Faz pouco tempo que voltamos para o nosso mundo. Vim direto para o hospital. Abri a porta do seu quarto com cuidado para não acordar ela ou o outro paciente. Puxo a cadeira para perto dela, afastando o cabelo de seu rosto. Bato meus pés freneticamente no chão. Não sei como começar. Fecho a cortina para ter privacidade. Ela está brilhante, com a cor única que só ela possui. Disputando o brilho com a luz do sol que entra no quarto do hospital.
— Vó, a senhora não vai acreditar. — puxo a cadeira mais para perto.
Seguro sua mão, mais gelada que da última vez. Olho para o ar-condicionado, está normal.
— Bem...Deixa eu contar! Conheci umas pessoas legais, a senhora vai adorar conhecê-los. Terá tanto assunto para conversar com Tibini, ele faz móveis como o vovô. Estou pensando em levar alguns dos livros do vovô para ele, a senhora sabe, passar o conhecimento para frente. — gesticulo com o braço fazendo uma onda para o alto. — O Miruni ama uma boa comida, é o mais engraçado entre nós, a energia dele é contagiante, a senhora vai amar. O Ilariki é um fofo... AH! Ele está namorando a Lizzie, são lindos juntos.
Eu balanço os pés pendurados que não encostam no chão, enquanto acariciando sua mão dando voltas com meu polegar.
— Tem o Ikimari. — coloco a mão esquerda no queixo. Não sei bem como descrevê-lo. —Ele é...gentil, mas sabe como ser nenhum pouco gentil quando quer. Mas é gentil na maioria das vezes... eu acho. Ele parece um cachorrinho abandonado, mas que sofreu muito na rua, então está sempre na defensiva. — eu percebo o que acabo de falar. — Eu o comparei com um cachorro.
Começo a rir.
— Um lobinho abandonado soa melhor. Faz mais sentido do que a senhora pensa. — minha boca se derrete em um sorriso como uma manteiga. — Mas eu sinto como se quisesse ficar ao lado dele, deixar que ele seja gentil sempre que quiser. Ele se preocupa muito com o irmã. Bem, do jeito dele. Mas eu entendo, ele só tem o Ilariki. — eu volto a segurar sua mão. — Como eu, que só tenho a senhora. Ele tem medo de perder o irmã, só não sabe demonstrar isso.
Eu passo a mão em sua franja encaracolada.
— A senhora vai amar lá, vovó. A natureza, sem carros ou os programas chatos de televisão que a senhora nunca entendia. Eu também quero viver lá. Na verdade, tenho pensado muito sobre isso. Mas quero levá-la comigo antes de decidir algo tão maluco. Então, por favor, melhore.
Uma das minhas lágrimas cai em sua roupa. Curvo-me para depositar um beijo em sua testa. Outra lágrima cai. Eu limpo, acariciando sua testa.
Dessa vez não iria me atrasar para a escola. Ela não gostaria. Beijo sua mão, sentindo o cheiro do hidratante que coloquei. Ela ama o cheiro doce das amoras.
Olho no espelho de bolso, meus olhos ainda estão vermelhos. Saio, acenando para a recepcionista simpática.
Encosto a cabeça na janela do ônibus, pensando em tudo que está acontecendo. Nem escuto o barulho dos carros passando feito loucos na rua. Minha mão sua de ansiedade. Não espero a hora de ver minha avó melhor. Sentar e tomar um chá, conversando com ela como fazíamos antigamente. Passo o dedo pela palma da minha mão, acariciando-a, lembrando-me do toque doce da minha avó. Finalmente chego na parada da escola. Só mais uma semana para acabar o ano. Todo o corredor está coberto dos panfletos do baile.
" Festa à fantasia.", pego um dos cartazes para ler.
Que original.
A falta de criatividade foi tanta que transparece no photoshop mal feito. Ninguém está ligando muito para o tema, isso é um fato. Estão mais animados para a bebida, dança e acompanhantes. Eu não estou animada para os três. É incrível como a nossas prioridades podem mudar em um ano. No início do ano, eu daria tudo para ter uma companhia e ir para o baile. Agora, eu só quero ajudar minha amiga e meus novos amigos.
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Renascer dos Lobos
FantasyLizzie é uma jovem comum, vivenciando os problemas do último ano do ensino médio, podendo contar sempre com suas amigas e com o seu avô. Ela só não tinha como prever que sua vida mudaria completamente com a descoberta de um novo mundo. Conflitos e p...