carminho
O pior de ter sono leve, era isso mesmo.
Acordava com qualquer barulho mínimo, mesmo que fossem as unhas do Tyson no chão ou um simples pássaro a cantarolar. Estava um pouco dormente, mas apercebi-me que estava a ouvir gritos bem longe.
Sentei-me na cama, procurando o telemóvel na mesma. Ao encontrar, desbloqueei-o, de modo a ver as horas.
Eram cinco e pouco da manhã.
A dor de cabeça era enorme, visto que chegamos a casa ás três da manhã. Sentia todo o meu corpo dorido, só queria dormir. Cansaço era gigante dentro de mim.
No entanto, ouvi um estrondo. O Tyson começou a ladrar para a janela do meu quarto e a Íris despertou assustada.
Apressei-me a chegar à varanda na tentativa de saber o que estava a acontecer.
Estava um grupo de rapazes à porta de casa de Ander. Reconhecia Nano, algumas caras dos que me cruzei na festa de Danna e a própria no local também. Acompanhada por uma loira, que tentava levá-la.
O Ander tinha um corte na sobrancelha e um outro rapaz estava a ser agarrado. Entretanto, a Danna gritou e logo, observei o Ander a atirar-se ao rapaz à sua frente.
Uma luta começou a intensificar-se entre eles, chamando a atenção dos vizinhos.
As luzes exteriores acenderam-se.
Sai rapidamente da varanda, descendo as escadas atrás de Tyson que ladrava aflito. A minha mãe já estava acordada, pronta para sair de casa. O que me levou a seguia-la também.
Ao abrir a porta, encontrei o Ander estendido no chão, um homem a gritar e o grupo a correr pela rua abaixo.
A própria Danna fugiu com a amiga.
Quando o homem levantou Ander, percebi que tinha sido atacado por mais que um.
- Ei.. Ander, estás bem? - Sussurrei, ao passar a estrada. - Boa noite. - Saudei o senhor, possível pai do moreno magoado.
- Cobardes. Tirei três de cima do meu filho.
- Não foi nada. - Defendeu-se, afastando-se do seu pai de forma bruta. - Estou ótimo. Acabou o espetáculo. - Gritou, gesticulando com as mãos no ar, para os vizinhos à janela.
Sangrava também do lábio e tinha a camisola branca rasgada. Um dos braços arranhado das pedras da calçada, onde tinha caído.
- Por amor de Deus, vamos para casa.
- Deixa-me em paz. - Respirou pausadamente, apanhando o telemóvel do chão.
O homem atirou os braços ao ar, desistindo de tentar ajudá-lo. Entrou dentro da vivenda. Não tardou muito até as luzes se apagarem. Por sua vez, a minha mãe aproximou-se.
- Rapaz, é melhor ires descansar.
O mesmo manteve-se em silêncio, enquanto procurava algo na carteira. Provavelmente, era o que estava a pensar.
- Bem, vamos para casa Carmo. - Pediu-me, no entanto, não me mexi. - Carmo!
- Vou já mãe, dá-me cinco minutos.
Embora contrariada, entrou em casa. O Tyson acabou por sair, quando ela entrou, visto que o facto de saber que estava cá fora, deixava a sua ansiedade descontrolada.
Ele ficava bastante inquieto quando não estava no mesmo espaço que ele, mas conseguia ouvir a minha voz.
Sentou-se ao meu lado.
- Ander...
- Pára Carmo, não preciso da tua preocupação, vai para casa e deixa-me sozinho.
Chutou uma pedra, bastante chateado.
- O que queres? Possa, o que foi?!
- Pára de me falar assim! - Elevei o tom de voz, indignada. - Não descarregues em mim. Estou só preocupada contigo.
Revirou os olhos.
- Embora não mereças. Perda de tempo.
A sua expressão suavizou quando refletiu no que lhe tinha acabado de dizer. Chamei o meu cão, passando a estrada.
Logo, ouvi passos atrás de mim. Senti as mãos frias e ásperas do moreno no meu braço, o que me fez parar de andar. Ouvi o rosnar do Tyson, virando-me para trás.
Os olhos brilhantes do moreno chamaram-me à atenção num ápice. Suspirei.
- Podemos ir fumar? E ficar em silêncio?
Olhei para baixo, reparando que usava apenas uns calções curtos e uma tshirt. Uns chinelos e o cabelo preso no cimo da cabeça.
Ao perceber, o Ander dirigiu-se ao carro e tirou dos bancos de trás um casaco.
- Desculpa ter falado mal.
Murmurou, enquanto subíamos a rua.