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Veronica's Point of View

Passaram-se uns dias desde que pedira ao André um tempo. O meu estágio tinha começado na semana passada, a última de junho e era o que me ajudava a afastar os meus problemas de relacionamento longe da minha cabeça.

Conseguia passar o dia completamente focada no meu trabalho, o que era muito bom. Raramente, me sentia deprimida. Só no fim de semana é que fora mais complicado não desanimar. Não era fácil distrair-me.

Era sexta-feira, a primeira de julho. O verão tinha trazido o calor com imenso empenho, os dias compridos eram cheios de luz. Não havia vento desagradável nem as noites eram geladas ou demasiado quentes. Depois do jantar, aproveitava para ir até à varanda. Lia um pouco ou então juntávamo-nos todos lá, a jogar às cartas.

Chegara ao estágio ao início da manhã. Mais tarde, iria com a equipa de trabalho onde estava inserida a um dos seus clientes. O projeto que tinham em mãos agora era para um grupo de clínicas médicas e íamos até lá para se ajustarem os termos do contrato. Não é que eu fosse um elemento fulcral, mas tinham me convidado a vir para assistir à reunião.

- Preparada? – o rapaz ruivo que vim a saber que se chamava Artur perguntou, quando entrámos no carro. Com ele vinha o outro consultor que conhecera no primeiro dia, Carlos, e outra colega, Joana, que fazia parte da equipa.

- Sim, estou. Afinal, vou só ver! – declarei, encolhendo os ombros, depois de colocar o cinto de segurança.

- Está bem, mas fazes parte da equipa! Aliás, se tiveres alguma dúvida sobre o que vamos fazer e, enquanto lá estivermos, é só perguntares! – a rapariga, sentada ao meu lado, declarou, simpaticamente. Ficava contente ao notar que eram genuinamente cordiais comigo.

Algum tempo depois, estávamos já na receção da clínica. Percebi que era um sítio movimentado, havia imensa gente na sala de espera. Vi um grupo de médicos passar apressado e não pude deixar de recordar quando era pequena e insinuava a toda a gente que me viria a tornar médica. Sorri e revirei os olhos, imaginação de criança pequena que não sabia nada sobre matemática ou anatomia ou o que era verdadeiramente a vida de um profissional de saúde.

O Carlos falava na receção sobre a reunião para que chamassem alguém da administração. O Artur e a Joana estavam distraídos a conversar, enquanto eu observava o ambiente à volta. Os meus olhos foram atraídos por um vulto que se aproximava da porta automática da entrada. Reparei que tratava de uma mulher grávida que segurava a barriga com as duas mãos, com uma expressão afogueada e assustada. Ela soprava, invés de respirar normalmente. Assumi que, possivelmente, estaria em trabalho de parto. Corri para a acudir.

- Sente-se bem? – perguntei assim que cheguei ao pé dela e peguei a sua mão – Tragam uma cadeira de rodas para esta senhora! – pedi e automaticamente toda a gente presente naquela sala olharam para nós.

- Eu estou, si-sim... Uf! Acho que vai ser agora! – balbuciou visivelmente nervosa – O meu marido foi estacionar o carro. Coitado, ainda está mais atrapalhado que eu!

Os meus colegas de trabalho aproximaram-se, juntamente com uma auxiliar de saúde que trazia uma cadeira de rodas para a paciente se puder sentar.

- De quantas semanas está? – perguntei, puxando-lhe o cabelo para trás. Tirei o meu elástico do pulso e confirmei com a pré-mamã se não gostaria que lhe prendesse o cabelo.

- De 38 semanas. Obrigado – respondeu, agradeceu por lhe ter desviado o cabelo do rosto. A auxiliar empurrou a cadeira de rodas até perto do balcão para que a grávida pudesse fazer o registo, antes de ser levada para dentro.

Sem pensar duas vezes, decidi ajudá-la a encontrar os documentos dentro da mala para apressar o processo. Antes que fosse levada para observação, agarrou-me a mão e pediu que eu esperasse o marido dela aparecer para lhe dizer para onde ela tinha ido.

Easier • { A.S. André Silva Fanfic }Onde histórias criam vida. Descubra agora