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Verónica's Point of View

Assim que deixei de enxergar o carro, ao cortar no cruzamento no fundo da avenida, abri o portão, entrando rapidamente. Fechei-o, empurrando-o para trás com força. O embate resultou num estouro considerável que, provavelmente, até se escutara dentro de casa.

O primeiro soluço alto ecoou, levando-me a tapar a boca para que não se ouvisse o meu choro. As lágrimas desciam brutalmente pelo meu rosto, à medida que deixara o meu corpo descair, encostada ao portão. Agarrei as pernas contra mim e, encolhida, ali me deixei ficar perdida no meu choro compulsivo.

A dor era inexplicável, como se tudo à minha volta deixasse, de alguma forma, de fazer sentido. Deixá-lo ir embora era a escolha que o afastava da minha vida, quando não era isso que eu desejava. Adorava ter o André por perto, rir com ele, disfrutar de uma realidade partilhada com o moreno de sotaque do norte.

No entanto, tinha plena noção de que não o deveria prender. O seu sonho seria realizado no estrangeiro, seria reconhecido na nova equipa para onde ia ser transferido e não perderia tempo comigo. Mesmo com as insistências do rapaz, uma possível relação à distância era um pesadelo para mim. Já o vivera, uma vez, e embora o André não pudesse ser comparado, nem um pouco, ao meu ex-namorado, sabia que me seria demasiado frustrante ter algo assim com ele.

- Verónica? – ouvi uma voz que se aproximava. Levantei o rosto e, por entre o turvo das minhas lágrimas, reparei na minha avó – Verónica, o que aconteceu? Querida, estás a chorar?

A verdade é que a sua interrogação foi o suficiente para que o choro se intensificasse, como acontece a qualquer pessoa entristecida a quem lhe fazem a mesma pergunta. Tentei limpar o rosto e recompor-me, mas sem muito sucesso.

- Verónica... – baixou-se, cuidadosamente, à minha frente – O que se passou? Fale comigo...

- Oh avó... - solucei, procurando conforto nos braços que para mim abria – Não queria que isto estivesse a acontecer! Não queria!

Ainda sem perceber o motivo do meu desassossego, a dona Felícia levou-me consigo para dentro. Sentou-se comigo, no sofá, e limpou-me as lágrimas, esperando que, um pouco mais acalmada, lhe conseguisse explicar o que se sucedera.

- Eu... O André vai embora... – ainda com o lábio a tremer, tentei contar – Foi contratado por uma equipa, na Alemanha, em Frankfurt. Ele vai amanhã e não deve voltar tão cedo...

- Oh querida... – voltou a enxugar-me o rosto com os polegares – Aposto que o rapaz te virá visitar sempre que puder e vão poder trocar mensagens e fazer aquelas chamadas de vídeo. Sempre matam as saudades.

- Não, vó... Não vamos! Nós não estamos juntos... - revelei, então.

- Como assim? Eu pensei que estivessem a namorar, sobretudo depois desta manhã... - comentou, bastante confusa como chocada.

- O André e eu somos só amigos, avó... E, a culpa é minha! A culpa é toda minha...

- Do que estás a falar, Verónica? Por favor, não chores... Tenta acalmar-te – afagava-me as costas.

- Sempre tive dúvidas que eu e o André tivéssemos um futuro juntos, sobretudo devido à distância que sempre iria constringir a nossa relação. Deixei que até ele sentisse incertezas e inseguranças. Acabámos por nos envolver num mal-entendido enorme. Não soube como reagir isso, parecia que de algo tão simples geráramos uma tempestade. Fiquei tão assustada que o neguei. Disse que só devíamos ser amigos! E agora, ele foi embora... de coração partido e a culpa é minha!

- Verónica, tem calma... Tudo se vai resolver! – tentava apoiar-me, com um olhar preocupado, dado o meu visível estado de ansiedade.

- Eu vou para o quarto... - murmurei, precisando de ficar sozinha – Obrigado, avó! – agradeci, antes de me levantar.

Easier • { A.S. André Silva Fanfic }Onde histórias criam vida. Descubra agora