar meus filhos, Daniel.

Callebe: Tá na vizinha... — falou baixo.

Roberta: Cala a boca, Callebe. — esbravejou e já ia vindo pra cima dele, quando fiquei na frente deles.

Bala: Tu tá achando que tem algum macho teu aqui? Essa porra acabou! Vai tomar no seu cu, vai estragar vida? Estraga só a sua.

Ela ia vir pra cima de mim, quis crescer e eu logo dei um bandão nela, que caiu de costas no chão, fazendo mó barulhada.

Não demorou muito e os meninos já vieram com uma mochilinha, com coisa de escola. Eles nem discutiram, tá ligado? Parece que eu cheguei na hora certa.

Ela ficou chorando, deitada no chão, enquanto o Callebe foi buscar alguma roupa da menorzinha. Ele só tinha 10 anos, mas parecia que tinha uns 30, já que era responsável por todos eles.

Bala: Tá com o documento de todo mundo ai? — Bryan olhava assustado pra ela, enquanto estava agarrado na minha perna.

Callebe: Tá, tá sim.

Botei os dois pra sair na minha frente e quando eu tava saindo, ela deu de maluca de novo, quis me pegar de costas, mas eu não dou mole pra ninguém, vou dar pra ela? Duvido.

Segurei firme na mão dela, virando o braço pro lado, enquanto ela gritava igual a um bicho, pedindo pra eu parar. Quanto mais eu escutava os gritos dela, com mais raiva eu ficava e mais forte eu torcia o braço.

Bala: Tu nunca mais vai encostar a mão nos moleque, nunca mais. Tá entendendo? Tu tá proibida de chegar perto deles. De qualquer um...  Vai ter sempre um homem meu na tua cola, e se vacilar, eu te amasso, te mando pra inferno, sem passagem de volta. — dei um empurrão nela, que caiu por cima do sofá.

Bati a porta na saída e fui com eles até o carro, pedi o Callebe pra me mostrar onde era a casa que a mais nova estava, e eu fui.

Chamei algumas vezes e uma moça veio me atender, me identifiquei, ela ficou meio cabreira, mas depois que viu os moleque na janela no carro, relaxou.

Eu nem tenho jeito com criança, ainda mais assim, de colo. Quando ela me deu pra segurar, minha vontade foi de chorar, tá ligado? Vários pensamentos, várias paradas na mente.

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