Capítulo 52 - Lizzie

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Aperta meu coração ver os feridos mais graves da batalha. A curandeira cuida deles de uma forma tão confiante e decisiva que me inspira. Minhas mãos ainda tremem ao costurar o peito de um dos feridos que está em minha frente. Busco fôlego para terminar, enquanto vejo ele dividir sua dor com a esposa que segura sua mão esquerda e com um singelo toque em seu ombro, entrega coragem para que ele aguente sem anestesia. A curandeira me ensinou muito da medicina deste mundo, não tem o aparato tecnológico do nosso, mas os conhecimentos são vastos e as maneiras que realizam os atendimentos é de uma criatividade admirável. A agulha feita de uma madeira inquebrável tão fina quanto uma tira de macarrão mostra que eles usam da natureza em todos os seus atributos para ajudá-los no dia a dia. Gostaria muito de aprender tudo que eles têm acerca dos conhecimentos médicos, e ajudá-los com o que sei do meu mundo. Quando finalmente passo a última volta no ferimento do rapaz, cortando a linha, o alívio da minha respiração encontra-se com a da esposa, que sorri abertamente, entregando um meio abraço para não bater no ferimento do marido.

— Obrigada. — agradece ela.

Eu sorrio como resposta. Respirando fundo ao olhar para trás e ver que as coisas estão sob controle. Melinda conversa com as crianças e filhos, tentando acalmá-las. Ela é tão boa nisso, que só basta colocar a criança em seu colo que ela para de chorar para ouvi-la. Ela solta um sorriso forçado para não passar preocupação, mas suas palavras são verdadeiras e passam confiança.

— Vamos fazer de tudo para que eles melhorem. — diz ela.

Eu chego perto dela, oferecendo um copo com água. Puxo a cadeira para o canto mais afastado onde ela está para descansar.

— Está tudo bem? — pergunto.

— Sim. — ela esconde a mecha que escapa de seu coque. — Só estou pensando.

— No quê?

— Vou vender a minha casa. — Ela olha para a xícara, vendo as ondas da água ao mexer a mão devagar. — Vou ficar neste mundo, Lizzie. — Olha-me, decidida em sua palavra.

— Vai vender?

— Sim, não... não me faz bem ficar naquela casa. Não sem a vovó. É difícil ficar lá e notar que ela não está. — Abaixa o olhar, bebendo um gole da água. — O que você e o Tio Jhon farão?

— Meu avô também quer morar aqui, ele disse que quer viver a vida que meus pais sonharam para mim, neste mundo. Mas não vai vender a casa, deixará lá, caso precise voltar um dia. Nunca se sabe.

— Entendo. Você sabe que dia é amanhã?

— Não.

— É ano novo.

— Meu deus, já? — Jogo meus braços para o alto ao lembrar. — As meninas.

— Sim. — Ela solta uma risada fina. — Elas se mudam amanhã. Acho que deixamos elas preocupadas, falamos que estávamos viajando. Devem ter ligado horrores.

— Que péssimas amigas.

— Sim. — Ela está encolhida, com um sorriso em seu lábio inferior.

— Quer que eu vá com você? Podemos ficar amanhã no outro mundo, quando formos falar com elas, para resolver a venda da sua casa.

— Não, tudo bem. Vou entregar para uma imobiliária.

— Meu avô saiu com o Tibini para procurar casas. Você pode morar aqui com a gente. Você já é da família.

— Verdade? — Seus olhos brilham. — Obrigada, Lizzie. — Abre os braços, fazendo a água transbordar em seu punho ao me abraçar, apertando-me forte. — Eu estava pensando em fazer um curso de moda. O que você acha? Penso em viajar também, para conhecer este mundo.

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