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Carminho

Surpreendida com a atitude de Christian, estava há longos minutos encostada à porta de casa, à espera do Ander.

O seu carro estava no jardim, o que me dizia que ainda não tinha chegado a casa. Pretendia, novamente, saber como ele estava, o motivo da confusão e dizer-lhe que estou cansada de tudo o que me tem feito sentir.

Palavras bonitas, para a atitude ser nojenta.

O rumo da conversa podia ser muito bom, como muito mau. Porém, uma coisa era jamais o iria perdoar pelo que fez.

Tínhamos uma ligação bastante forte, confiava e acreditava plenamente nele.

Para quê tantos rodeios?

Comecei a ouvir um carro aproximar-se de mim. Reconheço o bmw preto e desencostei as costas do portão. Quando o moreno reparou na minha presença, desligou o motor e começou a sair do carro lentamente.

Tudo o que formulei na minha cabeça durante os vinte minutos que passaram, estavam agora a passear com o vento.

- É a tua última oportunidade de ser honesto comigo Ander. - Disse-lhe, sem rodeios. - Estou farta dos teus jogos e aquilo que fizeste na festa foi o limite para mim.

- O que é que há para dizer? Já fui honesto, só não é o que queres ouvir.

Autch.

Aquela voz arrastada por tanto ter fumado e a forma agressiva e rude com que proferiu todas as palavras, foram como uma facada.

Até que um sorriso sombrio se formou no rosto dele, quando se encostou ao carro.

Fiquei confusa.

- De qualquer forma, não precisa de mim. Tens quem te leve a casa.

Revirei os olhos, incrédula com o que estava a ouvir. No entanto, tinha a resposta acertada de momento, contra ele.

- Estavas mais preocupado em humilhar-me.

O rapaz engoliu a seco, sabendo perfeitamente o impacto que tinha causado em mim. Os olhos esverdeados suavizaram um pouco, embora na escuridão da noite, nada de novo se fez ouvir e para mim, era o fim.

Estava bastante triste e revoltada com ele. Por toda a sua falta de atitude. Pela mudança total de comportamento. Não era o Ander que voou comigo nos teleféricos, muito menos o que me ofereceu um lugar no seu muro. Algo que não fazia qualquer sentido.

Entretanto, apercebi-me que não tinha o direito de me massacrar de novo por um rapaz, depois de tudo o que permiti no passado. E ele, não valia a pena.

- Confiei em ti de olhos fechados Ander, se este é o caminho que escolhes, é uma ida sem volta e peço que não te arrependas.

Uma pequena descarga elétrica abraçou -me, o que permitiu que fosse mais rude também. Não era de todo o desfecho que imaginei. Porém, se há algo que aprendi, é que a vida mostra-nos o verdadeiro lado de cada um.

As pessoas nunca são o que mostram ser ao início e com o tempo vão revelando o caráter e a personalidade verdadeira,

Balancei a cabeça.

Pretendia que aquela fosse a última vez que o seu olhar aquecesse o meu corpo. Que estar tão perto dele, mexesse comigo e com o que sentia, visto não querer voltar a falar com ele. Talvez, fosse mesmo essa a verdade.

E eu não queria aceitar.

Não queria aceitar que uma pessoa tão - ou achava eu - transparente quanto o Ander e com um sorriso tão puro cada vez que me via, tinha brincado comigo.

- Carminho... Desculpa. Só te falei mal porque foi necessário. Não penso nada daquilo sobre ti e nunca te quis magoar.

- Mas magoaste. Sem necessidade. Tu tens razão, só não quero aceitar que não vales nada.

Proferi, bastante chateada.

- Podes ficar descansado, que não vou procurar mais respostas para o teu comportamento. Mas acredita, não volto a confiar em ti. Soubeste do Esteves e conseguiste nivelar-te.

Cuspi todas as palavras, sem mostrar qualquer vulnerabilidade. Quando na verdade, só queria chorar tudo o que sentia.

Preparei-me para vir costas, ao perceber que o olhar dele se intensificou no meu.

E era exatamente isso que queria evitar.

- Acredita que não é o que quero.

- Achas que já não ouvi isso muita vez? - Elevei o tom de voz. - E acreditei. Perdoei e repetiu-se tudo mais que uma vez!

- Não me compares com esse filho da mae. Não te faria nada do que ele fez.

Até Ander já falava muito alto.

- A sério Ander? O que é que estás a fazer?

Arqueei a sobrancelha, irónica.

Finalmente, ganhei coragem e virei-lhe costas de modo a entrar em casa. Assim que o portão se deixou, lágrimas deslizaram pelo meu rosto, o que me levou a sentar na espreguiçadeira. Os meus dedos procuraram a Íris no telemóvel. E o ecrã marcava as três da manhã.

Não podia ligar-lhe tão tarde, então, apenas deixei uma mensagem no seu telemóvel para a ler quando acordasse.

Íris

Só quero arrancar o Ander da minha vida. Os rapazes são todos uns falsos
Estou farta
Nem acredito que consegui mesmo confiar nele e acreditar que estava a ser sincero comigo o tempo todo. Que burra. Não o quero voltar a ver à frente sequer...

HIGH  ➛  ANDER MUÑOZOnde histórias criam vida. Descubra agora