Prólogo

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—Amiga, não vale a pena mexer com isso, deixa quieto.

—Por Dio Giulia, como não, como você vem me falar isso, só agora?

—Eu fiquei com muita vergonha de mim, por isso não quis te dizer nada!

—Vergonha de você, por que, você não tem culpa, ah cara mia, vem aqui!

Ela vem até mim, abraço ela bem forte e ela chora, deixo as lágrimas rolarem também e choro com ela.

—Me...me desculpe, por não ter te contado, Maggie, fiquei com medo de não acreditar em mim.

—Imagina amiga, dá onde tirou isso, claro que eu iria acreditar em você, você foi uma vítima desse desgraçado, não tem culpa de nada que aconteceu, olha para mim, você não tem culpa, entendeu?

Ela concorda.

Giulia D'Alencar Pelegrinni é uma pessoa incrível, espontânea e muito gentil, sempre tratava todo mundo super bem, somos melhores amigas, desde pequenas, nascemos no mesmo dia, crescemos juntas, nossos pais tem uma amizade de longos anos, tanto que os pais dela são meus padrinhos, e meus pais são padrinhos dela, ela sempre foi uma jovem muito forte, alegre, de bem com a vida, mas há uma semana que ela andava triste, com o semblante abalado, e eu sempre perguntava o que ela tinha, mas ela nunca me dizia, e hoje ela resolveu me contar, foi abusada por um dos nossos professores de anatomia, nós cursamos Medicina juntas, Dr. Frederico Abruzze, o nome dele, eu fiquei muito abalada e chocada, ele sempre foi muito babaca, era machista, racista e homofóbico, mas nunca imaginei que poderia chegar a tanto, já que era um médico muito renomado, ganhou vários prêmios, mas era como Sofia dizia, ele é só mais um branco privilegiado, não que eu não seja uma branca privilegiada.

Enquanto eu ainda me recuperava do choque, alguém bate na porta.

—Oi, sou eu, posso entrar?

—Entra Sofy.

Sofia Marie D'Angelo, também é nossa amiga, nós três somos inseparáveis, Sofia nós conhecemos no colégio, ela é filha de uma brasileira, com um italiano, nasceu na Itália, depois foi para o Brasil, morou lá até os 15 anos e voltou para a Itália, também cursava medicina, ela que ensinou eu e a Giulia a falar português.

—Gente o que aconteceu, vocês estão com uma cara de enterro.

Ela se senta e contamos a ela o que aconteceu, ela chora também.

—Ah meu Deus, amiga, não acredito!

—Só contei para vocês duas, ninguém mais sabe!

—Por que não nos contou antes Gi, nós o teríamos denunciado para a reitoria da universidade, sei lá eu, feito qualquer coisa.

—É a minha palavra contra a dele, e ele ameaçou me reprovar, se eu contasse a alguém, mas eu já não estava mais aguentando segurar, é tão doloroso guardar isso para mim, está me consumindo, eu sinto vergonha de mim!

—Isso não é culpa sua Giulia, ele é um desgraçado, você não tem culpa.

Fala Sofia.

—Ele disse que eu o olhava com malícia, o querendo, mas nunca o olhei com malícia, eu sempre tive nojo, dele, pelo modo como ele trata você.

Sofia é uma garota negra, seu pai, tio Francesco é branco e a tia Grace é negra, mas ela tinha mais traços da mãe, e esse professor, é um racista extremo, e não perdia a oportunidade de ser racista com ela, mas ela não deixava barato, o enfrentava e dizia umas boas verdades pra ele.

—Não, amiga, você não tem culpa, nunca deu moral para aquele escroto, meu Deus, que ódio, eu não vou conseguir olhar na cara dele, sem sentir vontade de vomitar, amiga, precisamos fazer alguma coisa, o denunciar para a reitoria, falar com seu pai, ou com o tio Ric, eles são influentes, isso não pode ficar assim, ele não pode sair impune!

—Não, Sofy, não, não quero que meu pai saiba, ele vai sentir vergonha de mim.

—Ele não vai sentir vergonha de você Gi, você não tem culpa, aquele cara é um escroto, a Sofy tem razão, isso não pode ficar assim, nós vamos encontrar um jeito, ele tem que pagar pelo que fez, quem garante que não fará ou já não fez com outras alunas, temos que colocar esse homem atrás das grades.

Éramos ingênuas se pensássemos que aquilo seria fácil, não foi, denunciamos o professor para a reitoria, mas como esperado, ninguém acreditou em nós, uma outra garota se juntou a nós, e declarou ter sido assediada pelo professor, mas isso também não foi o suficiente, a única alternativa que nos restou, foi contar para o meu padrinho ou tio Alê, como Sofia o chama, pai da Giulia, por ser anos de amizade, costumávamos chamar o pai e a mãe, uma das outras de tio e tia, meu padrinho e meu pai, são muito influentes e conseguiu que Frederico Abruzze, fosse demitido, ele foi indiciado por estupro, mas de alguma forma, conseguiu se safar, tinha amigos muito mais influentes, e amigos corruptos na polícia, que deram fim as provas, que o condenaria, nem a influência do meu pai, nem a do pai da Giulia conseguiram evitar o que viria a seguir.

Sem provas arquivaram o caso, mas meu pai, junto com meu padrinho, garantiram que ele jamais encontrasse um emprego descente, ele perdeu todo o prestígio que obteve ao longo de sua carreira, e a partir daí, sua vida só foi ladeira abaixo, e então, ele começou a ficar obcecado pela Giulia e a seguia para todos lados, conseguimos uma ordem de restrição, contra ele, os pais dela colocaram seguranças para protegê-la, alguns meses se passaram e tudo parecia bem, não havia mais sinal do professor pscicopata, e então o pior acontece, estávamos perto de nos formarmos, quando Giulia é estuprada de novo e morta pelo ex professor, tentei salvá-la, mas não consegui, foi o pior dia da minha vida, achei que nunca fosse me recuperar, Frederico foi preso por assassinato, e então, foram surgindo vários depoimentos, de meninas que também sofreram abuso dele, mas chegaram tarde demais, não serviram para salvar a vida da minha amiga.

Achei que não teria mais forças para continuar a faculdade, mas era o último desejo da Giulia, então terminei por ela, na formatura fiz um discurso emocionante, e teve uma homenagem linda a ela, trabalhei alguns meses, no hospital, onde meu pai é diretor, mas chegou uma hora, que não deu mais para mim, então abandonei tudo, o tanto de mulheres que atendi, que foram vítimas de estupros, violência doméstica, vi até mulheres mortas, vítimas de feminicídio, não dava nem para contar, os agressores sempre saíram impunes, porque a maioria delas, tinham medo de falar, e eu não podia fazer nada, não naquele posição, então decidi abandonar a carreira de medicina e investi na carreira de agente da polícia, Bolonha era um prato cheio de policiais corruptos, e eu queria fazer a diferença, fazer o que era certo, por Giulia e por todas as mulheres, que precisavam que as leis fossem aplicadas corretamente.

Meu pai não aprovou minha mudança, mas eu tinha o apoio da minha mãe e segui, dei duro e passei no concurso da polícia, e foi lá que eu me encontrei, era como se eu tivesse nascido para isso, Giulia teria ficado orgulhosa de ver onde eu tinha chegado, e era tudo por ela, eu era boa em investigação, mas somente dois anos depois, é que veio meu devido reconhecimento, e agora, sinto que posso fazer muito mais do que já fiz, eu devia isso a Giulia.

Infiltrada - Operação Máfia RussaOnde histórias criam vida. Descubra agora