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1 MÊS DEPOIS

Depois de tudo feito, documentos entregues, exame admissional feito e tudo dentro dos conformes, dei início ao trabalho.

Dizem que quando escolhemos trabalhar com o que amamos, estamos sempre de férias e essa é a maior verdade que já ouvi na vida. Eu nasci pra ensinar...

Cheguei em casa depois de mais uma dia, tomei um banho e sentei na varanda pra almoçar. Enquanto conversávamos, meu irmão chegou, do nada, (até então, pra mim, era do nada). Continuamos a conversa, ele arrumou comida também e me acompanhou.

Assim que terminamos, peguei os pratos, levei pra cozinha e trouxe umas cervejas pra varanda. O dia tava pedindo e não tem nada demais, né?! Molhar a palavra é bom.

Sentei na cadeira e estiquei as pernas no murinho, ficando ao lado da minha avó e olhando a movimentação da rua, quando o golzinho quadrado do meu pai parou na frente do portão e eu fiquei gelada...

Meu pai entrou pelo portão como um tiro e meu irmão já estava em pé, olhando na direção dele.

Os dois ficaram parados por algum tempo, sem encarando. Parecia que estavam se reconhecendo, sabe? Como nos filmes. Não demorou nada e os dois se abraçaram por longos minutos e começaram a chorar.

Minha avó e eu já estávamos nadando nas nossas lágrimas. Eu ria e chorava, tentando tirar várias fotos daquele momento, mas meu braço só tremia.

Deixamos os dois conversarem sozinhos, resolverem todas as suas pendências.

Aparentemente, foi tudo tranquilo. Já que o João entendia que não foi o meu pai quem o negou, não foi meu pai quem escolheu se afastar dele, sabe? E isso foi um puta diferencial pra eles.

Meu irmão parecia ser tranquilo, trabalhava direitinho, cursava Ed Física na UFRJ, era o filho que meu pai sempre sonhou. E eu sei disso porquê toda as vezes que ele me levou no Maracanã, eu sabia que ele queria estar levando um moleque também, ele ficava vidrado olhando os pais com seus filhos.

Passamos o resto do dia por lá, e eu não queria que aquele momento acabasse. Porém, nem tudo na vida são flores.

Enquanto meu pai foi levar o meu irmão no ponto de ônibus, minha mãe apareceu lá, procurando por ele. Minha avó logo ficou nervosa e eu contornei a situação.

Acho incrível como o sexto sentido de mulher funciona, cara. Minha mãe nunca foi de ir atrás do meu pai, ela sempre cagou, mas é isso. Quando um animal se sente ameaçado, ele precisa se movimentar e traçar uma estratégia, né? Não pode deixar que seu predador seja mais esperto.

Minha mãe não tinha costume de marcar pela minha avó, até porquê, elas se toleravam, só. Então, ela ficou em pé no portão, de braços cruzados, igual a um general.

Meu pai e Daniel chegaram quase no mesmo minuto.

Bala: Acho que deu ruim pro coroa, hein! — falou quando entrou na sala. Me deu um selinho e foi falar com minha avó, ele pedia benção na mão dela e com o meu avô, a mesma coisa.

Jandira: O que foi, meu filho?

Bala: A mãe da Thati... — me olhou e nós rimos. — Tá numa gritaria lá fora com meu sogro, acusando ele de traição e os caralho.

Jandira: Ah, mas eu vou escorraçar essa piranha velha. — deu impulso na poltrona, levantando e se apoiando na bengala.

Osvaldo: Pode sentar, pode sentar! Você não vai em lugar nenhum. Quem vai sou eu. — meu velho tomou frente e saiu pro portão.

Meu avô era como meu pai, um homem calmo até a página dois. Ele gosta muito de resolver as coisas na conversa, mas tem outras que ele prefere resolver no grito.

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