carminho
De olhos fechados, saboreava o toque carinhoso e suave do Ander. Deslizava os dedos pelo meu rosto, sentado à beira da cama. Senti uma sensação de tranquilidade.
Após a noite atribulada que ambos tivemos, principalmente o rapaz, o facto de ter acordado com melhor cara e estar ali comigo, deixou-me satisfeita e confortável. Precisávamos de dar os passos acertados, agora que estava há cerca de doze horas sem substâncias.
Era importante abstrai-lo, pois a tentação ia crescer gradualmente. A abstinência de drogas pode ser muito traiçoeira.
Levei a mão ao rosto do Ander.
- Como te sentes?
- Nem eu sei. - Murmurou calmo. - Sinto-me minimamente melhor. Falei com a minha mãe, obrigado por ficares. - Segurou ambas as mãos nas dele, mostrando um sorriso.
- Foi tudo menos obrigação. - Sentei-me na cama. - Quando o meu pai começou a ter todos os problemas, também encontrou essa saída. A minha mãe tentou de tudo para o ajudar, assim como eu. Por momentos, conseguimos.
- Desculpa. Nunca quis que passasses por isto, Carminho. Sei que fui um egoísta contigo, com a minha família...
- Desde que não voltes ao mesmo. - Interrompi o rapaz, que se sentou perto de mim. - O pior é quando ajudamos alguém e essa pessoa acaba a desperdiçar a ajuda.
- Foi o que aconteceu com o teu pai?
- Estava drogado quando bateu contra o poste, um pouco de tudo. - Encolhi os ombros, visto a história ainda mexer comigo.
- Lamento... - Sussurrou. - Não quero ter outra recaída. Foi por isso que te liguei.
- Eu sei. Foi por isso que fui ter contigo. E que ainda estou aqui. Quero o teu bem. Gosto de ti, da pessoa que és. Gosto principalmente do que sou e quem sou contigo. Jamais iria virar-te as costas. Mas, por favor, tem cuidado.
- Não te vou desiludir outra vez. - Sussurrou de novo, virando o meu rosto para o seu. - Fizeste de mim uma pessoa melhor, não tenho dúvidas disso. - Levou os lábios as meus.
Um beijo calmo e cheio de carinho se iniciou entre nós. Seguidos por tantos outros, pela sua mão na minha perna também.
carminhof.g
crazy as it is
🤍 738
📍 Madrid
🏷 ander.piperSorri para o telemóvel.
Parecíamos duas crianças do sétimo ano. A foto foi tirada pelo seu irmão. Deitado com o irmão, enquanto este mostrava fotos antigas, Lorenzo parecia bastante animado.
Tinha falado com a minha mãe, pedi-lhe para passar a tarde com o Ander. Ela permitiu, mas as perguntas permaneciam.
Gostava de ficar com ele durante estes dias, ajudá-lo a abstrair-se e a não pensar em drogas e em consumir. Mesmo sabendo que tinha uma mãe presente e preocupada, pronta para ajudar no que fosse necessário.
Sentia-me mais aliviada ao saber que a Alba já sabia o que se estava a passar.
Era mais fácil ir para a minha casa.
Uma longa conversa com Lorenzo sobre nós se desenvolveu, visto que a criança perguntou ao irmão se namorava comigo.
Ele era engraçado, extrovertido e apaixonado pelo mais velho. Tinham uma ligação bonita. A mesma que eu tinha com as minhas gémeas. Os meus lábios desenharam um sorriso, visto que Ander estava a dar em maluco.
O Lorenzo podia ser muito teimoso, provocando o moreno de vinte e três anos. Este acabou por trancar a porta, quando o pequeno de dez anos saiu do quarto.
- Que criança mais louca. - Suspirou, puxando o meu corpo para perto. - As gémeas são mais calmas que ele.
- Têm os seus dias. - Encolhi os ombros. - O teu pai deve estar quase a chegar.
- O que tem?
- Não achas que vai estranhar ver-me aqui?
- Claro que não. És minha namorada, porque haveria de estranhar? - Enchi os ombros. - Ele gostou de ti, logo quando te viu. Só tenho medo que ele repare que não estou bem. - Admitiu, o que me deixou pensativa.
- Achas que se vai chatear muito? - Balançou os ombros, olhando para a frente.
- Não digo que é o chatear, mas sim a desilusão que vai sentir. Sei lá Carminho, fiz tanta merda na minha vida...
- Não importa. Nem vamos pensar nisso.
- Ficas comigo hoje?
- Depende da reação da minha mãe. Vou ter que ir para casa e conversar com ela. Ontem saí sem avisar, passei a noite e o dia fora. - Senti as suas mãos no meu rosto.
- Espero que não arranjes problemas por minha causa. - Forcei um sorriso, visto que me sentia cansada.
Os lábios do rapaz encontraram os meus.
- Então vai, fala com a tua mãe.
- Sim, se calhar vou andando. Ficas bem? - Sai da cama, calçando os meus ténis.
Balançou a cabeça.
Acompanhou-me pela sua casa, até à porta da mesma. Despedi-me da sua mãe e agradeci-lhe novamente pela conversa e por te sido incrível comigo durante todo o dia.
A mulher apenas agradeceu por me preocupar tanto com o filho e por ter estado lá. Após uma troca de sorrisos, sai da casa.
- Alguma coisa liga-me Ander, por favor.
- Prometo. Obrigado mais uma vez Carminho, vou compensar-te por tudo.
Abracei o meu menino, sentindo-me aliviada por ter ajudado. Muito ou pouco, foi essencial para o Ander. Para a sua família.
(...)
🤗🤗