Capítulo 47 - Melinda

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Ikimari entra na cabana abruptamente, com os olhos afiados de um lobo. Ilariki salta, fazendo a cadeira cair para trás. Avança na direção do irmão, com os olhos lacrimejando, balançando as mãos de um lado para o outro. Com seu queixo caído, parece procurar o que dizer, mas a felicidade não permite.

— Você está bem. — Solta um sorriso bobo, pulando para abraçar o irmão. Eu... pelos deuses. Não faça mais isso.

— Eu estou bem. Não queria preocupá-lo. Mas não é o momento para comemoração. — diz ele.

— Por quê? — Kato entra na conversa, notando a preocupação na feição que Ikimari, que logo se torna a preocupação no rosto de todos na cabana. — Bem, sei que o Okubo ainda está vivo, mas acabar com a bruxa destruiu uma boa parte do seu poder de ataque.

— Não é disso que eu estou falando.

A conversa é interrompida com a entrada de Tibini e Miruni. Tibini carrega o rapaz apoiado em seu ombro. Miruni ainda está pálido, com os pés arrastando no chão.

— Tibini, não é o momento, ele precisa descansar. — Lizzie surge em seguida, com as mãos abertas para ajudar a segurar Miruni, colocando o outro braço suspenso do rapaz em seu ombro.

— É o momento, sim. — Tibini insiste. — Ele disse que precisa contar algo importante.

Nós olhamos para Miruni, que tenta soltar sua voz, mas sua boca gesticula com dificuldade. Seus cachos estão molhados, caindo sobre suas sobrancelhas, cobrindo nossa visão de seu olhar.

— Ele usou a forma humana e lobo? — Ikimari pergunta, recebendo a resposta de Ilariki. — Você sempre exagera.

— Que forma é essa? — Lizzie pergunta.

— É uma forma que nos deixa mais ágil e mais fortes porque junta as forças físicas da nossa parte lobo e humana, mas só o Miruni consegue permear entre essas partes com tanto controle. Mas... — Respira fundo. — ainda afeta muito o corpo humano dele. Precisamos acelerar o processo de cicatrização dele, a sua parte regenerativa não sabe o que curar, vai demorar semanas assim. — Ikimari levanta a cabeça de Miruni, abrindo a boca do rapaz.

— O que vai fazer? — pergunta Ilariki.

— Acelerar o processo, o corpo precisa perceber em qual forma ele está.

Ele abre a boca do rapaz, mostrando as presas que ainda estão machucando sua gengiva. Sua mandíbula despenca, com a boca aberta. Ikimari abre a palma da mão, colocando abaixo do queixo de Miruni; fechando o queixo do rapaz com força ao forçá-lo com a palma da sua mão. Escutamos o bater de seus dentes e o som de sua gengiva ferindo-se com suas presas. Tibini arregala os olhos, mas antes que pudesse protestar, Miruni lança um uivo, dando uma cabeçada em Ikimari.

— Poderia ser mais delicado? — Miruni cospe sangue no chão da cabana.

Ele passa a língua nas pontas dos seus dentes que voltaram ao nosso normal.

— Por que não deixou o Ilariki fazer isso? Ele seria mais compassivo. — Ele cospe de novo, mexendo a mandíbula para os lados.

— Você está bem? — Lizzie pergunta ao vê-lo se recolhendo e tirando os braços dos ombros que o apoiam.

— Estou, meu corpo vai cicatrizar, não tenho ferimentos graves.

Eu puxo uma cadeira e entrego para que ele se sente.

— Obrigado.

— O que tem para dizer? — Ikimari pergunta, limpando sua mão com os respingos de sangue de Miruni. A sua dor retorna, parece mais forte que antes, ele se apoia na mesa para não cair.

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