Lobão: Qual foi, po. Para de cudocência, bora que vamo.
Bala: Tu é sem noção nenhuma mermo, hein Lobo. Vou fazer o quê naquela porra?
Lobão: Tá morto, fdp? Não tá. Bora!
Bala: Já é, já é. Mais tarde eu colo lá... — disse na tentativa dele parar de falar, já tava ficando sem paciência com essa porra.
Paguei o Edinho, sacudi a blusa que tava com uma cabelos, dei aquela olhada no espelho e pronto, pai tá na régua, jeitinho que eu gosto.
Cheguei em casa e troquei uma ideia com a coroa, aquele papo de visão, tá ligado? Minha velha nunca dá papo sem fundamento, só papo de melhoria, de progresso e ir na dela é sempre certeiro, bagulho sempre flui.
Joguei uma água no corpo, separei uma roupa e fui arrumar qualquer parada pra comer. Aproveitei que minha tia tava pela área, mandei um primo meu buscar a cerva e ficamos gelando na tranquilidade.
Deu minha hora, me arrumei, joguei umas peças no pescoço, me despedi do pessoal e fui na direção dos amigo. Não teve jeito.
Já cheguei encostando na barraca do Doca, pedi meu copão de 20 e fiquei marolando com os caras, na disciplina, olhando o movimento.
Lembrei da época que eu pegava plantão em dia de baile, era ossada. Dá pra curtir nada, tem que estar sempre atento a tudo e todos, sem neurose. Qualquer bagulho que saia do planejado é doideira, mas como, Deus me deu a oportunidade e tamo aí, crescendo mais a cada dia.
Vi a doida chegar, cumprimentou geral com dois beijos e quando chegou a minha vez, ficamo naquela. Bagulho mó escroto, não dá pra saber se beija ou finge que não se conhece e ela preferiu a segunda opção. Mantive minha postura, tô querendo bolo doido não.
Já tava alto, os moleques estavam bebendo de verdade e eu, pra não fazer desfeita acompanhando, sem erro.
Rato: Quer um lenço, patrão? — veio me gastar, dei logo um tapão na ideia e ele saiu debochando.
Não vou mentir, sou fã de pagode/samba desde menor, tá ligado? Meu avô era cabeça da escola de samba daqui, era o maior incentivador dos caras, tinha um grupo de pagode com os parceiro dele, então, por um bom tempo cresci nisso.
Esses mais românticos não são meus favoritos, mas como, Vitinho é sem igual, não tem como tu falar que não, a voz do cara arrepia e mermo que tu seja o cara mais desapegado do mundo, não tem história, o coração dá aquela balançada.
Peguei mais um copão de 20 e fiquei na minha, eu sabia que ia fazer merda e por mais que eu segurasse a minha onda, não tinha como evitar. Aliás, já tô segurando além do que eu consigo, essa filha da puta tira a porra da minha postura, sem neurose.
Vitinho: "Sei que está difícil entender. Sei é complicado pra você, sinceramente imaginei que iria acontecer, só que decidi deixar pra lá. Tive outras coisas para priorizar, no meu presente eu sorri, mas no futuro ia chorar... — ele logo mandou essa pedrada na minha cabeça, fiquei desnorteado, sem neurose. — E as coisas começaram a mudar, o tempo que eu tinha pra te dar não era o mesmo, agora só no celular pra me encontrar. E quando eu podia atender, falava: Depois ligo pra você. Nem sei se algum dia você vai entender!"
Parece que o filho da puta sabia de tudo, tá ligado? Fez em especial pra nós dois.
Mudei um pouco o lado que eu tava e passei a encarar ela, que tava cantando até com a mão no coração. Hellen viu que eu tava parado na dela, cochichou alguma coisa e eu continuei, cantando e olhando na direção. Um verdadeiro cabaço.
Vitinho: "Olha bem, quanto tempo vai durar dessa vez? Uma noite, uma semana ou um mês? Pra você me ligar ou me atender, eu já sei... Vamos dessa vez sentar e conversar. Vamos ser adultos, tentar superar ou então ficar nesse jogo de voltar e terminar. Não temos mais idade pra brincar."
Ela olhou pra mim e eu arqueei a sobrancelha. Sustentamos o olhar por algum tempo e ela veio na minha direção, o que me deixou sem reação nenhuma, tá ligado? A rainha do orgulho, cedendo...
Viviane: Quer falar comigo? — meteu cheia de marra.
Bala: Qual foi, garota. Tu tem dúvidas? — já botei logo a mão na cintura dela.
Viviane: Tira a mão... — sorriu de canto, me dando a brecha que eu queria. — Você é um filho da puta, Daniel.
Bala: E eu gosto de tu pra caralho, preta. Pega a visão dessa música e fica aqui comigo, pô. Dá uma chance pra nós.
Ela riu e negou com a cabeça, sem tirar os olhos dos meus. Certeza que ela ia dizer alguma coisa, mas eu dei logo um beijão, foda-se.