carminho
Os dias passavam lentamente.
Entre estar com a Ester, a Luna e a Rúbia e com o Ander, pouco era o tempo em casa. Para a minha mãe, até era um alívio, pois trabalhava alguns casos a partir de casa.
Pelo que entendi, estavam a fazer mudanças no escritório. Passava mais tempo com as meninas e na sua própria casa.
Trabalhava num caso delicado, estando sentada no seu escritório em casa, com o Pablo, um colega de trabalho. Enquanto isso, estava a jogar à bola com as minhas irmãs e com Tyson, que ladrava feito louco.
Acabei por me sentar na espreguiçadeira.
Dei longos goles no sumo natural de laranja, procurando pelo meu telemóvel. Encontrei-o a tocar na relva do quintal.
Rapidamente atendi a chamada de Ander, pois já tocava há algum tempo.
- Carmo?
- Olá! Como te sentes hoje?
- Mal... Acho que está a ser o dia mais difícil, dos quatro que já passaram. Achas que podes vir ficar comigo? - A sua voz baixa e arrastada, fazia-me crer que estava realmente triste. - Por favor mi amor?
- O que estás a fazer neste momento? Se quiseres vem ter comigo e ficamos a conversar e a sonhar sol. É uma forma de distração.
- Não me leves a mal... Mas não quero mesmo sair da cama hoje. - Suspirou.
- A minha mãe está com um colega de trabalho, não posso deixar as minhas irmãs sozinhas. - O rapaz voltou a suspirar, embora deprimido. - Ó bebé, não fiques assim. Quando ela acabar, vou ter contigo. Pode ser?
- Sim... Vou tentar dormir para o tempo passar mais rápido. Desculpa estar a ligar, só me sinto depressivo...
- Eu sei e desculpa por não conseguir ir. Assim que conseguir, prometo que vou.
- Por favor.
- Fica calmo Ander, o pior já passou.
Desligamos a chamada.
Confesso que me sentia bastante desanimada, após a conversa com o rapaz. Gostava de estar com ele e de o encher de mimos.
O meu estado de espírito mudou radicalmente com a chamada, não havia como negar.
As horas pareciam não passar. Desejava que a minha mãe acabasse de analisar o caso. Acabei por dar banho ás gémeas, até ao Tyson e a mim mesma. Uma hora e meia. Ainda coloquei uma lasanha a cozinhar no forno.
Tudo preparado, para ir dormir com o Ander, o que mais queria no momento. Abraçar-me a ele e dar-lhe mais segurança e alegria.
Perto das oito e meia da noite, a minha mãe saiu por fim do escritório. Sentada no sofá com as meninas a jantar, acenei a Pablo. O homem, com os seus quarenta e pouco anos, gesticulou de volta e saiu da vivenda.
A advogados portuguesa serviu-se de lasanha e sentou-se junto a nós na sala.
- E então mãe? Como está a correr?
- Cansativo e confuso. Já nem pego nos documentos hoje. Só quero tomar um duche e ficar a ver as novelas. - Soltou uma breve risada com o que havia dito.
- Fazes bem. - Terminei de comer, colocando o meu prato na máquina de levar. - Mãe? Achas que posso ficar com o Ander?
Elevei o tom de voz, visto que falava da cozinha e a minha mãe estava um pouco longe.
- Como é que ele está?
- Mais ou menos. - Disse-lhe, encostada à parede ao lado do sofá. - Ele acha que hoje está a ser mais difícil. Sente-se deprimido. Gostava de passar a noite com ele.
- Por mim, estás à vontade. Mas amanhã tenho de ir ao tribunal ás onze e meia.
- Eu acordo, não te preocupes.
- Tens mesmo que acordar filha, não posso faltar à audiência. - Assenti, percebendo. - Vou deixá-las com a Maria depois de amanhã, para brincar com os filhos dela.
- Boa, isso é ótimo para elas. Também já devem estar fartas de estar comigo.
As gémeas concordaram.
Soltei umas gargalhadas perante a reação das minhas irmãs, acabando por subir para o meu quarto. Preparei uma mochila, onde coloquei o essencial para a minha higiene. Já estava mais que preparada para a noitada.
Provavelmente o Ander passava o tempo a dormir, devido a ser mais fácil para ele. Menos doloroso também. Acreditava que brevemente ia começar a sentir-se melhor.
Perto das nove e um quarto, toquei à campainha da casa do moreno. A porta foi-me aberta numa fração de segundos.
- Carminho, por aqui?
- Sim! O Ander pediu-me para ficar com ele, mas acredito que deve ter adormecido. - Olhei para a Alba, percebendo que ia levar o lixo, daí ter aberto logo à porta.
- Entra na mesma, ele vai gostar de saber que estás aqui. - Mostrei-lhe um sorriso. - Vai, fica à vontade mesmo.
- Obrigada Alba!
Passei pela mulher, entrando na sua casa. Subi rapidamente as escada.
Com cuidado, afastei a porta do quarto do Ander, ouvindo a sua respiração baixa e calma, o que me deixou mais relaxada.