Capítulo 46 - Melinda

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Acordo com meus fios de cabelo atrapalhando a minha visão. Coloco a mão para trás do meu corpo deitado, para chamar Lizzie, mas minha mão afunda na cama. Viro-me e ela não está ao meu lado. Salto da cama para procurá-la, mas a cabana está vazia. Saio para ver o acampamento, recebendo os raios da luz solar que perturbam minha visão. Todos estão agitados, andando de um lado para outro, os cochichos ecoam pelos ventos frios. Eu cutuco o guarda que ficou vigiando a minha cabana.

— Onde estão todos? — pergunto.

Ele abaixa a cabeça, mergulhando seus olhos verdes nos meus.

— Não me foi permitido dar essa informação. — diz, com uma voz calma.

— Como assim? — Cruzo os braços. — Eles saíram?

— Não.

— Então onde estão? Se estão no acampamento, por que não pode me dizer? — Ergo meu pescoço, aproximando do seu rosto, tentando parecer no mínimo um pouco mais ameaçadora.

— Não.

— Não, o quê? — Solto os braços. — Esquece, eu vou encontrá-los.

Coloco as mãos nos bolsos, não acho meu cristal. Saio andando pelo acampamento, deixando passos fundos de pegadas. Entro na cabana de Ilariki, procurando um cristal. O rapaz me segue, cruzando os braços enquanto reviro a cama dos meninos na procura de um cristal. Eu bufo para o homem, que permanece com uma posição reta e autoritária. Ele desvia o olhar do meu. Sua armadura o impede de cruzar os braços completamente, seus dedos seguram seu braço, cobrindo as escamas em sua pele ocre como o sol ao amanhecer.

— Por favor! — Desisto de procurar, soltando o travesseiro na cama. — Onde eles estão?

Ele abre a boca, preparando-se para negar mais uma informação, mas a algazarra do lado de fora chama a nossa atenção. O rapaz de curtos cabelos encaracolados saca sua espada ao escutar os gritos, correndo para fora da cabana. Eu sigo seus passos, indo até o amontoado de gente que olhavam boquiabertos e imóveis para frente.

Olho para a direção responsável pelo espanto de todos. Engulo em seco ao ver os homens de Kato surgindo de dentro da mata. Todos feridos, arrastando os pés no chão, segurando suas armaduras debaixo do braço. A ventania fria trouxe o cheiro de sangue e barro molhado que exala deles. Minhas pernas tremem ao ver Lizzie ao lado do corpo esticado do Miruni que é carregado por Vinny e Kato. Vinny sente dificuldade de carregar os pés do rapaz que escorrega com a lama que escorre de seu tornozelo. Tibini aparece logo em seguida, atrás da Lizzie, cabisbaixo, sem esconder seu semblante de preocupação.

— Lizzie! — Tio Jhon corre para onde ela está, abraçando ela sem dar espaços para que ela respire antes de ter sua cabeça enfiada nos ombros do avô.

Eu corro, freando com o calcanhar ao ver Ilariki com olhos vermelhos e inchados, segurando um lobo ensanguentado nos braços.

— Não pode ser. — sussurro.

Todos foram levados para a enfermaria. Ajudo a colocar Miruni na cama, colocando um travesseiro extra para levantar sua cabeça. Ele está respirando fraco, suas pálpebras estão fechadas, mas tremendo. Tibini chega com uma tigela de água para limpar a boca ensanguentada do rapaz. Quero perguntar o que aconteceu, mas sei que não é o momento certo.

— Vou pegar as ervas com as moças. — digo.

Ele não tira os olhos de Miruni, passando o pano até o pescoço para limpar, concordando com a cabeça. A enfermaria mal esvaziou, e já estava cheia novamente. Saio aos tropeços para não atrapalhar os cuidados com os feridos. Aproveito para ver uma delas pegando a tigela de barro onde colocam as ervas que são colhidas para pedir que eu a acompanhe para ajudá-la. Ela consente, dando-me outra tigela. O cheiro das ervas está fresco, ainda restou um pouco do líquido que foi espremido das ervas na tigela que ela me deu. Chegamos na plantação atrás da cabana onde é a enfermaria, é rodeada por cercas de arame farpado e guardas em cada ponta. Eu repito os movimentos da moça de cabelos pretos, pegando as mesmas ervas, na mesma quantidade que ela. Não pisco os olhos para não perder um movimento sequer.

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