Capítulo 33 - Lizzie

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Finalmente pela primeira vez no ensino médio, não me atraso para o ônibus. Inacreditável que precisou ser a última semana de aula para isso acontecer. Sentirei falta de fazer esse caminho todo dia.

Desço na parada da escola. Melinda está me esperando na frente do portão. Batendo o pé esquerdo no chão e rodando a alça da sua bolsa. Ela me vê, jogando o cabelo para trás ao sorrir. Ela pergunta tudo que aconteceu enquanto estava desmaiada.

Respiro e repito pela décima vez:

— Foi o Ikimari. — digo.

— Não. — ela balança a cabeça, descrente do que eu digo. — Não foi.

— Sim, foi.

— Não. — ela balança o indicador na minha frente, seguindo o movimento de negação com a sua cabeça. — Não foi.

— Melinda! — eu reviro os olhos. — Já falei que foi ele.

— Impossível!

— Mas foi ele, ele que te levou para casa e cuidou de você. Até fez um chá para você inalar, quase se queimou para ligar o fogão. Foi engraçado. Óbvio que eu não ri, vai que ele ficava ofendido e desistia de cuidar de você.

— Cuidou? — ela arregala os olhos.

— Bom, ele te carregou, esperou até você inalar o vapor, acho que isso pode se considerar um cuidado. Ele me disse que você ficaria desacordada por um tempo, mas que ficaria bem.

— Não. — ela sorri, negando novamente. — Não foi ele.

— Ah, meu deus. Eu desisto. — eu estouro minhas bochechas. — Como você é teimosa.

Ela nem esconde que está feliz em ouvir que ele cuidou dela. Bom, eu não a culpo, eu e o Tibini também nos surpreendemos com a ajuda dele. Ele nos carregou e fez uma fogueira para nós, esperando a nossa recuperação para ajudar com Melinda, Miruni e Ilariki. Já é esperado que ele não nos abandona-se, mas não deixei de me surpreender em como ele foi gentil. Nem parece o homem que tentou me matar quando me viu pela primeira vez.

— Preparadas para a última prova do ano? — Camélia pula na nossa frente.

— PROVA? — meus olhos de espanto se encontram com o de Melinda.

— Sim, e vocês estudaram, não foi?

Nossos rostos nos entregam.

— Meninas! — ela cruza os braços e bufa.

— Nós... esquecemos. — solto um péssimo argumento.

— Eu não acredito. Por pouco vocês não reprovaram por falta. Precisam ser mais atentas — ela abre a bolsa, resmungando coisas que não entendo. — Eu fiz algumas anotações. Últimos dois dias de aula, meninas, não podemos passar mais semanas em recuperação. Depois da festa no domingo, não quero mais voltar para essa escola.

— Nós te amamos — Melinda pega o caderno. — Nem sei o que vou fazer sem você na faculdade.

— Estudar? — ela ironiza.

Certamente essa sensação de desespero de revisar toda a matéria minutos antes da prova, eu não vou sentir falta. Mas vou sentir falta de poder contar com Camélia e Vivian, que mesmo com olhares de mães julgadoras com as filhas displicentes, estão sempre nos ajudando e ensinando a matéria, cinco minutos antes da prova.

O professor entra, meu pé não para quieto. Já mordi a tampa inúmeras vezes de ansiedade.

Quando marco a última questão, lembrando do rosto de Camélia ao explicar a equação. Sinto que está tudo feito. Um ciclo terminado. Minhas notas são boas, mesmo que fique nesta recuperação, eu vou passar. Vou me formar no ensino médio. Eu nem acredito. Os dois últimos dias de aula. Muitos só se encontrariam novamente na festa de despedida e só retornaria na escola para pegar o diploma. É isso...acabou.

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