Rodrigo foi enviado para uma unidade, conhecida como Febem Imigrantes.
Nada, absolutamente nada vai apagar da minha memória o trauma de ter ido naquele lugar e a maneira como encontramos ele.
A fila era imensa, assim como o lugar. Entramos e passamos por uma breve revista, nada vexatório, apenas mostramos as bolsas e os bolsos das calças e tiramos o sapato para poder entrar.
Eram muitas mães naquela fila, um lugar horrível, muito deprimente.
Subimos uma ladeira, minha sogra com a sacola com bolachas, doces e produtos de higiene para ele e eu com Danilo no colo, parecia que nunca ia chegar.
Danilo parecia pesar 1 tonelada e por várias vezes precisei parar no caminho para descansar e retomar o fôlego.
Quando chegamos, demos de cara com funcionários mal educados e grosseiros, uma campo de terra vermelha deixava o lugar ainda pior, subia uma poeira conforme as pessoas se movimentavam, de longe vi Rodrigo, fazia cerca de 20 dias que não tínhamos nenhum contato, corri e fiz o movimento de quem vai abraçar
Ele baixou a cabeça e falou sorrindo
- Não me agarra, nem me abraça e também não me beija
- Como assim Rodrigo? Tô a dias sem te ver, o que tá acontecendo?
- Se não eu apanho quando vcs forem embora.
Recuei meu corpo na hora, fiquei em estado de choque!
- Como assim? Quem vai te bater?
- Os funcionários, aqui eles batem de barra de ferro..
- Desculpa Rodrigo, mas não posso acreditar, olha ali gente se abraçando.
- Ué, ele vai tomar um pau depois fia, só isso.
As lágrimas escorreram dos meus olhos.
Olhei para roupa dele, a camiseta era curta e a calça devia ser número 54.
Rodrigo estava bem magrinho, para essa calça não cair ele pegou o cós da calça e amarrou um pedaço de barbante.
- Onde vc arrumou essa calça?
- Eles me deram aqui qdo eu cheguei
- E esse barbante onde vc arrumou?
- Comprei por um maço de cigarros.
- Um maço de cigarros por um pedaço de barbante de 5 centímetros????!
- Era isso ou ficar pelado.
Que coisa horrível,que lugar horrível, que desespero!
Olhei pra ele que sorriu para o Danilo e notei que faltava um dente lateral.
- Que aconteceu com seu dente?
- Nada fia. Quebrou.
- Quebrou pela raiz??! Vou falar com o diretor dessa budega!
- Não faz isso, se não eu não vou conseguir sobreviver aqui.
Entendi o recado, ainda bem que a visita era só uma hora, dei tchau sem beijar, sem abraçar, apenas encostamos nossas mãos, a mãe dele chorou, abraçou e quase tive que arrancar ela dali para ir embora.
Nunca consegui esquecer aquela cena, a coisa mais triste que eu já vivi.
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Rejeição e Vingança
RomanceHá pessoas que, longe de virar a página depois de uma decepção, uma rejeição ou o que elas interpretaram como uma injustiça, alimentam esse ódio chegando até mesmo a planejar uma forma de devolver o desgosto.