Easier • { A.S. André Silva Fanfic }

*01*

Verónica's Point of View

Olhei para o teto do quarto e expirei pela vigésima vez naquela tarde. Mais uma tarde de estudo completamente perdida. Francamente, para onde foi toda a motivação do início do semestre? Sem dúvida, que fugiu e não regressou, mal viu o sol entrar pela janela do meu quarto. Morava num pequeno apartamento que partilhava com mais alguns estudantes.

Felizmente, conseguira ficar com o melhor quarto da casa só para mim, já que passava lá a maior parte do tempo. Morar longe da faculdade obrigara-me a procurar casa no Porto. Não iria sobreviver a viagens diárias de Lisboa para o Porto, seria inconcebível, obviamente.

Assim rapidamente percebera a verdadeira rotina de viver por minha conta - sem roupa lavada e comida já feitinha. Ajudava em casa já quando andava na escola, mas aquela mudara revirara muitas coisas do avesso. Apercebera-me como o lava-loiça rapidamente ficava a abarrotar de pratos sujos ou como, à velocidade da luz, a minha gaveta da mesa-de-cabeceira ficava sem roupa de interior lavadinha. O choque fora, certamente, o primeiro ano.

Agora, já prestes a completar a licenciatura, a vida na cidade nortenha já era a melhor rotina do mundo. Tencionava continuar lá, enquanto estivesse a tirar o mestrado - creditação cuja a área não tinha sido escolhida! Estava mesmo indecisa em relação ao futuro.

No entanto, neste momento, estava indecisa em relação ao rumo que o meu estudo levava naquela tarde solarenga. A luz que atravessava os cortinados chamava por mim, só queria largar os livros e ir lá para fora, nem que fosse apenas para apanhar ar e desanuviar.

Preparava-me para lançar outro suspiro desanimado, quando o destrancar da porta ecoou pelo quarto. Uma rapariga loira de cabelos lisos e óculos na ponta no nariz apareceu, então, trazendo consigo imensas folhas escritas à mão, coloridas devido a vários sublinhadores e com diversos post-its fluorescentes.

- Diz-me, por favor, que te posso falar sobre o coração?! - ela exclamou, desesperada. O semblante transmitia uma certa frustração e evidente cansaço. Patrícia era, de facto, a mais estudiosa da casa. Aluna de medicina, não se podia dar ao luxo de esquecer nenhum pormenor para as cadeiras que exigiam que decorasse cada pormenor de cada centímetro do corpo humano.

- Queres me falar de questões do coração? - perguntei, ironicamente. Automaticamente, a rapariga percebeu que fazia referência ao âmbito romântico que dávamos ao órgão vital do nosso corpo. Certamente, que a minha vida amorosa andava mais murcha do que as flores com falta de água, na varanda do apartamento, vivendo uma relação amorosa com alguns países a separarem-me do meu namorado.

- Não me estava a referir a isso! Mas sim, ao miocárdio. Quero falar-te sobre ele! - insistiu ela, ao querer me como sua pupila numa palestra que iria prolongar seguidamente sobre conceitos anatómicos completamente confusos para a minha pessoa.

Recostei-me na minha cadeira giratória e encarei a loira, preparando-me mentalmente para a lição de anatomia que iria escutar. No entanto, as minhas preces foram milagrosamente ouvidas, quando uns passos apressados se fizeram ouvir no corredor e, outra figura entrou no meu quarto.

- Desculpem, desculpem! - a Margarida apareceu, também num jeito apressado. Parecia que toda a gente naquele sábado à tarde transbordava stress - Tens fita cola ou outro género de cola!? Estou a acabar um projeto para entregar! - uma criatividade fascinante associada ao rigor da arquitetura era o que caracterizava a minha melhor amiga, a rapariga com quem partilhava aquela casa desde que entrada na faculdade, dois anos antes. Ela também ia terminar o curso, naquele ano e tencionava permanecer na cidade, exatamente como eu. Abri a gaveta da secretária e atirei-lhe a fita-cola - Obrigada! - agradeceu, antes de desatar a correr em direção ao quarto.