Carminho
Finalmente estava livre da primeira semana de faculdade. A verdade é que não conseguia ouvir os professores a falar espanhol.
Já só pensava em colocar fones nos ouvidos e ignorar tudo o que diziam, achando-me capaz o suficiente para recuperar a matéria através dos apontamentos ou dos livros.
Ainda não o tinha feito, mas faltava pouco.
Parei o carro junto da minha casa, carregando no botão para abrir a garagem. Avistei alguém a colocar-se à frente da mesma. Fiquei nervosa por reconhecer Ander e por este me esperar. O rapaz afastou-se para que estacionasse o carro, esperando-me à entrada.
Respirei fundo, ganhando coragem para sair do carro e encara-lo. Passaram dois dias, nada lhe tinha respondido à mensagem. Ou dito. Apenas fiz a minha vida normal.
- Seja bem-aparecida.
- Olá Ander. Espero não parecer mal, mas o que estás aqui a fazer? - A garagem fechou. Os dois estávamos à frente desta.
- O que achas? Estava à tua espera. - Encostei-me à porta da garagem. - Queria desculpar-me pela mensagem que te mandei e dizer que não vou insistir mais.
Arqueei a sobrancelha.
- Eu sei que estás fora da tua zona de conforto e não quero ser um problema.
- Não és.
- Sou. Não consegues sequer dar-me um voto de confiança. Estás muito presa ao passado. - O rapaz afirmou, o que me deixou triste. - A sério Carminho, gosto mesmo de ti e do que conheci de ti, mas não te quero fazer mal.
- A questão é que não me fazes mal. Pelo contrário. Só quero proteger-me melhor do que fiz antes. Percebes?
- Percebo. Enquanto não cuidares de ti e desse teu coração, não te vou incomodar.
Posto isto, deu-me um beijo na testa.
Afastou-se com um sorriso compreensivo no rosto. Só me quis bater. Odiava o facto de ter a capacidade de estragar tudo o que sinto de bom na minha vida. Não tinha motivos, afinal, não é uma relação séria.
Ele não me deve explicações e eu também não, no entanto, somos livres. Ninguém tinha nada a ver com as nossas escolhas.
Principalmente se faziam parte do passado. Ele tinha razão e eu só fui estúpida.
- Ander! Espera.
Chamei-o, antes dele entrar em casa.
Passei a estrada na direção dele, apoiando as mãos no seu tronco de modo a conseguir beijar os lábios do moreno. Ele ficou surpreendido, as suas mãos seguraram o meu rosto, pois mesmo assim, correspondeu.
- Desculpa por ser tão parva. Prometo que não vou levantar problemas que não existem. - Ele manteve-se estático. - Desculpa.
- Entende uma coisa Carmo, mostrei-te e disse-te mais do que era suposto. Mesmo que queira continuar a conhecer-te, não vou andar sempre a repetir o mesmo.
- Nem quero que o faças.
- Tu sabes que gosto da tua personalidade e que és uma rapariga que me atrai bastante. Já sabes que a Danna faz parte do meu passado e que vai continuar a ser quem é. Ou lidas com a provocação dela ou não vai dar.
- Acho que consigo lidar. Até porque também gosto de estar contigo. - Ele suspirou. Mistura de alívio com frustrado. - O único que te peço, é aquilo que já sabes.
- Podes ficar descansada. Não tive com ninguém depois de nos termos beijado. Nem o quero fazer, ok? Relaxa.
Assenti.
Os seus braços envolveram-me durante longos minutos e logo voltou a beijar-me.
- Sabes que isto se vai saber.
- Não faz mal. Sou livre de fazer o que quero com quem quero. E tu também. Deixa falarem, não me importo mesmo.
- Finalmente entendes. Vão sempre falar. E eu também não quero saber disso.
Mostrei-lhe um sorriso.
Ficamos a falar um pouco sobre a faculdade e o Ander tentava convencer-me em ensinar-me os termos mais difíceis. No meu quarto. Claro que a sua expressão dizia tudo menos, menos o que queria realmente fazer.
Continuava com as mãos no fim das minhas costas, roubando-me alguns beijos enquanto o assunto se prolongava.
E eu estava a gostar bastante.
- Bem, preciso de ir para casa, antes que a dona Graça tenha um ataque.
- Também tenho que ir. Vou jantar com os rapazes e tenho que me despachar. Manda-me mensagem e não mudes de decisão!
- Não te preocupes!
Deixei um outro beijo nos lábios dele. Voltei a passar a estrada para a minha casa.
Ao entrar na mesma, ouvi uma tosse fingida. A minha mãe esperava-me junto à porta. Olhava-me com o sobrolho arqueado e podia jurar que tinha visto o que não devia.
- Só amigo?
- Sim. Acho que sim. Com uns beijinhos. - Ela acabou por se rir. - Mãe, nem eu sei o que está a acontecer, mas gosto dele.
- E ele de ti, claramente. Tirando que é um bad boy.. Qual é o problema Carmo?
Encolhi os ombros.
- Ex namorada que não o larga. As pessoas daqui comentam tudo e mais alguma coisa. Eu só não quero que o façam comigo. Não deixei Portugal para isto.
- Ó filha, ganha tomates e não deixes que te pisem, por amor de Deus. Se sentes que podes confiar nele, faz-te uma mulher.
Arregalei os olhos, extremamente chocada com as palavras da minha mãe.
- Se ele te magoar, fico-lhe com os tomates.
(...)
Tenho os capítulos escritos há uma semana, até ao trinta e nove. Posso publicar tudo de uma só vez? 🥺