Giovanna...
Não sei como as coisas mudaram comigo e com o meu pai, mas ele acabou se tornando ausente e distante. Eu fui uma criança normal, criada no edifício pelo meu pai, a minha mãe eu nunca conheci, mas quando se é criança você não entende essas coisas. Até os meus 12 anos, Piter Angelus foi atencioso e um bom pai, naquela época eu não sabia que tinha um irmão, o Erick.
Piter brincava comigo, me botava para dormir em um dos quartos do edifício, e hoje sinto que aquilo era para compensar o que não fez pelo seu filho. Ele sabia que eu tinha medo do nosso bisavô, que sempre que barrava comigo, lançava um olhar impiedoso e cruel, sempre me ameaçando trancar no subsolo se eu aprontasse alguma. E foi exatamente o que aconteceu, mas não lembro de ter aprontado nada.
Lembro bem de saltitar pelos corredores, cantarolando alguma coisa quando ouvi os gritos do meu bisavô e do meu pai. Parei na porta da sala onde eles estavam e ouvia o meu nome e o dele.
-O seu outro filho vai nos ser muito mais útil que essa pirralha, que lá na frente pode usar o sangue dela contra a gente.
-Mas ela é só uma criança vovô, não faz mal nem a uma mosca, você mesmo pode ver a bondade dela.
-Eu não quero saber Piter, você se parece com o seu pai, todo coração mole, isso ainda vai ser a sua ruína. E não dê uma de inocente agora, você abandonou seu filho legítimo e por ironia do destino, aquela sua amante devia ter o sangue ruim mesmo, a garota devia ser uma de nós, mas se tornou uma arma!
-Ela é só uma criança! Não vou deixar que toque um dedo nela.
-Está protegendo a garota errada.
Aquela conversa tinha acabado ali e anos depois voltei a escutar eles discutindo. Eu havia acabado de fazer a minha "checagem". Piter sempre tirava um pouco do meu sangue para "fazer exames" porque eu era "doente", uma doença até então desconhecida por mim, mas eu deixava que ele tirasse. Mas eu nunca fiquei boa, e havia descoberto o motivo. Como há anos atrás, ouvi os gritos dos dois, mas agora tinha idade o suficiente para entender o que eles diziam. E as mentiras, elas foram descobertas.
-Já está na hora de ir atrás do seu filho legítimo, pelas minhas contas ele já descobriu que é um de nós e vai sair matando todos ao seu redor, até a própria mãe dele.
-Eu sei, mas...
-Mas o quê Piter? Eu já perdi a minha paciência com você por todos esses anos, deixei que vivesse no meu edifício com essa monstrinha...
-Não a chame assim! -ele rosnou e Jeferson o pegou pelo pescoço e o levantou do chão.
-Cansei Piter, agora você vai me escutar! Você irá atrás do seu filho, o trará para cá e sabe o que farei com a sua filhinha querida? A trancarei naquele subsolo, a deixarei amarrada e amordaçada, ela não terá contato algum com o garoto, que vai se tornar um dos melhores, melhor do que você alguma vez já foi seu inútil. -ele disse, soltando o meu pai no chão, que esfregava o pescoço e tossia. -Agora vá, vá!
Lembro de sair correndo dali, mas Jeferson acabou me encontrando no meu esconderijo de sempre. Como ele prometeu, me amordaçou e me amarrou naquele lugar escuro e solitário. Foram anos e anos de solidão, acumulando raiva e ressentimento de todos. Do meu pai, por ter me deixado lá sozinha, por ter deixado isso acontecer; pelo meu bisavô, o mal encarnado em um terno mais velho que eu, e por aquele garoto que viria a tomar minha liberdade.
Porque eu não podia dividir o mesmo espaço que ele? Eu seria uma má influência; Porque eles tiravam meu sangue? Porque era uma ameaça para eles; Sim, eles deveriam começar a me temer, porque a raiva se acumulou dentro de mim e o grande efeito dela seria a vingança.
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O edifício
Mystery / ThrillerLira Symons e seu irmão Lorenzo são filhos de pais extremamente ricos, mas como dinheiro não traz felicidade, nem tudo é mar de rosas nessa família, e quando eles crescem não fica muito diferente de quando eram crianças. Um acidente faz com que su...