Carminho
Não tinha controlo do meu corpo.
A rapariga acabou por se desequilibrar dos saltos altos que usava, fazendo com que ambas caíssemos na relva gelada da noite.
Consegui sentar-me por cima dela, levando a mão aberta à cara dela. Senti a raiva dentro de mim, não me conseguia conter. Senti, então, os meus cabelos serem puxados, o cenário mudou e a rapariga estava no poder.
No entanto, senti as mãos de Ester a puxar pela Danna, para que saísse de cima de mim, porém algo aconteceu. Percebi que Valério começou a puxar pela Ester, acabando por Samu fazer-lhe frente e acabarem também numa luta. Naquele momento era pela loira ou pela traição?
Quando me senti minimamente solta, tirei-a de cima de mim com as pernas e levantei-me, pois o Tyson já tinha saído do carro e ladrava muito perto da Danna.
Alcancei a trela dele, levando-o para longe.
A Ester entrou no carro, assim que coloquei Tyson nos bancos de trás. Ao fechar a porta, fui tentada a olhar para trás.
Reparei nos gritos de Christian a implorar para que o Ander parasse. Fiquei chocada.
O moreno esmurrava Valério.
Até que este pegou numa pedra e acertou na cabeça do meu moreno. Sangue deslizava com alguma gravidade, o que me fez correr de novo para o centro da confusão.
Empurrei Valério pelos peitos, ajudando Ander a levantar-se do verde da relva. O rapaz olhava à volta bastante atordoado.
Ao fixar em Valério, tentou jogar-se a ele, embora o impedindo. Enrolei os braços à volta da cintura do Ander, abraçando-o com imensa forma e pousando a cabeça no peito dele. Ouvia as provocações do outro.
Segurava firme o corpo frio dele, enquanto tremia nos meus braços por querer esmurrar o Valério. Todo o Ander tremia, o que me deixou bastante nervosa.
- Por favor, pára. Apenas pára. - Sussurrei, de modo a tentar que me ouvisse.
- Não vales nada! És uma perda de tempo. Nem sei como é que te tornaste num merdas e ainda ficas contra a Danna.
O rapaz gritava.
- Trais os teus amigos desta forma?!
- Eu não trai ninguém! - Gritou, tentando passar por mim. - Só porque não quis perder a minha vida em drogas como tu, não significa que te tenha traído! - Estremeceu, fazendo-me dar um passo atrás pela pressão.
- Que ironia! Para quem andou a dar na branca hoje, estás muito moralista! Ou é para não perderes a miúda? - Gargalhou.
- Enquanto a tua namorada geme o nome de todos os homens deste bairro e depois ainda te vai aquecer a cama, a Carminho é a pessoa com mais caráter e noção que conheço.
Estremeci, inesperadamente, contra ele.
Tentava mantê-lo afastado do Valério, embora fosse bastante complicado.
- Cala-te Ander.
- É fodido não é? Ainda a semana passada foi o Samuel, até a própria melhor amiga ela trai! Na noite anterior tentou dormir comigo! - Gritou e senti algo contra as minhas costas.
Uma pedra voou em direção a Ander, acabando por atingir-me com imensa força.
Ander, assim que reparou, começou a querer passar por mim à força toda. Embora, todos as suas forças estivessem gastas.
- Conta-lhe! Ela mentiu-te em relação ao papá e ainda dizes que tem caterer?!
O Ander manteve-se em silêncio perante a voz alta de Danna. Continuava a tremer contra mim e podia sentir todos os seus músculos salientes, ouvir o quão acelerado o seu coração estava. O Ander estava numa ansiedade enorme
- Não vales nada! - Gritou. - Tens namorado e ainda tentas chantagear-me para me manter o mais longe possível dela.
Uma tremenda confusão.
- E resultou. Não perdeste tempo em humilha-la e por este andar, vai abandonar Madrid com o rabo entre as pernas, depois de tudo o que partilhei com vocês.
- Ela não é como tu. Nem tem nada para se sentir envergonhada. E não Danna, o teu jogo não resultou desta vez.
Soltou uma risada alta.
- Ela nunca te vai perdoar. Ainda mais quando lhe contares onde dormiste hoje.
O rapaz voltou a estremecer contra mim.
Lágrimas escorriam pelos meus olhos. O Valério continuava a rebaixar o moreno, o que aumentava a raiva do mesmo aos poucos, o que dificultava o meu trabalho em agarra-lo. Chega de lutas, de o ver magoado.
Respirei fundo, percebendo o quanto me queria defender. Porém, o Ander conseguiu um momento de fraqueza minha, soltando-se com imensa força contra o Valério.
Ambos caíram no chão de novo.
- Ander, pára com isto. Por favor. - Christian e Nano, que entretanto chegaram, separaram-no do rapaz. - Olha para mim.
O rapaz limpou o lábio rasgado ao braço. Levei ambas as mãos ao seu rosto.
- Olha para mim. Ander!
Os seus olhos arregalados e com veias de raiva, estavam agora presos nos meus. Finalmente, só queria sair daquele lugar.
- Desculpa pelo que fiz. Desculpa Carmo, sinto que arruinei tudo entre nós.
Comecei a ouvir os risos orgulhosos de Valério e Danna, o que me enojou bastante. Perante os olhos do meu menino, apenas disse o que veio à minha cabeça naquele instante.
Só queria mostrar que não tinham razão, que o jogo doentio não resultou desta vez. Que o que ambos sentíamos era real.
- Eu amo-te. E acredito em ti.
(...)
Estou a conseguir escrever qualquer coisinha agora, portanto mais um capítulo para vocês e umas quantas revelações 🙆🏽♀️
O que acham de tudo isto?