Capítulo 37 - Lizzie

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Quebramos o cristal e voltamos. Caímos de mau jeito em um chão plano de madeira, sinto o cheiro de maresia e os solavancos de ondas. Estamos em um barco. Pensei certo ao quebrar o cristal? Olho para o lado, Melinda também está aqui. Não podemos ter as duas pensado errado. Eu pensei, nitidamente, no Ilariki.

— Vocês estão bem? — Ilariki surge atrás de umas caixas grandes, estendendo a mão para me ajudar a levantar.

— Onde estamos? — pergunto.

— Achamos melhor começar o caminho, a passagem até a Vila do Feno é através do mar.

— Entendi.

— Está tudo bem mesmo?

Eu não escondo a preocupação no olhar. Mas não quero preocupá-lo ainda mais. Eu sorrio como resposta.

— A última vez que estivemos em um barco não foi uma experiência muito boa. — digo.

— Verdade.

— Já estamos chegando, não é tão longe. — ele tenta nos acalmar.

Ele aponta para o formato de terra que vai tomando forma no horizonte. É uma ilha rodeada de deques, com muitos navios ancorados: pequenos e grandes. Descemos a rampa e somos abordados por um homem vendendo peixe, ele segura um pedaço de pau apoiado nas costas, com peixes pendurados em cordas e um líquido pingando em uma mistura de sangue com água. Outro aparece, oferecendo pão. Todos os outros passageiros que vão descendo atrás de nós são abordados do mesmo jeito.

— É uma vila mercantil. — explica Ilariki. — Aqui param os navios de toda a parte para descansar e comprar mantimentos para continuar a viagem. Por isso é um poço de informação.

Somos guiados por Ikimari que nos leva até o que eu acho ser uma taberna, como aquelas que vejo nos filmes medievais. Sinto o cheiro do álcool antes de entrar. Homens armados com lanças e espadas saem pela porta, tombando com o vento de tão bêbados.

Sentamos na primeira mesa livre que encontramos. Eu afasto uma das tigelas de perto. Não tenho certeza, mas o líquido vermelho nas bordas do barro não deve ser molho.

— Fiquem aqui, nós vamos procurar informações. — diz Ilariki. — Você fica, Miruni.

— Sim, senhor. — Miruni pega um copo de uma das bandejas que o garçom passa segurando e bebe.

— Não bebe isso, você nem sabe o que é. — Tibini balança a cabeça em negação com um olhar asco.

— Não vou saber sem beber. — retruca Miruni.

Mais homens armados entram no bar, eles possuem a mesma pintura no braço esquerdo, uma flecha pintada em um vermelho sangue. Miruni solta a bebida que pegou e abaixa a cabeça, cobrindo o rosto disfarçadamente, fingindo estar com torcicolo.

— O que foi? — Tibini pergunta para ele.

— São caçadores.

— Mas você também não era um caçador?

— Era, mas agora sou a caça.

É a primeira vez que vejo Miruni abaixando a cabeça, mas ele não parece com medo, suponho que ele só queira evitar uma briga, ou melhor, quer evitar nos envolver em uma briga.

Ilariki e Ikimari voltam com uma feição de desapontamento, abrindo espaço entre os homens na taberna.

— Nada. — Ikimari senta, empurrando Miruni para mais perto de Tibini.

— Todos só falavam a mesma coisa: "Bruxas não existem mais." — Ilariki acrescenta.

— O que vamos fazer? — Miruni encolhe o ombro e coloca o corpo para frente, liberando-se do aperto que foi colocado.

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