Capítulo 49 - Ilariki

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Não imaginei que a minha cabeça estivesse tão cobiçada. Tanta coisa aconteceu, que não parei para analisar o quanto as coisas mudaram durante os anos que fiquei preso. Kato explicou-me resumidamente, custei a acreditar quando ele disse que caçadores são mais fáceis de achar. Caçando não só criaturas que atacam as vilas, mas animalians que possuem prêmios pela sua cabeça. Também não acreditei quando ele disse o valor da minha cabeça, mas logo mudei de ideia ao ver o rebuliço que se forma ao chegar com o caçador que me "capturou". Bem, não foi difícil fingir que caí em uma emboscada, difícil é aturar os absurdos ditos sobre nós e os insultos sobre minha raça. As minhas unhas cravam na palma das minhas mãos, ao cerrar os punhos tão fortemente para evitar retrucar os insultos em um soco no rosto deles. Quando entro no salão de madeira com colunas grossas que se encontram no teto em espiral. É uma linda arquitetura que infelizmente é usada para prender e julgar animalians aprisionados. O chão da madeira está levemente arranhado em vários pontos, alguns não aceitam a prisão tão facilmente.

Entro amarrado e com uma mordaça metálica que me impossibilita de abrir a boca, todos os olhos no salão se direcionam a mim e ao caçador parrudo, que limpa com um lenço úmido as duas gotas de suor que escorriam na sua brilhante careca branca.

— Não acredito! — Os sussurros de admiração ecoam pelo salão.

Ele me puxa pela corda amarrada em minhas algemas, fazendo com que eu bata de ombros em mais prisioneiros que esperam em uma fila.

— Perdão! — digo.

O animalian preso se desequilibra com o impacto, caindo para frente, ele franze o cenho, encarando-me ao retornar, olhando-me com uma expressão séria ao falar:

— Cuidado por onde anda, amigo!

— Não tive intenção. — Levanto os braços para mostrar as algemas.

— Anda! — o caçador me puxa, forçando-me a andar.

Paramos em frente a uma mesa longa com cinco homens de nariz pontudos com um penteado engessado dividido ao meio. Pelo que entendi pela explicação do Kato, são homens que se encarregam de entregar as recompensas, homens que assim como os caçadores e os moradores das vilas, são influenciados pela enganação que Okubo esforçou-se para espalhar neste mundo. Não foi difícil de manipular, os humanos, no fundo, sempre desconfiaram de nós, apenas um empurrão, não foi difícil fazê-los acreditar que os animalians atacavam as vilas. E com mais um empurrãozinho, foi fácil fazê-los esquecer de como ajudamos com as criaturas durante anos. Não consigo imaginar em como a história tomou esse rumo, até mesmo quando as criaturas aladas de Okubo surgiram para atacar as vilas, nós ajudamos, protegendo-as. Foi protegendo as vilas que o meu nome, o do Ikimari e o de Miruni se tornaram conhecidos como caçadores, e agora, esse mesmo nome, com esses feitos, está fazendo minha cabeça valer um prêmio.

Eles são incrivelmente idênticos, diferenciando-se apenas ao formato da boca e a cor de seus olhos. Um tinha o maxilar torto, como se tivesse quebrado e nunca colocado no lugar. Ele me encara ao ver a aproximação da minha vez na fila, mordendo os lábios rosados de ansiedade. Um deles fica tão empolgado com a minha aproximação, adiantando seu trabalho para que ele fosse o sortudo de processar minha prisão. Passando a palma da mão branca no cabelo, esticando a divisão entre os fios ainda mais. Sorrindo e sussurrando o quanto isso ajudaria em sua imagem, caso realizasse minha prisão.

Não escondo a satisfação quando acabo parando em outro, deixando o de maxilar torto enfurecido ao me ver indo para três dos homens depois dele.

— Seu nome? — o homem pergunta, sem levantar a cabeça, folheando os papéis finos com suas longas unhas, fazendo a longa pena em sua mão esquerda deslizar entre seus dedos.

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