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Verónica's Point of View

Sábado.

Qualquer estudante universitário, instalado na cidade onde estuda, aproveitaria o início do fim de semana para dormir, rever apontamentos, acabar trabalhos, adientar resumos, curar ressacas ou simplesmente não fazer nada o dia todo, numa áurea de procrastinação.

No entanto, eu não era uma estudante universitária qualquer. Eu era apenas diferente e avariada das ideias, ao pensar que tirar o dia para limpezas seria uma ótima ideia.

Pois bem, tanto eu como a senhora idosa que trabalhava para a dona do prédio, que generosamente vinha dar um jeito no apartamento de vez em quando, não nos preocupavamos com limpezas minuciosas. Ora, uma limpeza de cima abaixo geral seria uma tortura!

E foi a isso que me sujeitei, naquele sábado, uma vez que me encontrava completamente sozinha. Os meus colegas de casa estavam todos fora nesse fim de semana.

O Gonçalo fora ver a família, bem como a Margarida. Já o Bernardo convencera a Patrícia a largar os manuais de anatomia para o acompanhar num festival de música alternativa, para o qual arranjara bilhetes. Iriam pernoitar por lá.

Assim, com a casa só para mim, aproveitara para me dedicar a organização do meu quarto. A dedicação fora tanta que até limpara os vidros da janela.

Deixara para o final a arrumação dos montes de roupa enrolada, dentro do roupeiro. Agarrei em tudo o que estava desarrumado e atirei para cima da cama.

Depois, dividi o que por lá estava e arrumei no sítio. Devolvi as camisolas às respetivas gavetas, as meias abandonadas foram para o cesto da roupa para lavar, dobrei impecavelmente toalhas e uns lençóis por ali perdidos. Recolhi cabides e pendurei mais uns pares de calças.

Neste processo de gestão de espaço e limpeza do meu armário, acabara por desvendar o esconderijo de uma caixa com a qual não me queria deparar. Bem sabia que havia um motivo para este rodilho de lençóis e toalhas lá no fundo! Censurei-me.

Agora, ali de olhos postos nela, seria difícil não abrir a tampa e remexer o interior. Escusado seria dizer que não seria uma boa ideia, dada a vertente emocional que estaria a ser implicada.

Sentei-me no chão, no tapete, encostada ao roupeiro, de pernas cruzadas. Verónica, não sejas parva, larga a caixa! O meu subconsciente alertou, tendo em conta a atitude masoquista para a qual me preparava.

Só te vais massacrar, não tens de o fazer! Não tentes tirar o penso de uma ferida que ainda não sarou! Uma ferida na qual tens evitado tocar! Continua a evitar, deixa que o tempo a esqueça!

Não conseguia esquecer! E, por isso, abri a tampa da caixa, fingindo estar pronta para enfrentar aquelas memórias.

A primeira coisa que encontrei lá dentro foi um pequeno urso de peluche, daqueles clichês com um coração, onde estava bordado "adoro-te".

Um sorriso triste formou-se nos meus lábios. Parecia ter uma carapaça à prova de clichês mas, a verdade é que vindos da pessoa certa, eu derretia-me toda.

Pousei o boneco ao meu lado e preparei para pegar na próxima recordação, na qual o meu olhar ficasse preso.

Peguei no pote com as pétalas secas de um ramo de flores e uma vela lá dentro. O que restava de uma surpresa do nosso primeiro aniversário.

O Filipe que me fez essa surpresa não pode ser o mesmo que acabou comigo em tão poucas palavras. Murmurei, interiormente.

Mas, depressa pousei o pote e relembrei-me de que tinha sido exatamente isso que tinha acontecido.

Easier • { A.S. André Silva Fanfic }Onde histórias criam vida. Descubra agora