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carminho

Era quase meia noite. Continuávamos sentados a conversar e a fumar. Partilhávamos a mesma, pois o rapaz não tinha trazido mais.

- Há quanto tempo fumas?

- Há muito. Era miúdo ainda. - Encolheu os ombros. - Depois deixei durante uns tempos. A vida levou-me de volta á má vida. - Os olhos do moreno encontraram os meus.

Vermelhos, um tanto fechados e com o brilho a intensificar-se gradualmente.

- E tu?

- Mais ou menos um ano. Antes fumava por estar na presença de algumas amigas e o clima era propício a tal. Agora acho que ando a fumar mais. - Expliquei-lhe. - Acho que foi o mesmo, a vida levou-me para a má vida.

Acabei por sorrir, pegando no telemóvel. A Íris já me tinha enviado algumas mensagens, já se tinham passado duas horas.

- Se a minha mãe descobre, deserda-me. Ela tem que ter tudo direitinho e no seu controlo, o que não está a acontecer. - Comentei com ele, o pensamento era assustador.

- Nunca deu conta?

Balancei a cabeça, negando.

- Tenho por hábito fumar à noite, depois vou para casa e deito-me. Não há grandes hipóteses de descobrir. Nem desconfiar.

- Tens ar de menina inocente, óbvio que nunca vai desconfiar que fumas.

Soltou uma risada leve.

- Inocente...?

Ele balançou os ombros, novamente com uma expressão divertida e provocadora.

- Estás comigo há duas horas e já pareces ter uma opinião bem formulada sobre mim. - Sem pensar bem no que estava a dizer, olhei para o rapaz, esperando uma reação.

- Não é muito difícil...

- Aí não? Mostra-me do que és capaz, então. - A sua expressão, mostrou desafio.

- Chamas-te Maria do Carmo, o que diz tudo sobre ti. - Esboçou um sorriso animado. - Tens boas notas, tens muita bagagem que mexe com o teu pensamento e com o teu coração. Fumas, na tentativa de encontrar alguma paz. Pela tua aparência, és inocente e demasiado boa e pura nas tuas intenções. As pessoas olham para ti e jamais desconfiariam... Disto.

Abanou os dedos onde segurava o objeto que continha substâncias ilícitas. Esbocei o sorriso mais bobo que consegui.

Isto de estar com a leveza de ter fumado, estava a deixar-me... Maluquinha.

- E então?

- Sou só igual ás outras raparigas todas. - Disse e ele balançou a cabeça sem concordar comigo e com o que tinha dito.

- Não mesmo. Pelo menos as daqui. Artificiais, não há outra maneira de descrever.

- E tu? Como és tu?

- Vais ter que descobrir por ti mesma. - Passou a mão na cabeça e olhou-me nos olhos. - Isto é, se quiseres...

- Veremos. - Encarei o moreno, da forma como ele mais gostava de me encarar.

Depois, apenas olhei para a frente.

Perto das duas da manhã, começamos a caminhar de volta para as nossas casas. Estava bastante ensonada e leve, o que me agradava. A minha única motivação no momento, era saber que tinha a cama à minha espera.

Pelo que consegui conhecer do Ander nestas horas, estava bastante satisfeita. Parecia ter os típicos traços de rapaz calmo, que não se metia em confusões e não dava nas vistas.

No entanto, não o conhecia o suficiente e segundo o que tinha percebido, esta zona podia ser bastante intriguista.

Queria acreditar que não, era tudo o que não precisava de momento.

- Obrigada pela companhia.

- De nada Maria do Carmo. - Semicerrei os olhos, capaz de o esmurrar. - Amanhã à mesma hora? - Sorriu-me.

- Amanhã a Íris está cá, mas sim, devemos ir lá a baixo. - Comentei com o moreno.

- Até amanhã.

- Até amanhã.

Posto isto, entrei na minha casa. Ainda olhei para trás. Sentia-me tão tranquila, que a minha única vontade era sorrir. Não sei que raio tinha metido no que me deu a fumar.

Ao entrar em casa, agradeci mentalmente pelo facto de ter um cão tão bem treinado, que não ladrou uma única vez.

Fiz sinal para entrar comigo no quarto.

Porém, a minha cama estava ocupada por uma loirinha adormecida.

Com cuidado, deitei-me ao lado da pequena, assim como o Tyson. Porém, ela levou as mãos aos olhos e começou a despertar. Olhava para mim, ainda a processar.

- Que se passa Lara? - Murmurei, deixando que se encostasse a mim. - Estás bem?

- Sim. Mas dei conta que não estavas aqui.

- Já estou agora.

- Estás triste mana?

- Não meu amor, já não estou triste. - Sorri-lhe e ela sorriu de volta.

HIGH  ➛  ANDER MUÑOZOnde histórias criam vida. Descubra agora