carminho
Deitados nos bancos da frente do carro, estes deitados ao máximo, não conseguia desviar os meus olhos do Ander.
Ainda sentia o calor dos lábios dele no meu pescoço, do aperto das mãos na minha pele. Há uns longos minutos que estávamos em silêncio, que apenas nos encarávamos. Sentia-me a ficar cada vez mais tímida.
A forma como ele me olhava, podia jurar que me estava a ler a mente. O que era grave, muito grave dar voz aos meus pensamentos.
- Estás tão calada.
- Como tu. - Sorri-lhe levemente, sentindo os dedos dele no meu cabelo. - Estás a pensar no quê? - Fechei os olhos.
Gostava bastante do toque dele. Fosse ele mais intenso ou mais carinhoso.
- Nada demais. E tu?
Pousei a mão na dele. Ambos observávamos agora os nossos dedos a dançar uns nos outros, diante dos nossos rostos. Mordi os meus lábios só de olhar para ele.
Não sabia o que me estava a acontecer, mas só pensava em voltar para os bancos de trás. Ter a hipótese de acabar com o que começamos, mas não queria dar a entender. Nem podia. Apesar de, inevitavelmente, tudo nele me provocar.
E nem era preciso tentar fazê-lo.
Era bom sentir um toque carinhoso. Sentir que alguém nos deseja. É uma sensação agradável e era o que precisava de sentir.
Mesmo que não fosse numa relação. Depois do que passei, só quero sentir isto.
- O que é que te aconteceu?
- Como assim?
- De verdade. Já me explicaste que foi uma relação má, mas em que sentido? Também não tive as melhores experiências, mas noto tantos receios da tua parte.
- A culpa acabou por ser minha. Questionei muitas vezes o porquê de merecer o que passei, quando na verdade... Apenas deixei.
- Não tiveste culpa.
- Claro que tive Ander. Tinha a decisão, o poder de sair da relação e continuei.
Ele manteve-se em silêncio.
- Tínhamos pontos de vista diferentes. Pensava que os nossos objetivos eram os mesmos. Sei lá Ander, agarrei-me a uma ilusão que criei e dei por mim a perder-me por completo. Insultos e humilhações... Foi complicado.
- E agora?
- Agora... - Balancei os ombros. - Olho para trás e percebo o quão infeliz estava. Não há paixão, não havia cumplicidade.
- Quando se perde isso... As coisas nunca são as mesmas. Perde-se o sentido, eu acho.
- Basicamente.
- Seja o que for que te aconteceu, tenho a certeza que não mereces. Pelo contrário, quero encher-te de beijos e tocar-te de uma ponta á outra cada vez que olho para ti.
Fiquei extremamente chocada.
Os seus dedos deslizaram pelo meu rosto, o que me levou a fechar os olhos.
- Já fui traído. Várias vezes. Tornei-me no que sou hoje. Não consigo estar com uma pessoa ou sentir o que quer que seja. E neste lugar, bem, não podes confiar em ninguém.
- Isso também não é bom. Brincas com o que as pessoas sentem, só para te satisfazeres.
- Não sou o único. Acredita Carminho, o grupo de pessoas com quem vais conviver nesta zona, não são os melhores exemplos.
- Nem tu?
Visto que tínhamos, quase, feito algo indecente no bancos de trás do meu carro, a conversa não me estava a agradar muito.
Queria conhecê-lo também. Aliás, as sensações que me passava, eram exatamente o que estava a precisar de sentir. O desejo, a admiração, até a preocupação em fazer-me sentir bem. Senti-lo de novo, era bastante bom.
- Vais ouvir falar muito de mim. Algumas coisas vão ser verdades, outras não. - Encolheu os ombros. - Não sou santo.
- Ok...
- Mas não pareces estar preocupada com isso e creio que queres o mesmo que eu.
Mantive-me em silêncio.
- Sentir algo. E eu já sinto algo quando te vejo, só não sei bem o quê. És simples e isso torna-te ainda mais bonita do que és.
- Ander... - Sorri-lhe envergonhada. - Para com isso, estas muito... Transparente.
- É suposto ser assim, certo?
Assenti, concordando com ele.
O rapaz inclinou-se para mim, voltando a tocar no meu rosto com a mão.
Os seus lábios desafiaram os meus num beijo longo, embora calmo. A vontade de me sentar no seu colo aumentava com cada beijo.
- És viciante. - Sussurrou, mordiscando o lóbulo da minha orelha. - Extremamente. - Ele sussurrou novamente, beijocando a minha cara e pescoço levemente.
- E tu Ander, e tu.
(...)
Só mais um hoje 😇