Capítulo 40 - Melinda

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Abraço meu joelho, agarrando-o forte. Já é a terceira vez que o garçom deixa mais um copo com bebida na mesinha ao lado da cadeira que estou. Nem mesmo a visão alaranjada do sol se pondo me alegra.

Não sei por que continuo pedindo mais bebida alcoólica, eu não bebi nenhuma. Escolhi todas pelo nome bonito no cardápio e as fotos editadas. Estava decidida a beber algo. Já estou completando 20 anos e nunca encostei em nada com álcool. Tirando aquela vez que quase bebi acetona quando minha avó pintava suas unhas na mesa ao lado dos meus livros enquanto pintava. Tinha um cheiro forte, eu era pequena, fiquei imaginando o gosto. Ela me fez prometer que nunca beberia nada do tipo. Prometi que nunca chegaria tarde de um festa, ou que beberia muito.

Agora que você não está aqui, acredito que já posso beber, certo, vovó?

Afundo minha cabeça dentro dos meus braços cruzados apoiados em meu joelho. Não quero que ninguém me veja chorando. Já cheguei com os olhos tão vermelhos, que posso imaginar a imagem que o moço da recepção teve de mim. Implorei para a Lizzie me deixar sozinha, ela não me largou um só minuto depois que teve a ideia de sairmos um pouco para viajar. Foi só para o outro lado da cidade, mas ela jurou que mudança de ares me ajudaria um pouco. Eu não consigo chorar ao lado dela, mas eu preciso chorar. Eu quero derramar tudo que tenho guardado aqui no peito. Mas ela sempre me olha como se estivesse disposta a fazer tudo para me animar, não me sinto bem chorando com todo o amor que estou recebendo. Ela está se esforçando por mim, talvez eu deva me esforçar também.

Os pingos escorrem pela madeira trançada da cadeira.

Eu estou sozinha, vovó. Por que eu tinha que ficar sozinha? Quem vai estar comigo quando eu me casar? A senhora queria tanto me ver casando. Quem vai me impedir de fazer loucuras todos os dias? Eu sei que tenho a Lizzie, a Camélia e a Vivian, e que elas sempre estarão ao meu lado quando eu precisar.

Mas eu queria a senhora, vovó.

Eu começo a soluçar. Minhas mangas já estão encharcadas de tanto enxugar minhas lágrimas. Eu passo novamente o tecido nos meus olhos, que já estão feridos e ardem quando encosto neles.

Eu pego um dos copos, com um líquido azul, não lembro qual é esse, mas o cheiro forte e azedo me faz repensar a decisão de beber.

Nem mesmo lhe apresentei um namorado meu, vovó. A senhora sempre me pediu isso para apresentar alguém antes de começar a namorar. Ela sempre disse isso. Comecei a namorar o Anthony quando ela foi internada, não cheguei a apresentá-los. Ele sempre me deixou no hospital, dando carona, mas nunca entrou.

Talvez eu devesse ligar para ele.

Eu coloco o copo de lado e tiro o celular do bolso. Começo a digitar o seu número.

Eu sinto um frio na barriga, meu coração acelera como se estivesse prestes a saltar pela minha boca. É uma sensação boa e... apaixonante.

Eu me viro, ficando ajoelhada, segurando no encosto da cadeira.

— Iki...

Ele abaixa o olhar para mim, aproximando sua mão do meu rosto, tirando os fios de cabelo que cobrem meus olhos.

— Seus olhos estão vermelhos. — ele diz.

Ele permanece parado, segurando meus fios entre o seu polegar e o seu indicador. Seus olhos escuros olham para mim com uma intensidade sufocante. Ele está na forma humana, mas sua presença mantém-se a mesma.

— Não foi nada. — eu me afasto, passando as mangas do moletom nos olhos. — Não é veneno, desta vez. — forço um sorriso.

Viro meu rosto por completo, para que ele não me olhe.

Renascer dos Lobos Onde histórias criam vida. Descubra agora