Consigo sentir o cheiro de bebida e comida dos que voltam da festa para o acampamento. A música desaparece de forma singela ao vento. O sol já está se pondo, os ventos frios me obrigam a vestir uma das túnicas por cima do vestido de Lizzie. Meu nariz ainda está vermelho de tanto chorar. Meu Deus, só estou chorando ultimamente. Vovó iria rir muito de mim agora. Bom, foi por um bom motivo.
"Sua boba, está chorando pela felicidade de suas amigas." Seria algo que ela diria.
Não estou com muita vontade de ir à festa, não com essa cara de choro. Claro, não esperava encontrar com duas crianças que me puxam para fora do acampamento.
— Vamos, a festa já começou. — diz a menininha que aperta forte meu dedo.
— Está bem. — suspiro, deixando-me levar pelos puxavantes. — Vamos lá.
A festa está mais próxima do acampamento, entre a vila e o local onde os animalians marinhos estão com as cabanas. A dança é contagiante e a música tem um ritmo bom e vibrante, apesar de não entender a letra. Sinto-me confortável para dançar com as crianças que formam uma roda para me ensinar os passos. Tibini aparece cambaleando, apoiado nos ombros de Miruni, que ri das caras e bocas que Tibini faz.
— Onde está o Ilariki? — pergunta Miruni. — Ele fugiu dos moradores.
— Está com a Lizzie.
— Entendi. — Ele solta um sorriso de lado. — Você pode pegar comida e...
Tibini não o deixa terminar, tampando a boca dele com a palma da mão e fazendo biquinho de peixe com os lábios de Miruni.
— Você sabia...que ele não fica bêbado. — Fala, sem ter noção o quanto sua voz está alta. — Tão sem graça.
— A culpa não é minha. E você é fraco para bebidas, só bebeu dois copos e já está assim. — Tibini fala, sorrindo. — Vamos molhar o rosto. Pode pegar bebida e comida à vontade. — Completa a frase, olhando-me.
— Obrigada.
Sento-me perto de uma fogueira, aquecendo-me pela noite fria. Tio Jhon aparece segurando um copo de bebida e conversando com Kato e um morador da vila, que parece ouvir atentamente tudo que ele fala. Acho que não é o melhor momento para perguntar sobre como vender a casa.
A mãe de uma das crianças vê que estou sem nada na mão, o que parece ser inadmissível nesta festa. A moça de sorriso contagiante e cabelo trançado para o lado esquerdo, caminha até mim, franzindo a testa. Ela dá meia volta e aparece novamente com um prato de carne, arroz e frutas para mim.
— Obrigada. — digo ao aceitar o prato.
As pessoas da vila contam as histórias da batalha. Contando como a vila foi atacada pelas criaturas aladas que surgiram das montanhas com criaturas de barros lideradas por um humano e como viram um exército aparecer da mata para ajudá-los. Os feitos dos animalians marinhos e dos animalians que ajudaram com os ataques nas vilas são os assuntos da noite. O que é bom, já que não estão mais vendo os animalians como inimigos.
Enchi minha barriga com as batatinhas da lanchonete. Não aguento mais comer nada. Mas a moça simpática continua me olhando com seus olhos azuis cintilantes, esperando até que eu termine o prato. Quando pego a coxa de frango e dou uma mordida de leve, ela responde com um sorriso de orelha a orelha.
É cativante a cordialidade dos humanos neste mundo. Ao terminar o prato, bebo um pouco do suco de frutas para ajudar a comida a descer. As crianças voltam a me chamar para dançar, o que não tem como negar. São passos fáceis, movendo as mãos como ondas do mar, seguindo o batuque do tambor para levantar as ondas e escutar o som da viola para mexer os pés na terra. Pergunto-me se tem um significado nesta dança.
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Renascer dos Lobos
FantasyLizzie é uma jovem comum, vivenciando os problemas do último ano do ensino médio, podendo contar sempre com suas amigas e com o seu avô. Ela só não tinha como prever que sua vida mudaria completamente com a descoberta de um novo mundo. Conflitos e p...