Carminho
Após a animação das irmãs se atenuar pelo facto de ter saído, estávamos a explorar tudo à nossa volta no recinto.
A fila aumentava com o passar do tempo e o interior já se encontrava com imensas pessoas, umas a guardar lugar diante dos palcos, outros a começar os primeiros copos de álcool. Como era uma festa mais anunciada, não conhecia as pessoas por quem passava.
Não era apenas a minha faculdade. Reunia imensas pessoas mesmo, o que fazia lembrar a minha viagem de finalistas.
Fiquei aliviada por sentir que estava rodeada de desconhecidos e que jamais iria ser a miúda do Ander ou a portuguesa que se mudou para a zona há mais de um mês.
O ambiente estava calmo e a vibe era relaxante, o que me encheu de vontade de fumar.
Disse a Luna que me encontrava com elas mais tarde, visto que me ia sentar junto da vedação e fumar um cigarro. A própria assentiu, visto que ainda tinha de encontrar as amigas. Contudo, a Rúbia garantiu que me vinha buscar. Agradeci, afastando-me então.
Sentada contra as grades do recinto, tirei uma ganza muito mal enrolada do meu maço. Acho que não conseguia fumar mais tabaco, devido a saber muito mal. E pelo cheiro intenso que não iria sair dos meus dedos.
Desfrutei do pólen que a Íris me deixou, este que já estava a acabar. As várias músicas foram iniciadas em simultâneo.
Tocava transe numa zona, reggaeton no palco principal e hip hop numa terceira.
Nem sabia qual preferia ou desgostava mais. O que me atraiu no segundo palco, era ver Ozuna e Bad Bunny. Principalmente o segundo. Era o tipo de reggaeton que gostava imenso. As letras mexiam muito comigo.
Após uns bons minutos a fumar, confesso que senti a cabeça bastante pesada. Pouco ou nada tinha comido durante o dia e normalmente, as minhas reações à pedra eram más.
Procurei pela Luna e pela Rúbia, encontrando a segunda a abanar o braço no ar. Aproximei-me, reparando que era um bom lugar para assistir a Bad Bunny. Ia ser a primeira atuação da noite, o que me agradou.
Após conversar com as raparigas, o concerto iniciou-se e mãos pessoas se aproximaram. Ao olhar para o lado, fiquei perplexa.
Com tantas pessoas no mundo...
O grupo ao lado do nosso, não podia ser o mais irónico. Christian, que me acenava feliz por me ver e Nano, que segurava um charro na mão. A conversar com Omar, avistei Nano e perto dele, Danna e Ester. Samuel, abraçado à loira. Todos a cantar Soy Peor.
Respirei fundo, tentando manter-me calma e aproveitar que estava numa festa, com algumas falhas por causa dos efeitos do pólen e também relembrar os conselhos da minha mãe durante a tarde anterior.
Segurei os meus cabelos, balançando o corpo lentamente, enquanto cantarolava a letra. Toda a noite estava quente e o calor corporal se fazia sentir à minha volta.
Voltei a olhar para o lado, reparando que Ander segurava igualmente uma ganza, com os olhos completamente vazios.
Estava encostado a um poste, com os olhos em mim, o que criou uma certa tensão.
Mordi os meus lábios.
A música que invadiu os meus ouvidos foi Amorfoda, que me arrepiou num ápice. Olhava atenta para o rapaz, enquanto este mantinha os olhos em mim, enquanto mexia os lábios com a letra da música bem decorada.
E naquele momento, creio que a minha pedra passou para o lado negativo. A minha vontade, naquele instante, era chegar a Ander e provar o beijo dele. O beijo que tanto sentia faltava. Era torturante estar ali. A olhar para ele, a sentir a tensão entre ambos.
E eu sabia que ele também a sentia.
A minha respiração tornou-se irregular, quando levou a ganza aos lábios, travou e após lamber os lábios, soltou o fumo. Processo que, foi demasiado intenso para mim, devido á ter o olhar intenso dele, preso no meu.
Ele estava a querer testar os meus limites e eu não sabia até que ponto os ia perder. A verdade era que estava louca pelo Ander.
Algum movimento no seu grupo captou a sua atenção, o que me faz suspirar de alívio. Sentia o meu corpo transpirar, o meu coração prestes a falhar, o que me obrigou a procurar um lugar mais largo e respirável.
Tentava acalmar o meu coração.
No entanto, avistei o Ander. Procurou, após os nossos olhares, o mesmo que eu.
Sentia que pouco lhe tinha dito, sobre o que sentia em relação a ele e que fui um pouco fria em relação ás suas demonstrações. Pretendia e já caminhava na sua direção, saber o porquê de se ter afastado de mim.
- Era suposto estares em casa... E não aqui. - O rapaz sussurrou, assim que parei à sua frente, o que não esperava ouvir.
(...)
Juro que ia escrever, mas estou com uma alergia gigante e com uma dor na cervical ainda maior