Carminho
Diante da casa do Ander, não o queria deixar sozinho. A sua expressão perdida, o rosto cheio de marcas e os olhos inundados de lágrimas, o meu coração doía só de olhar.
Segurava o rosto dele nas minhas mãos, enquanto Ester esperava por mim no carro. Os meus olhos não deixaram os dele.
- Fica comigo, por favor.
Sussurrou, bastante fraco e pálido. Ainda há uns minutos tivemos que nos afastar do parque para que vomitasse. Para além de todas as lutas com Valério e a troca de palavras agressivas, os efeitos da droga deram sinais.
Custava-me tanto vê-lo daquela forma. Como pode ter deixado uma rapariga sem escrúpulos manipulá-lo daquela forma? Ele estava pronto para perder a cabeça.
Se, pelo menos, tivesse falado comigo. Sabia a história pela minha boca e não pelo que se fala nas revistas cor de rosa.
No momento, nem sabia o que sentia por ele.
Não sabia se classificava como um ato de covardia por parte dele, se encarava como uma forma de me proteger de um drama.
- Por favor, fica comigo. - Segurou também as minhas mãos, mostrando uma tristeza enorme dentro dele. - Não quero estar longe de ti. Fica, por favor. Carminho...
Ele choramingou.
Senti uma lágrima deslizar pelo dedo que tinha na sua bochecha para que olhasse para mim. O meu estômago revirou-se.
Não podia ficar. Não conseguia. Ainda nem tinha capacidade para processar tudo o que foi falado naquele jardim. Estava a custar-me ter a noção da realidade. Só me sentia magoada pela humilhação e por não me ter contado.
- Tu não vais ficar mais, pois não?
A forma como olhou para mim, começando a afastar as minhas mãos lentamente da sua cara partiu-me o coração por completo.
- Então vai-te embora! Não aguento continuar a olhar para ti e saber que me vais deixar. - Ele baixou a cabeça. - Nunca te quis magoar. Odeio quem sou, por completo.
Dei alguns passos atrás.
Não estava preparada para esta conversa, visto que estávamos ambos vulneráveis.
- Mereces melhor que eu.
Levantou a cabeça, olhando para mim. Reparei que chorava sem se importar. A intensidade do olhar do Ander, deixava-me sem reação.
- Eu sei que o disseste para ficar por cima, mas quero que saibas que te amo. Mesmo. Nada de jogos e manipulações. Já gostava de ti antes da conversa da Danna. Só não queria que tivesses de passar por isto.
- Ander...
- Só quero uma oportunidade para te provar o quanto te quero bem e o quanto te amo. Pensa, vou estar aqui.
Perplexa, apenas entrei no carro.
expositoester
mencionou-te na sua históriasurprise, bitches
👀 10992
🏷 carminhof.gEsbocei um sorriso fraco, perante a fotografia que a Ester havia publicado.
Encontrava-me sentada na cama da loira, sem me pronunciar desde que entrei no carro. Acho que estava em estado choque com o que Danna havia descoberto e feito com Ander.
Pensava que a história estava bem resolvida e escondida, visto que a minha mãe colocou uma imensa pressão nas revistas e jornais, pois não podiam passar informações falsas. Acabou por conseguir indemnização e por ganhar imensos casos em tribunal.
A história deveria permanecer ocultada.
- O meu pai era boa pessoa, só se cruzou com as pessoas erradas numa noite. Assistiu a algo que não era suposto.
A loira ficou surpreendida por estar a desabafar sobre a situação. Olhava atenta para mim, realmente preocupada comigo. Ninguém diria que a primeira pessoa a quem ia contar as más memórias que tenho, seria a Ester.
De todas as pessoas, a Ester.
- Assistiu a uma violação que mais tarde se veio a revelar homicídio. Incriminaram-o, para que nunca falasse sobre o que viu.
- Meu Deus, como assim?
- Ele acabou por falar. Os acusados pagaram à minha mãe para os defender.
Lágrimas subiram aos meus olhos.
- A minha mãe ganhou o caso e o meu pai começou a ser ameaçado, começaram a fazer a típica chantagem emocional com a família e ele não aguentou muito tempo. Espetou-se contra um poste por toda a raiva.
Lágrimas deslizavam pelo meu rosto, pois nunca falei do assunto, depois do funeral. Era o que mantínhamos somente entre a família e de modo a não se tocar no assunto.
- Ele era um bom homem. Mas perdeu-se e isso estava a custar-nos muito.
- O que aconteceu aos culpados?
- O meu pai certificou-se de os acusar de novo, embora sem provas. No entanto, cometeram os mesmos crimes e foram apanhados. Justiça, no fim de tudo, foi feita.
- Alguma. Porque o teu pai continua como culpado pelo que aconteceu e infelizmente nem está cá para se defender.
- Habituamos-nos a viver com este peso, sabes? Principalmente a minha mãe.
- Nem quero imaginar como se sentiu.
Balancei a cabeça, deitando-me na sua cama. A minha chávena já estava vazia.
(...)
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