Eu não sabia o que fazer, eu não queria ter outro filho, não tinha condições psicológicas e muito menos financeiras, aquilo tudo que eu estava vivendo parecia um pesadelo.
A audiência do Rodrigo se aproximava, a mãe dele já tinha gasto muito dinheiro com advogado que se aproveitava da nossa ignorância, desespero e inexperiência e pedia dinheiro mesmo sem ter feito nada.
Um dia era para xerocar o processo, outro dia era para ir até o Fórum e assim ele tirava quantias mensalmente, as vezes quinzenalmente, alegando estar trabalhando, quando na verdade nada foi feito.
Eu já tinha começado a apertar a barriga com a calça, estava morta de vergonha pela minha situação, me sentia tão culpada, como se tivesse cometido um pecado enorme, não queria pensar nos julgamentos e nas palavras que teria que ouvir, eu só pensava em sumir.
No dia da audiência fomos de ônibus, eu, minha sogra e Rodrigo.
Essa situação criava um distanciamento entre eu e ele, a gente não conversava sobre e eu criava um ódio dentro de mim, sempre que eu olhava pra ele pensava que a culpa de tudo que eu estava passando era dele.
No caminho fomos combinando mais ou menos o que ele deveria falar pro Juiz. Eu não poderia entrar na sala nem pra assistir, só entrava o réu acompanhado da mãe ou do responsável e eu só saberia o resultado no fim, depois que tudo tivesse acabado.
De certo modo nós fomos confiantes, na garantis que depois dos 18 anos ninguém poderia ser preso por algo que havia cometido quando ainda era menor de idade.
Combinamos que Rodrigo iria se declarar inocente e eu pelo menos, acreditava em sua real inocência.
Na entrada do fórum entregamos nossos documentos e eles mostraram onde seria o julgamento.
Entramos no elevador, saímos num corredor e vimos uma sala de tamanho médio com algumas cadeiras de plástico, fomos até a porta de entrada, essa sala era de espera. Quando pisei do lado de dentro da sala e olhei para as pessoas que estavam sentadas, não acreditei! Valdir e Reginaldo ocupavam duas cadeiras do lado direito da sala. Minha sogra entrou, Rodrigo em seguida, ela se virou pro Rodrigo e perguntou
- O que será que eles estão fazendo aqui?
O desconforto dos dois quando me viram, criou um clima de imediato, eles se entreolharam e começaram a querer levantar, não cumprimentaram a mim e nem ao Rodrigo.
Quando a mãe de Rodrigo fez a pergunta, também olhei pro Rodrigo que respondeu
- Oque vc acha?
A resposta dele foi o que faltava pra eu surtar.
Olhei pro Valdir e comecei a xingar ele dentro do fórum:
- Vai seu pilantra! Cagueta! Dedo duro morre cedo, viu?
Eu olhava pra ele e pro Reginaldo que ficou bravo, chamou Valdir pra sair da sala resmungando e querendo se defender, mas não tendo como.
- Olha o que essa mina tá falando aí parceiro!
Valdir não respondeu nada, os dois levantaram e sairam da sala, não aguentaram pressão pelos desaforos que eu tava gritando, fazendo todo mundo envolta olhar pros dois.
Cerca de uma hora depois eles voltaram acompanhados de um segurança e uma funcionária e sentaram no fundo da sala.
A mãe do Rodrigo implorou pra eu ficar quieta
- Não fala nada, por favor, pelo amor de Deus, se não é você quem vai sair presa daqui.
Meu olhar falava mais que mil palavras, encarei eles o tempo todo.
Eles foram chamados pra sala do Juiz, Valdir entrou primeiro e Reginaldo ficou do lado de fora sentado na primeira cadeira ao lado do segurança.
Chegou a mãe e a irmã do Macaíba, cumprimentaram ele e também sentaram nas primeiras cadeiras.
Valdir saiu, Reginaldo entrou, seu depoimento foi mais rápido que o de Valdir.
Quando saiu, Reginaldo olhou pra família do Macaíba e se despediu balançando a cabeça, notei que a irmã do finado respondeu, Valdir não se aproximou e nem se despediu de nenhuma delas, o segurança acompanhou os dois até a saida.
A mãe do Macaíba foi chamada, deu seu depoimento e saiu da sala triste e a irmã saiu chorando, foi demorado o depoimento delas.
Assim que ela saiu minha sogra foi chamada pra entrar com Rodrigo, só que ele foi recolhido junto com outros menores e separado da gente.
Depois de meia hora levantei e olhei dentro de uma sala, vi Rodrigo com as mãos pra trás entrando por um corredor que devia ter acesso a sala do juiz.
O depoimento dele foi rápido, logo a porta se abriu e minha sogra saiu, esperei por Rodrigo mas me liguei que nenhum dos menores saia por aquele lado.
Eu já estava de pé, olhei pra ela de longe e perguntei
- Por onde ele vai sair? - já me direcionando pro corredor que eu tinha visto ele passar.
Não ouvi a resposta dela, olhei pra ela novamente
- Ele vai ficar aqui.
- Que?!
- Eles disseram que ele vai ser recolhido.
Não esperei para ouvir mais nada, corri em direção daquele corredor e vi ele em fila sendo mandado sentar em cima das mãos encostado numa parede.
Uma mulher tava sentada na entrada, numa mesa colocada do lado de fora, passei por cima dela:
- Rodrigo! Rodrigo!
- Senhora, você não pode entrar aqui, senhora!
Rodrigo olhou pra mim e eu olhei pra ele chorando
- E agora Rodrigo?
- Não sei
- Pra onde eles vão te levar?
- Não sei o que vai acontecer comigo.
- Sai daí Rodrigo, vamo embora.
- Não posso, eu tô preso.
Olhei no fundo do corredor, um segurança vinha em minha direção.
- Vai com Deus Rodrigo.
- Cuida do nosso filho por mim.
- Rodrigo?!
Ele me olhou segurando as lágrimas
- Eu tô grávida.
Só disse isso e ouvi o segurança pedindo pra que eu me retirasse, enquanto a funcionária contava que havia me avisado que não podia e bla, bla, bla...
Sai de lá passada.
Minha sogra parada na entrada da sala chorando
- Vão levar ele pra onde?
- Acho que eles ligam pra avisar, não ligam?
- Melhor perguntar.
Ela saiu e foi falar com a funcionária
- A moça disse que é a gente que tem que ligar.
- Tá bom.
Tentei ficar ali até a hora que levassem ele, mas a funcionária vendo meu sofrimento me disse que eles saiam num carro pela parte de baixo do fórum e que eu não conseguiria mais falar e nem ver o Rodrigo se ficasse ali. Me dei por vencida e fui embora, sem saber o que fazer e nem como seria dali por diante.
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Rejeição e Vingança
RomanceHá pessoas que, longe de virar a página depois de uma decepção, uma rejeição ou o que elas interpretaram como uma injustiça, alimentam esse ódio chegando até mesmo a planejar uma forma de devolver o desgosto.