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Rejeição e vingança
Parte 70

Peguei meu filho e arrumei nossas roupas em uma mochila e saí.
Enquanto andava pela rua comecei a pensar
"Oque eu fiz da minha vida?"
Sem ter um lugar que eu pudesse ir com meu filho, decidi ir até a rua da minha antiga casa, a mesma que ela havia me induzido a pegar todos os móveis.
Vi uma árvore e decidi me encostar ali.
Depois de um tempo, começaram a aparecer pessoas conhecidas e então começaram a surgir as perguntas:

- Oque você tá fazendo sentada com essa mala aí?

Eu sabia que não adiantava mentir, então contei a verdade pra cada um que me perguntou:

- Minha sogra me botou com meu filho pra fora de casa.
- Mas como assim? Você vai ficar onde?
- Aqui mesmo, na rua.
- Você não tem mãe que possa te ajudar? Algum parente? Alguma amiga? Cadê seu marido?
Eram tantas perguntas, mas ajuda não chegou nenhuma.

As horas do dia foram passando e algumas colegas deram almoço pro meu filho, banho, mas ninguém podia me ajudar no que eu mais precisava: Um teto.
A noite caiu e meu filho adormeceu nos meus braços, era difícil segurar ele no colo por causa do tamanho da minha barriga, mas mãe sempre dá um jeitinho pra tudo.
Passei alguns dias nessa situação, comendo e tomando banho na casa de algumas amigas e dormindo sentada de baixo da árvore, não foram tantos, mas foram suficientes para nunca mais esquecer.
É muito triste não ter um teto, é mais triste ainda pensar e não conseguir uma resposta pra entender o porquê de estar passando por tudo aquilo.
Qual foi o meu erro? Ter filhos? Eu não tinha matado, roubado ou feito nada de errado. Não conseguia entender.
Não demorou muito pra minha mãe ficar sabendo que eu não estava mais morando na minha sogra e ela veio me procurar:

- Você tá morando onde?
- Na casa das minhas amigas. (Eu não tive coragem de contar tudo que eu estava passando)
- Olha, pega as suas coisas e vai lá pra casa pra gente conversar.
- Tá bom, mãe. Na hora do almoço eu vou lá.

Pensei bastante se deveria ir ou não, mas não tinha saída, meu bebê já estava querendo nascer e eu não tinha onde ficar.
Peguei minha mochila, o meu filho e fui. Era tudo oque eu não queria, voltar pra casa da minha mãe e o pior: com uma mão na frente e outra atrás.

Assim que cheguei, ela me disse que eu poderia ficar, me ofereceu o quarto que já havia sido meu e me instalei com o Danilo.
Era uma cama de solteiro pra uma grávida e uma criança, mas qualquer coisa era melhor que dormir no sereno.
Dias depois fui para o hospital ganhar bebê, nasceu minha filha que quase morreu no parto, pois passou da hora de nascer.
Foi um parto muito difícil, cheio de complicações, mas meu bebê não teve sequelas.
Assim que voltei pra casa, pedi pra que minha mãe fosse na casa da minha sogra buscar meu enxoval, buscar o resto das minhas roupas e foi aí que eu descobri que a mãe do Rodrigo havia vendido os meus móveis e parte das roupas e edredons da minha filha.
Eu não podia acreditar que isso tivesse acontecido,  resolvi ir pessoalmente falar com ela.
Cheguei na casa e ela com medo nem abriu o portão pra que eu pudesse entrar, respondeu que doou meus móveis porque eu tinha "largado as coisas lá" e ela queria espaço no quintal dela.
Resolvi não brigar, eu não queria passar mais nervoso com medo de secar meu leite.
Pedi pra que ela entregasse minhas roupas e ela colocou tudo em sacos pretos de lixo e pediu pra filha dela me ajudar a carregar.
Perguntei sobre os edredons e ela me disse que eu tinha muitos, então ela doou pra alguém que passou na rua com uma criança e não tinha nada.

Peguei aqueles sacos pretos com as minhas coisas e saí carregando, a irmã do Rodrigo foi comigo, depois eu traria ela de volta, esse foi o combinado.
Subi a rua carregando aquele peso, com muito sacrifício, as lágrimas escorriam em meu rosto.
Quando cheguei na avenida ouvi alguém chamar meu nome. Olhei e vi o farol de uma moto avançando pra cima de mim, era Valdir.
Não faltava mais nada na minha vida, eu no fundo do poço e logo o Valdir que a tantos anos eu não via, foi aparecer.
- Fala logo oque você quer que eu não tenho tempo pra perder com você não!
- Tudo bem com você, Renata?

