Capítulo 27 - Ilariki

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Ela se despediu, mas eu não estava completamente acordado. Só lembro do beijo molhado que me deu na bochecha, mas não lembro o que me falou. Estico o pescoço que parece ter sido pisoteado por elefantes. O cheiro dela ainda permeia o lugar.

— Precisamos de uma casa maior. — Miruni abre a porta bruscamente, jogando sua rede na cama.

— Podemos arrumar. — digo.

— Eu acho melhor ir com o Ikimari. — ele desvia o olhar, pondo a mão no ombro.

— Não vamos roubar nenhuma casa de humanos. — protesto ao notar sua intenção.

— Ilariki tem razão. — Tibini chega, mordendo uma maça verde. — Há muitas casas abandonadas. Podemos procurar e reconstruí-las.

— Demoraremos um bom tempo para procurar uma, tempo que não temos. Melhor ir com o Ikimari e deixar ele falar o papel de assustar os humanos.

— Há uma casa perto de uma vila, foi abandonada por sofrer muitos ataques. — Ikimari fala, do lado de fora, apoiado com o cotovelo na janela. — Você é carpinteiro, não é?

— Sim. — Tibini responde.

— Pode cuidar da madeira estragada. — ele abre mais a janela, abrindo seu campo de visão para olhar Miruni. — Você e ele vão atrás de madeira, eu e Ilariki vamos tirar as criaturas da casa.

— Desde quando você dá ordens? — Miruni bate o pé, bufando.

— Não são ordens, pode fazer o que quiser. Mas não foi você que sugeriu mudar de casa?

Miruni abri a boca, mas engole a resposta contra sua vontade.

— Vamos, Tibini. — ele chama.

Pegando sua espada encostada na porta.

— Espera, você... — Ikimari chama por Tibini. — Não tem cristais, certo? É bom ter alguns em seu bolso.

— Está bem. — ele recebe alguns cristais de transição, franzindo sua sobrancelha esquerda. — Obrigado.

Tibini e Miruni saem pela porta.

— Ele está sendo gentil ou é impressão minha? — Tibini pergunta para Miruni em um sussurro ao tomar distância, mas se eu consegui ouvir, Ikimari também.

Eu pego uma das maçãs colhidas por Tibini para entregar ao cavalo. Ikimari me segue, mostrando o caminho que devemos seguir para a casa. Ainda não conversamos depois que discutimos. Já discutimos outras vezes, não é nenhuma novidade. Mas, eu não queria repetir os erros do passado, não quero separar ainda mais o meu irmão. Quero mantê-lo perto, sem desavenças.

— Ikimari. — eu tomo coragem e o chamo.

Ele olha em minha direção, dando o nó em sua capa que até estava repousando em seu braço. Eu transpareço em meu olhar que não sei como iniciar a conversa.

— Eu sei — ele se vira para o outro lado.

— Mas eu quero falar. — eu me aproximo. — Eu não quis insinuar que nos trairia.

— Não insinuou que eu trairia vocês, insinuou que eu te trairia.

Ele realmente ficou sentido.

— Não sei ainda o que sente sobre os humanos depois que foi preso.

— Indiferença. — ele foi direto, falando no tom de sempre.

— Não quer vingança?

— Quero distância.

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