Capítulo 43 - Melinda

307 65 138
                                    

Passamos o resto do dia trabalhando na enfermaria. Eu e Lizzie focamos nossa atenção nas ervas misturadas que eles passam nos ferimentos. Mesmo com dificuldade, nós aprendemos a mistura.

Amasso as ervas no pote de barro com a colher de madeira que me deram e seguro o pote, enquanto Lizzie coloca a mistura nos ferimentos para enfaixar. Acho que peguei o jeito. Alguns saem após os cuidados, mas não para de entrar outros feridos da batalha. Alguns não tão graves, mas outros, ainda desacordados, ficam reclusos no fim da cabana após o tratamento. A movimentação é tanta que, infelizmente, não podemos deixar os parentes vê-los ainda. Parte meu coração negar para as crianças que aparecem.

Uma delas até entrou de penetra, levantando o tecido da cabana para entrar. Eu a levei para ver a mãe adormecida em uma das camas. Ela sorriu quando viu a mãe, engolindo o choro para não mostrar a preocupação. Aquilo aqueceu meu coração e receber o abraço da criança, apertado em meus joelhos, compensa todo o cansaço da noite mal dormida de ontem.

— Por que não vai descansar um pouco? — A moça que me ensinou a preparação de ervas insiste para que eu durma um pouco. Ela coloca a mão em meu ombro esquerdo, com o cabelo preso em um coque, ela passa a outra não na nuca. Não foi um dia fácil para ninguém.

— Estou bem, ainda posso ajudar.

— Mas você não dormiu nada. — Ela pega minhas mãos. — Banhe-se e descanse! Nós cuidamos das coisas aqui.

Eu estou mesmo precisando de um banho. Nas tentativas de aprender a mistura, derramei vários potes do líquido em minha roupa.

— Onde posso me banhar? — pergunto, levantando-me da cadeira.

— Há um lago caminhando reto pela floresta.

— Obrigada.

Eu mergulho os dedos na água gelada. Está tão fria que não me encoraja a entrar. Mergulho apenas meus pés. Olhando para o céu. É noite de lua cheia, as estrelas pintam o céu como respingos em um quadro preto.

A senhora ia amar essa vista, vovô.

Eu ainda não decidi o que fazer com a casa. Voltei lá apenas uma vez depois de tudo, apenas para pegar roupas novas para viajar. Antes era mais fácil, mesmo sozinha, mas eu tinha no pensamento que tinha que cuidar da casa para a senhora. Agora, eu não sei o que fazer com aquela casa. Ficar sozinha naquele labirinto de paredes...não me agrada. Ainda quero ficar aqui. Animo-me ao pensar em andar por este mundo, conhecendo cada criatura dele. Posso até encontrar as fadas. Mas, não tem tanta graça sem poder explicar tudo para a senhora.

Eu tiro os pés da água. Dobrando os joelhos para apoiar minha cabeça.

São tantas coisas para pensar.

Agora que descobrimos os planos de Okubo. Como alguém pode ter um pensamento tão perverso? Os ferimentos que ele causou no corpo dos lobos, tudo isso para o bem da sua pesquisa. Sem se importar com os sentimentos e com a vida dessas pessoas. Pensando em genocídio de uma raça apenas para comandar um mundo.

Foi isso que Phillips não concordou e tentou parar.

Será que Ikimari também faz esses tipos de experimento? Ele não concordava com as pesquisas de Phillips. Talvez seus métodos fossem diferentes. Mas ele não machucaria um animalian pelo bem da sua pesquisa. Disso eu tenho certeza.

— Será que ele faz com humanos? — Eu balanço a cabeça, negando meu próprio pensamento. — Não, não.

Suspiro, mergulhando minhas mãos, sentindo os peixes beliscando a ponta dos meus dedos.

— Mas ele parece saber tanto.

Dou tapinhas na minha bochecha.

— Ele não faria isso. — concluo.

Renascer dos Lobos Onde histórias criam vida. Descubra agora