Ele não tinha mudado nada, estava apenas um pouco mais magro, mas de resto estava exatamente igual.

- Vai falar oque você quer ou não?
- Essa é a irmã do Rodrigo, não é?
- É... E daí?
- Olha, eu sei que você tem muita raiva de mim pelo que aconteceu, mas...
Eu queria te dizer que...
Eu quero saber se você pode me perdoar?
- Oque?!?
- Me perdoa Renata, por favor.

Fiquei ali parada ouvindo ele me dizer como tinha sido sua vida naqueles anos.

- Não valeu a pena nada do que eu fiz, minha mãe morreu e eu nem pude ir no velório. Não sei se você sabe mas eu fui preso também pela morte do Macaíba. Passei um bom tempo na prisão e hoje sou outro homem, sou um homem de Deus, estou indo na igreja.
Só queria que você soubesse que eu me arrependo e que não valeu apena nada do que eu fiz, pois ele não ficou com você mas eu também não fiquei.
- Você está me dizendo que fez tudo de caso pensado pra poder ficar comigo?! Você não destruiu só a sua vida não...
Eu tive que criar meu filho sozinha,eu acabei de ter outra filha que nem conheceu o pai!
- Eu sei, eu acabei com a vida dele também, eu destruí na verdade três famílias... A minha, a do Macaíba e a sua...eu tenho consciência do que eu fiz!
- Então vai pedir perdão pra Deus, Deus é que perdoa, não eu!
- Eu estou aqui de coração aberto, ainda que você não me perdoe, eu precisava te falar isso.
- Me responde uma coisa que eu preciso saber?
- É claro.
- Foi o Rodrigo que atirou no Macaíba?
- Ele nunca te falou sobre isso?
- Não.
- Então desculpa, mas isso eu não vou poder te responder.
- Como não? Vocês todos foram presos, todo mundo já pagou, porque você não pode me falar?
- Eu pensei que você soubesse que aconteceu naquele dia...
- Mas eu não sei!
- Se você quer realmente saber o que aconteceu naquele dia, você pergunta pra ele. Ele pode te contar como foi.
- Tudo bem, só faz um favor pra mim?
- Oque você quiser.
- Quando me ver na rua, finge que não me viu, ok? Faz de conta que a gente nunca se conheceu e me poupa de ter que olhar pra essa tua cara.
- Pode deixar... Eu prometo que nunca mais vou falar com você ou com alguém da sua família.
- Eu agradeço!
Virei as costas e fui embora, deixei as coisas em casa, levei minha cunhada de volta.
Fiquei pensando em tudo que Valdir me falou e decidi que faria essa pergunta outra vez ao Rodrigo.
No dia da visita, arrumei meus filhos, me arrumei e subi na delegacia.
Não me deixaram entrar com as crianças, meu bebê era recém nascido e o máximo que consegui foi que tirassem Rodrigo da cela pra conhecer a pequena, coisa de 5 minutos ou menos.
- Essa parece com a mãe, realmente ela é a sua cara.
Como estão as coisas lá em casa? Eu nem fiquei sabendo que você foi pro hospital, minha mãe me disse que você foi pra casa da sua mãe, tá acontecendo alguma coisa? Eu não entendi nada...

Não tive tempo pra responder, nem para explicar, levaram Rodrigo de volta pra cela.
Voltei pra casa, minha mãe me esperava na sala:
- Eu vou ser bem clara com você, se você quiser morar aqui na minha casa pode esquecer de Rodrigo, eu não criei filha pra estar em porta de cadeia, a partir de hoje não quero ver carta, nem bilhete do Rodrigo aqui, está entendido?

Fiquei quieta, era muita coisa pra eu pensar, entrei pro meu quarto e fechei a porta.
No dia seguinte fui na casa da minha sogra, eu precisava de ajuda pra registrar minha filha, o Rodrigo tinha que assinar um documento, tipo uma autorização.
Ela me olhou e respondeu:
- Tenho uma proposta para te fazer... Se você deixar o Rodrigo e não for mais visitar ele, eu te ajudo com as coisas das crianças e ajudo a sustentar ele lá dentro.
Mas se você insistir em ficar com ele, então eu não dou mais nada para os seus filhos e nem pra ele. Você quem sabe, se quiser ver ele passar necessidades lá dentro...
- Pode deixar, não quero que você dê uma agulha para os meus filhos, apenas ajude o seu, pra mim já está de bom tamanho.

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