Minha irmã se ligou que eu fiquei chateada por ninguém ter falado sobre o policial.
Passei alguns dias trancadas no quarto, mal me alimentava e os cuidados com o meu filho eram os básicos, eu não tinha forças pra nada.
Ela então me chamou pra uma conversa:
- Renata, você acredita mesmo que o Rodrigo é inocente?
- Sim
- E porque estão acusando ele?
- Não sei.
Ela pensou por uns minutos e teve uma ideia:
- Eu sei quem pode tirar nossas dúvidas
- Quem?
- A mãe do Macaíba.
- Essa mulher não vai se envolver.
- Mesmo sendo mãe?
- Eu acredito que não.
- E se a gente fosse na casa dela e gravasse toda conversa com um gravador escondido?
( Naquela época não existia celular com essa tecnologia)
- Pode ser, você tem coragem de ir lá comigo?
- Levanta daí e vamo agora!
Pulei da cama, deixei minha mãe cuidando do Danilo e fui na casa do Macaíba pedir pra falar com a mãe dele.
Não acredito até hoje que nós tivemos essa coragem, talvez se fosse hoje eu não iria, mas naquele dia eu tive essa cara de pau.
Batemos na porta e uma das irmãs do finado abriu
- Posso falar com a sua mãe?
A mulher me atendeu e pediu pra eu entrar e assim nós fizemos.
Coloquei o gravador ligado no bolso e comecei a puxar conversa:
- Desculpe mas eu precisava vir aqui, preciso saber o que aconteceu naquele dia.
A mulher então desandou a falar:
- Meu filho tava em casa, um dos culpados pela morte do meu filho comeu no mesmo prato que ele.
- Como assim, não entendi senhora?
A mulher continuou:
- Naquele dia meu filho estava aqui e o Peru veio chamar ele pra ir pra rua e ele foi.
Mais tarde eles voltaram pra almoçar, meu filho fez o prato dele e ele comeu sentado com meu filho aqui nessa sala!
Eu ouvia tudo calada, não podia imaginar como tinha sido o dia dessas pessoas naquele 19 de maio, fiquei pasma com os detalhes.
Ela continuou:
- Eu deixei os dois aqui comendo nesse sofa que vc tá sentada agora e desci no prédio, fui conversar com a vizinha, como parei perto da entrada eu vi tudo o que aconteceu. Logo que eu desci o outro entrou e chamou o meu filho, na verdade ele gritou foi o nome do Peri que estava aqui.
- Quem é esse que gritou senhora?
- Ele não era muito de vim aqui na minha casa não, o Peri vinha mais, um moreno, forte, não sei o nome dele.
Do nada ela grita por uma das filhas que aparece na sala e já vai respondendo antes da mãe perguntar, deixando evidente que estava ouvindo toda nossa conversa:
- Foi o Valdir! Meu irmão estava aqui em casa, aí o Peri chegou e chamou ele pra ir lá em baixo, eles foram mas voltaram rápido pra almoçar.
Na hora que ele estava comendo o Valdir gritou o Peri e o Peri fez meu irmão descer, ele não queria, mas o Peri insistiu. Meu irmão até largou o prato cheio e foi atender esse tal Valdir.
Nessa altura da conversa eu já tinha me esquecido oque eu tinha ido fazer ali e deixei o gravador cair do bolso, por sorte minha irmã conseguiu pegar sem ninguém ver, porque se dependesse de mim o nosso plano teria ido por água a baixo.
Fiquei construindo a história na minha cabeça e a senhora começou a chorar, eu quase desisti mas eu não podia deixar de perguntar:
- E aí, o que foi que aconteceu?
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Rejeição e Vingança
RomanceHá pessoas que, longe de virar a página depois de uma decepção, uma rejeição ou o que elas interpretaram como uma injustiça, alimentam esse ódio chegando até mesmo a planejar uma forma de devolver o desgosto.