carminho
Sentado de frente para mim, entre as minhas irmãs, Ander encantava-as da mesma maneira que tinha encantado a advogada portuguesa. O assunto tornou-se entre eles.
Quando Ander partilhou que jogava basquetebol numa pequena equipa formada na rua, por uma brincadeira entre os adultos/país da vizinhança, a minha mãe rendeu-se. Éramos ambas fãs do desporto, embora a dona Graça e a sua irmã partilharem um passado carregado de vitórias e troféus.
A minha mãe começou a aprender basquetebol desde muito nova com a irmã Alexandra, pois o meu avô costumava jogar também.
- Parece saber mesmo do que fala!
- Sem dúvida. O meu marido era treinador de basquetebol no Benfica. Um clube português, é o deporto da minha família. E inclusive, fez-me conhecer o homem da minha vida.
Fiquei extremamente perplexa com o que tinha acabado de dizer. Senti um desconforto dentro dos meus olhos.
Olhou para mim, abraçando-me com o sorriso mais carinhoso e nostalgia.
Há imenso tempo que não falávamos do meu pai, visto que ultrapassamos uma fase negra há três anos atrás. Foi sem qualquer dúvida, a pior fase das nossas vidas. A minha mãe encontrou-se no trabalho, fazendo dele um refúgio para se proteger do seu psicológico.
Na altura, entre escola e o meu primeiro trabalho, mantive a cabeça ocupada. Para além de cuidar das minhas irmãs, quando a Graça se esquecia de casa durante a noite.
Foi muito complicado, mas fortaleceu-nos.
Segurava um sorriso orgulhoso, falando-lhe do meu pai. Ander, parecia interessado em ouvi-la falar e em conviver com ela.
Senti-me bastante aliviada, principalmente por ouvi-la a falar do falecido marido.
- Bem meninos, vou arrumar a loiça.
Posto isto, deixou-nos um sorriso e levou alguns pratos para dentro. Ajudei-a a levantar a mesa exterior e a restante loiça, juntando-me a Ander no sofá á beira da piscina. Sentei-me a seu lado, um pouco tímida.
O rapaz pousou os cotovelos nos joelhos e olhou para mim com uma expressão alegre, um sorriso tímido nos lábios e os olhos focados nos meus. Senti-me... Intimidada.
- Nunca tinhas falado do teu pai. - Murmurou, rodeando o seu braço na minha anca, para nos aproximar mais.
- Há anos que não falávamos dele. - Olhei para a casa, onde a minha mãe estava.
- Posso perguntar?
Lambi os lábios, acabando por sorrir.
- Acidente de mota. Um carro não parou no sinal de stop e ele tentou desviar-se. Não acabou da melhor maneira.
- Lamento Carminho. Parecia ser boa pessoa, ia gostar de o conhecer.
Senti a sua mão procurar a minha.
Entrelaçou os nossos dedos, o que me levou a encostar a cabeça ao seu ombro. Senti os lábios na minha testa. Fechei os meus olhos, vivendo aquele momento. Aquele sentimento invasor, a aumentar cada vez mais.