Parte 60

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Naquele dia, naquele momento, naquele tempo, não podia imaginar a proporção que a atitude de Rodrigo ia tomar em nossas vidas.
Hoje eu fecho os olhos e começo a refletir: "Onde foi que tudo começou a dar errado?"
Foram tantos os nossos erros que é mais fácil falar onde foi que tudo começou a dar certo e pelo menos pra mim, demorou muito, mas o primeiro passo foi ali.
Rodrigo estava decidido, queria virar traficante, chamou os parceiros, arrumou um gerente e começou a vender drogas, na praça perto da casa da mãe dele.
Os negócios estavam indo a todo vapor e enquanto isso eu descobri que estavam fazendo inscrição para um curso do Senac gratuito. Resolvi ir lá e fiz minha inscrição, apostei num curso de cabeleireiro e consegui passar na seleção.
O curso era no horário da tarde e todos os dias eu tinha que levar meu filho no braço e deixar com Rodrigo e na volta eu passava por lá e pegava ele de volta.
Rodrigo não queria cuidar do menino, muitas vezes eu cheguei lá e encontrei o Danilo com minha sogra enquanto o Rodrigo estava na rua e ela achava super normal, que não tinha nada demais nisso.
Fiz esse curso com muito sacrifício, podia estar caindo o mundo que minha rotina era a mesma, eu tinha que levar o menino no braço até a casa dele, que não mexia um dedo pra me ajudar.
Um dia o Pablo foi me buscar:
- E aí doida?
- Que saudade Alemão, fazendo o que por aqui?
- Vim te ver
- Da hora! Senti sua falta mesmo.
- Tá ligada, né? Independente de qualquer coisa a gente sempre vai ser amigo. Nóis é a mesma batida sempre.
- Eu tô ligada. Não fui mais lá por causa do Rodrigo mesmo.
Nesse dia nós ficamos conversando e ele me comprou o sorvete preferido dele : " corneto".
Não deixei ele me levar em casa, nem ir comigo buscar o Danilo, minha sogra cismava que a gente tinha um caso e vivia  fazendo fofoca quando eu não estava perto.
Dei um abraço no meu amigo e fui correndo, já tinha passado do horário de pegar o menino.
Cheguei na casa do Rodrigo, minha sogra me atendeu da janela:
- Ele não tá! Saiu faz tempo e levou o Danilo.
"Puta que pariu, onde será que ele se enfiou com meu filho?"
Olhei na praça e não tinha ninguém, achei estranho. Resolvi descer no São Pedro andando, minhas pernas tremeram quando percebi uma movimentação estranha, as viaturas da polícia passavam correndo.
Acelerei o passo e vi uns meninos sendo revistados, um carro parado com a porta aberta, olhei no final da rua e vi Rodrigo com o Danilo subindo. Dei graças a Deus que não era nada com ninguém da minha família e fui ao encontro dele pra pegar o meu filho. Passei do lado da viatura e olhei para dentro: Era o Pablo sendo preso.
Fiquei passada, olhei do outro lado da rua e vi a ex mulher dele, com um bebezinho no colo sem saber oque fazer.
Claro que ela não gostava de mim, mas nessa hora isso não fez a menor diferença. Pedi pra ela deixar eu segurar a filha dele pra ela poder ir atrás da viatura e foi isso que ela fez, me entregou a criança, uma menina loirinha dos olhos bem verdes, iguais ao dele. Peguei a menina no colo e ela subiu com um cara numa moto e foi correndo pra delegacia. Aquela criança linda não tinha nem 4 meses, olhei pro Rodrigo que balançou a cabeça afirmativamente e levamos a menina com a gente.
Não demorou muito pra alguém vir buscar a menina, entreguei pra moça que ficou parada na porta e perguntei
- E o pai dela?
- Não teve jeito.
- Como assim?
- Ele vai ficar preso.
Dessa vez ele não era mais adolecente e foi direto pra prisão, nenhuma das mulheres que ele tinha quiseram me dar alguma notícia. Fiquei sem saber do meu amigo durante longos anos.
Com a prisão do Pablo eu peguei cada vez mais firme no meu objetivo. Consegui comprar o material do curso com a ajuda da minha irmã e depois de varios meses me formei e consegui um emprego num salão por indicação de um amigo. Aquilo era tortura, não entrava nem mosquito naquele salão e eu não ganhava quase nada.
Passava horas sentada de segunda a sábado e nada de aparecer cliente.

Rejeição e VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora