Capítulo 6 - Lizzie

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Passaram-se cinco dias depois que nos despedimos. Minhas esperanças esvaziavam-se a cada sopro de inquietação que libero de minha boca. Posso pegar um dos cristais e ir, mas não acho certo, talvez, ele esteja fazendo tudo que disse e precisa de mais tempo. Tudo que eu faço neste mundo, lembro-me do outro. Passo a escova em meus cabelos e lembro-me das flechas que arrancou alguns dos meus fios. Lembro-me do doce gosto dos biscoitos de leite ao tomar chá com o meu avô. Borrifo meu perfume em meu pescoço, e lembro-me dele falando do meu cheiro.

— Verdade, ele disse que eu preciso mudar meu cheiro.

Pego a minha bolsa com os livros da escola e coloco nas costas, desço as escadas correndo; calçando os sapatos às pressas em frente à porta.

— Estou indo mais cedo para a escola hoje, vovô. — digo, antes de sair.

Passo em frente ao shopping, tenho tempo de sobra para entrar agora.

Experimento algumas amostras de perfume. A moça é muito gentil, explicando-me as propriedades de cada perfume que me interessava. Borrifo em meu braço para poder sentir o cheiro do que ela me recomenda.

— Qualquer coisa, pode chamar. — ela diz, sorridente.

— Obrigada.

Procuro um perfume fraco, mas bom. Os frascos são coloridos e todos os perfumes me parecem perfeitos.

— Liz. — avisto Melinda na loja, ela segura uns perfumes em mãos e sacos com os tecidos para suas roupas em outra mão. Ela entrega os perfumes para a vendedora ao seu lado.

— Estes aqui, só um instante que vou pagar. — ela diz.

Ela vem em minha direção, com o andar confiante de sempre. Vestindo um macaquinho amarelo que combina perfeitamente com sua bolsa dourada. Não está de bota, o que é uma novidade. Ela usa uma chinela rasteira. Nunca a vi usando uma chinela antes.

— Procurando perfume? — ela coloca o braço em meus ombros. — Para você ou presente? Posso ajudar.

Perfeito, ninguém que eu conheço entende mais de perfume que a Melinda e ela conhece o meu gosto.

— Sim, para mim. Estou procurando um perfume que seja fraco, não seja percebido muito fácil, um cheiro não muito forte de ser notado. E precisa ser doce... sim, doce.

Uma linha aparece entre suas sobrancelhas.

Eu fui estranhamente específica.

— Ok... — ela ergue as sobrancelhas e passa os dedos entre os frascos.

Pegando dois deles. Borrifando um em cada mão e me mostrando. Eu escolho o da mão direita, um cheiro leve de lavanda.

Perfeito.

— Sabia que o cheiro de um perfume pode variar de acordo com a pessoa. — ela diz, empolgada enquanto saiamos da loja. — E cada cheiro desencadeia sentimentos diferentes em cada pessoa. Não é engraçado pensar que nosso cheiro é só nosso.

— Sentimentos? — pergunto.

— Sim, dependerá muito por quem você comprou o perfume.

— Eu? Eu não comprei por ninguém. Por favor, Melinda, não imagine coisas. — sinto um calor em minhas bochechas.

— Ah, você ficou vermelha. Diga-me quem é. — ela cruza seu braço com o meu. — Eu o conheço?

— Não.

— Então tem alguém? Eu não acredito.

— Não, não foi isso que eu quis dizer, foi um "não" de não tem ninguém e você está imaginando.

Renascer dos Lobos Onde histórias criam vida. Descubra agora