As vezes penso que as coisas, sejam elas boas ou ruins, tem realmente que acontecer e o destino se encarrega de colocar as pessoas nos nossos caminhos.
Certo dia enquanto estava na fila conheci uma senhora, conversamos um pouco enquanto esperava minha vez de entrar.
Soube que ela estava lá pra visitar o filho, menor de idade que tinha se envolvido em um assalto.
Esse tipo de conversa na fila é muito comum: "Porque o seu preso está aqui?"
Pra mim era a parte mais difícil, como eu poderia explicar para alguém o que o meu preso tinha feito? Nem eu sabia.
Com o tempo arrumei uma resposta genérica: "Ele se envolveu com amigos ruins"
Bastava. Parece que essa era a realidade da maioria, a mãe tem o filho, cria, cuida da melhor forma possível, mas um dia ele começa a andar com as próprias pernas e logo se influência por alguma amizade ruim. É assim mesmo que começa, acho que todas as mães e esposas que estavam ali se reconheciam nas minhas palavras.
O filho da senhora chamava Daniel, e em homenagem a ele, não vou trocar o nome, vou chamar meu personagem assim.
Ela me contou que era a primeira vez que passava por isso, mas que o Daniel sempre tinha dado muito trabalho.
Descobrimos que nossas casa ficavam próximas, que moravamos no mesmo bairro e que o filho dela estava na unidade ao lado de onde o Rodrigo estava.
- Que unidade você vai?
- Eu vou na 13 senhora.
- Essa 13 é só pra quem cometeu crime grave ou é maior de idade.
- É verdade.
- Eu sei porque meu sobrinho está preso nessa unidade. Tenho um filho e um sobrinho aí, mas eles não foram presos juntos.
- Sinto muito pela senhora, seu sofrimento é maior que o meu.
Como é o nome do seu sobrinho?
- Chamam ele pelo apelido, desde pequenininho a gente chama ele por Leite.
- Vou procurar saber quem é ele, aproveito e digo que a senhora mandou um beijo.
- Agradeço minha filha, você é muito boa e gosta de ajudar as pessoas. Deus te abençoe.
- Abençoe a senhora também.
Conversamos mais um pouco e chegou minha vez, passei pela revista e entrei.
Quando cheguei lá dentro encontrei Rodrigo numa roda de "amigos", ele me viu e veio andando até mim.
- Tudo bem Rodrigo?
- Tudo, chegou tarde hoje.
- Tinha muita fila, tava lotado isso aqui hoje. Conheci até uma mulher, ela mora lá na quebrada, disse que tem um sobrinho aqui, um tal de Leite.
- O Leite?
- Isso, vc conhece?
- Claro! O Leite é meu truta, olha ele ali.
Rodrigo falou se virando pro lado, acompanhei o olhar e dei de cara com um moreno alto, bonito, magro, ao lado de uma moça loira muito bonita e um menininho que devia ter uns dois anos.
- É esse?
- Sim.
- Pensei que ia encontrar um branquelo por causa do apelido kkkk
Essa loira é a mulher dele?
- A mulher e o filho, eles já são casados e moravam juntos.
Falta pouco pra ele sair, já tá acabando a pena dele.
- Avisa ele que a tia dele mandou um beijo.
Rodrigo chamou o Leite e eu mesma dei o recado, conversamos um pouco e descobrimos alguns amigos em comum, depois ele saiu e foi brincar com o filho.
- Renata, tem outras pessoas da quebrada aqui.
- Quem?
- Tem um traficante, mora do lado de casa.
- Hahaha ai Rodrigo, traficante? Traficante de verdade não tem 16/17 anos e nem fica preso na Febem.
- Tô falando pra você.
- Tá bom Rodrigo, não vou discutir, se vc acha que o cara é bandido, então tá bom.
Durante a visita Rodrigo contava as coisas que eles aprontavam lá dentro e eu ia criando certa raiva dele.
Por mais que eu sentisse dó, eu não conseguia deixar de pensar que as coisas pra ele pareciam estar melhor do que pra mim e que se minha vida estava uma bosta a culpa era toda dele.
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Rejeição e Vingança
RomanceHá pessoas que, longe de virar a página depois de uma decepção, uma rejeição ou o que elas interpretaram como uma injustiça, alimentam esse ódio chegando até mesmo a planejar uma forma de devolver o desgosto.