carminho
A vibração do telemóvel, por baixo da almofada, começava a incomodar-me imenso, despertando-me aos poucos.
Estiquei o braço, procurando o objeto.
A vibração cessou e quando encontrei o aparelho electrónico, este voltou a vibrar. Abri os olhos com alguma dificuldade, observando a foto de Ander no ecrã do telemóvel. Deslizei os dedos no ecrã e atendi a chamada.
O moreno não falava, apenas ouvia a sua respiração ofegante. Percebi que chorava, algo que me fez levantar da cama. O meu coração a acelerar lentamente.
Tentei chamar por ele, embora não ouvisse um único som do outro lado.
- Eu não quero. Não quero mais isto.
Murmurou, um pouco atrapalhado devido ao facto de estar a chorar. Rapidamente troquei os calções de dormir por umas calças de desporto, vesti uma sweatshirt e calcei-me.
Conseguia perceber que o Ander não estava nada bem, parecia-me bastante aflito. Apenas o imaginava a consumir novamente.
- Onde estás? - Murmurei baixo, saindo de casa num instante. - Ander, estás onde?!
- Carminho... Não aguento mais. Não quero drogar-me outra vez, mas custa tanto passar por isto. Eu preciso tanto de uma dose, só hoje Carminho, só mais uma.
- Não Ander, não precisas de mais nenhuma dose. Onde estás? Por favor, diz-me. Não faças nada, tu sabes que não queres.
- No muro, estou no muro.
Fiz sinal a Tyson para sair comigo, visto que as ruas estavam escuras e assustadoras.
Era quase uma da manhã.
Corri pela rua, sendo sempre acompanhada pelo meu menino. Após chegar ao parque, não estava qualquer movimentação. Agradeci, pois estava um pouco receosa.
Assim que encontrei o Ander, com dois sacos de cocaína ao seu lado no muro, o meu coração parou por momentos.
- Tive que comprar mais.
- Mas não tens que usar. - Baixei-me à sua frente, com as mãos apoiadas nos seus joelhos desnudos. - Ei, olha para mim.
Ao levantar a cabeça, reparei nos olhos inchados e nos lábios secos. O rosto húmido de lágrimas, mas também de suor. Tal como todo o seu cabelo e corpo. Parecia não ter tomado a decisão errada.
Afastei os saquinhos do Ander, segurando as mãos do mesmo. Sabia que estava a precisar de uma dose, mas não podia vacilar.
- O que posso fazer?
Encolheu os ombros, puxando-me apenas para um abraço apertado e caloroso.
Longos minutos se passaram, Ander comentou que não se estava a sentir bem. Perguntei pelas chaves da sua casa, pois precisava de descansar e de tomar um duche refrescante.
Entregou-se as mesmas, guardando no mesmo sítio os pacotes das substâncias. Levantou-se, o que captou a atenção de Tyson.
- Vamos para a minha casa?
- Não sei Ander, o que achas melhor? - O rapaz apenas encolheu os ombros.
Começamos a caminhar para as nossas casas, lentamente. Prestava atenção a cada passo que dava, de modo a perceber como se sentia. Todo o seu olhar estava caído. A expressão mostrava uma tristeza profunda.
Segurei a mão do moreno, mostrando-lhe que não estava sozinho. O rapaz encostou-se mais a mim, o que me deixou aliviada.
Receava que me afastasse de novo.
Acompanhei Ander pela sua vivenda, até entrar no seu quarto. Fechei a porta por dentro, pois o rapaz tinha casa de banho própria. Antes de me pronunciar sobre a situação, reparei que estava agachado junto da sanita.
Esvaziou o seu estômago, deitando-se no chão frio da casa de banho. Estava exausto, nem teve forças para se levantar.
Entrei na casa de banho, rodando a torneira da água quente da sua banheira.
- Chama o Christian.
Olhei para ele, confusa com o que pediu.
- Não quero que me vejas assim. - Lágrimas desciam novamente pelo rosto dele. - Que boa imagem que estou a passar à minha namorada, a ideia é ficar contigo e não te assustar.
- Pára de dizer essas coisas. Achas que te vou deixar quando mais precisas de mim? Sou a tua namorada e quero o teu bem.
Aproximei-me dele, que se sentou contra a parede da casa de banho. Baixei-me á frente do Ander, começando a mostrar-lhe qual a minha intenção naquele momento. Antes de retirar as suas roupas, tirei a minha camisola.
Ele ficou surpreendido, assim como eu.
Lentamente e com a minha ajuda, as roupas do moreno abandonaram o seu corpo. Mergulhou o corpo no quente da água.
Apenas de cuecas, entrei também na banheira, ficando de frente para o rapaz.
Cobri o meu peito com os meus cabelos, para não estar tão exposta. Não tencionava provocar qualquer situação mais íntima. Queria somente faze-lo sentir seguro de mim e do quanto quero estar do lado dele.
- Nunca me vais assustar.
Sussurrei, inclinando-me para ele. O rosto do Ander estava bastante vermelho. Rodei então a torneira da água fria.
Precisávamos de acalmar o seu coração.
Levou tanto a sua mão, como a minha, ao seu peito, mostrando-me o quão acelerado estava a sentir os seus batimentos. Olhou para as calças atiradas no chão, onde a droga estava.
Coloquei a mão no rosto dele, fazendo com que olhasse novamente para mim.