Ander
A minha cabeça estava longe do meu corpo.
Sentia-me bastante atordoado, o que me fez encostar a uma das árvores, para me manter de pé. Não queria que ninguém se apercebesse das dificuldades que estava a sentir.
Muito menos na presença da Carminho, que devia odiar-me profundamente. Estava ali, tão perto de mim e nem podia tocar-lhe.
Sentia-me um inútil e um covarde. Aquela noite na festa estava presente na minha cabeça todos os dias. Como fui capaz de a fazer passar por um inferno, perante toda as pessoas, após saber o que viveu antes?
Comecei a ouvir a discussão acesa entre a Danna e a Ester, que rapidamente puxou o lado da Carminho também.
O que me deixou mais consciente.
Tinha fumado demais. Bebido demais. E acabei por cometer um erro com Valério.
Empoleirado ás árvores, tentava aproximar-me de Danna. Completamente furiosa com as duas raparigas juntas, podia tomar uma má atitude, o que não podia permitir. Aproximei-me dela, à medida que gritava por Carmo.
O Valério segurou-me pelos ombros, impedindo que alcançasse a morena, decidida a humilhar a Carminho. Ela prometeu.
- Porque não contas quem és realmente?
Carros continuavam a chegar. Parte da faculdade da Carminho estava no parque, o que iria causar um impacto tão negativo nela, que a depressão podia voltar de novo.
Toda a minha vontade era de apertar o pescoço a Valério e dar um abanão na Danna.
- Estás a falar de quê?
- Não sabes, queridinha? É que... Bem, há anos foi de conhecimento geral. - Irónica, fez o meu coração acelerar num ápice.
- Danna! - Gritei, tentando passar pelos braços de Valério, embora bastante fraco.
- Estou farta de ti e que roubes a atenção de todas as pessoas para ti. Uma gaiata mimada e com o maior ar de sonsa. Conseguiste tirar até o lugar da minha querida Ester.
A loira forçou um sorriso irónico.
- Estou a avisar-te Maria do Carmo, mantém-te longe do meu bairro. - Rosnou.
Carminho
- Mantém-te tu, longe de mim.
Semicerrei os olhos, prestes a perder a paciência. Supostamente faz chantagem com o Ander, ainda trai a melhor amiga e agora quer insinuar que sabe algo de mim?
Não estava capaz de jogar os jogos manipuladores e doentios dela. É possível não a terem enfrentado uma única vez?
- Afinal o que queres de mim?
Ela soltou uma risada alta, dizendo que para o meu próprio bem, devia ficar calada.
- Acontece, queridinha, que não cedo a chantagens. - Cuspi fria, olhando no fundo dos olhos de Ander. - Gostas tanto de rotular, de te sentires no controlo, mas não o vais fazer mais, não comigo Danna.
A rapariga mantinha o típico sorriso provocador no rosto, como se soubesse que ia estar sempre por cima.
Ao contrário de Ester, que estava perplexa com a minha atitude. Tal como eu.
- Tem cuidado com o que dizes...
- Achas que me assusta? Achas que vou andar a submeter-me a ti porque tens o Ander enrolado ao teu dedo? Ou porque tiveste a audácia de ter dormido com o namorado da tua melhor amiga e única pessoa que te suportava? - Aproximei-me da Danna. - És fraca.
Ataquei, a olhar bem no fundo dos olhos dela, para sentir que não tinha medo. Ester, antes de aquecer mais o ambiente, colocou as mãos nos meus ombros e afastou-me.
Pediu para irmos embora, apesar de não ter dado nem um passo. A Danna mostrou-me um sorriso tão... Sádico?
- Normalmente não quebro promessas. Mas vou abrir uma exceção por ti.
- Danna!
Voltei a ouvir o grito de Ander, que se soltou das mãos do Valério e correu desajeitadamente em direção a Danna. Segurou no rosto dela, os olhares presos um no outro.
Balançou a cabeça de uma forma negativa, quase a implorar para não dizer nada. O que a meu ver, foi a gota de água.
- Ó caralho, vais falar ou não? - Agarrei-a pelo braço, para que me olhasse.
O clima aqueceu bastante.
Uma roda de pessoas ia-se formando à nossa volta, o que fazia o sangue pulsar nas veias e os meus batimentos acelerarem.
- Fala!
Após o meu grito, a Danna olhou para mim. As mãos do Valério puxaram Ander.
- Miguel Ferreira Gomes.
Proferiu, deixando-me perplexa.
- Ah, devo continuar? - Ironizou, como se estivesse preocupada devido à minha reação. - Será que sabem quem ele era? Ou o que fez há três anos atrás?
Começou a andar ás voltas, aumentando todo o teatro que fazia desde o início.
- Danna, não te estiques.
Disse-lhe, embora sendo ignorada.
- Danna... Por favor, não faças isto. - O Ander quase chorava, de tão emocional estar. - Fiz-te as vontades todas! Apenas pára.
Como o rapaz interrompeu, a cobaia da Danna esmurrou-lhe duas vezes o rosto.
O rapaz caiu na relva.
- O teu pai é um assassino. - Proferiu, deixando-me completamente paralisada. - Sei bem o que ele fez! O dinheiro que desviou e as dívidas que tinha! Que matou uma pessoa para não ficares a viver por baixo da ponte. E que se matou contra o poste.
Sem conseguir ouvir mais palavras da boca da Danna, atirei-me para cima dela.
(...)
Fight fight fight
A High já vai com 73 capítulos, what am I doing?