Volto ao meu mundo depois da conversa com Miruni. Não me despeço do Ilariki antes de voltar. Acredito que foi melhor assim. Tinha mais coisas no passado deles do que imaginei. É complicada ser inserida em um presente marcado pelo passado.
"Vovô, por que me envolveu nisso?", essa pergunta não sai da minha cabeça.
Mal consigo estudar, passo os olhos pelas letras, mas nada faz sentido. Nem na física ou na minha vida. O cansaço bate, minhas pálpebras pesam e acabo adormecendo com a cabeça nos livros.
Meu rosto acorda dormente. Minhas bochechas rosadas marcadas pelo arame do meu fichário, tão dolorido que passo a mão na bochecha, sentindo as marcas do arame.
— Querida, você vai se atrasar. — é a voz da Dona Julia.
Eu olho no relógio, ela tem razão. Tomo um banho rápido, escovo os dentes ao mesmo tempo em que penteio o meu cabelo.
Procuro minha calça jeans favorita, mas ela está nas roupas sujas, cheia de terra e grama. Claro, eu usei na última vez que estive no outro mundo. Coloco a bolsa nos ombros. Não é a bolsa certa, é a bolsa que levo para o outro mundo.
O que está acontecendo comigo hoje?
Pego a bolsa certa e desço as escadas rapidamente.
— Tomará seu café? — Dona Julia aparece em minha frente. Com seu coque perfeitamente preso e o uniforme do hospital.
— Ficarei só com uma maçã. — pego uma maça na fruteira. — Obrigada por tudo, Dona Julia.
— Imagina, seu avô é um bom paciente. Onde está sendo voluntária dessa vez? Em outro hospital?
Eu penso em uma desculpa.
— Sim, mas não é aqui.
Eu saio correndo para não perder o ônibus. O que não adianta, quando me aproximo da parada, vejo o meu ônibus passando direto.
— NÃO! — eu grito, ofegante.
Isso é pior que correr de um animalian.
— Perdeu o ônibus também? — Melinda aparece, bem calma para quem também perdeu o ônibus.
Ela está usando um casaco e uma calça moletom. Eu estranho imediatamente. Não são de cores pastéis ou vibrantes que ela costuma usar. Seu longo cabelo ondulado está preso em um laço, não solto e batendo em sua cintura como de costume.
— Você... — eu me aproximo de seu rosto para ver melhor. — Está sem batom?
— Bem, eu... — sua pele branca ruboriza de imediato, ela desvia o olhar — Estou seguindo mais o caminho do natural, como você. Continuo linda.
Ela levanta a mão em direção ao seu cabelo para jogá-lo para o lado como faz sempre, mas percebe que seu cabelo está preso, e muda a direção do braço para o meu ombro.
— Você está linda, não estou contestando isso, só não parece o seu estilo... essas roupas e sem batom.
— Já que estamos, com toda certeza, atrasadas para a primeira aula, vamos caminhando? — ela me puxa pelo braço, ignorando o que falei.
Eu concordo, não tem outro jeito, o próximo ônibus só volta em algumas horas. Ela não perde a oportunidade da caminhada para puxar aquele assunto novamente.
— Então, como vai com o seu namorado?
— Não tem namorado. — digo prontamente.
— Namorada?
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Renascer dos Lobos
FantasyLizzie é uma jovem comum, vivenciando os problemas do último ano do ensino médio, podendo contar sempre com suas amigas e com o seu avô. Ela só não tinha como prever que sua vida mudaria completamente com a descoberta de um novo mundo. Conflitos e p...