Capítulo 34 - Ilariki

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Eu não podia esquecer esse cheiro. Nem mesmo se tentasse. Esse cheiro me marcou, literalmente. A marca da minha maldição. Passei anos sem vê-la. Por que ela tem que aparecer logo agora?

Ela surge, iluminada pelo brilho quente da fogueira, encarando-me com os mesmos olhos acinzentados que me enganaram anos atrás. Ela não mudou nada, nenhuma ruga nova surgiu em seu rosto. Seu cabelo permanece com o mesmo comprimento acima do ombro.

— Ficarei sem jeito se continuar me encarando dessa forma. — ela diz — Sempre gostei desse ouro no seu olhar. Senti muito não poder falar com você no outro mundo.

Ela começa a andar, vindo em nossa direção. Passando por cima da fogueira, fazendo o vermelho de seus cabelos entrarem em contato com as quentes brasa que flutuavam da fogueira.

— O que faz aqui, Aurora? — questiono.

— Ora, não lhe contaram? Trabalho com Okubo. Minha mestra é a bruxa dele por longos anos, estou apenas cumprindo uma ordem dela. Não foi difícil enganá-los. Só faltei escrever meu nome no mapa.

— Foi você deu o controle da minha maldição para ele?

— Sim. — ela sorri. — Não sei o que você fez, mas conseguiu irritá-lo. Claro que eu não negaria a oportunidade de te ver de novo. Já que da última vez você estava inconsciente. Por favor, meu amor, entregue-me o pedaço de madeira que ele quer.

— Não! — Lizzie grita, segurando firme em meu braço.

— Desculpe, quem é você? Está atrapalhando um reencontro.

— Você não terá o mapa, Aurora.

— É uma pena, terei que tirar a forças. Não queria usar de violência em nosso reencontro, meu amor.

Posso sentir o desconforto de Lizzie, ela morde os lábios sempre que Aurora me chama de amor. Ela solta meu braço, separando-os de mim, agarrando a sua bolsa com o mapa.

— Você não terá o mapa. — ela pontua.

— Por favor, humana, é você que está com o mapa, certo? Entregue-me e poupe meu tempo.

— Não. — ela está confiante em sua resposta.

Ela solta uma fina gargalhada. Levanta a mão apontando o indicador em nossa direção. Ela usa um anel com uma gema rosada fundida no ferro que enrosca o seu dedo.

Perco o controle do movimento do meu corpo. É como se os ossos do meu corpo tivessem engessados. Não consigo mover um músculo, além da minha boca.

— Esqueceu-se que eu tenho os poderes de uma bruxa? — ela se abaixa passando a mão em meus cabelos. — Poderes que você me deu.

— Não faça isso, ele quer guerra.

— Eu também. — ele desliza o dedo em meu rosto. — Com a morte dos animalians, as bruxas voltaram a ser temidas e as mais poderosas deste mundo. E eu estarei lá como uma delas, não... como a melhor entre elas. — ela passa a mão em meus lábios. — A minha mestra e eu seremos as únicas bruxas, em um mundo sem animalians. As mais poderosas entre os seres deste mundo.

— Incrível como a sua prepotência te engana. Acredita mesmo que Okubo aceitará seus planos?

— Eu, sendo enganada? Quem é você para falar assim? Apaixonou-se por uma humana do campo, inocente. Eu nem precisei fugir muito. — ela solta um meio sorriso. — Você sempre foi ingênuo, Ilariki, mas senti saudades do seu coração. Dele ser meu. E parece que você também. Não conseguiu me esquecer, ainda se lembra do meu cheiro.

Eu permaneço em silêncio. Olho para cima indo de encontro com seu olhar tortuoso. Abro os lábios para responder. Mas surpreendo-me com o movimento que vejo por cima de seu ombro.

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