Capítulo 39 -Ilariki

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Sento na cama com a visão embaçada. Sinto-me tonto, com dores de cabeça como se tambores batucassem em minha cabeça. Sustento a cabeça com as mãos. Coloco a mão em meus olhos doloridos, sinto a pele quente dos arredores do meu olho. Pego o espelho para olhar, está roxo e inchado. Eu uso o mindinho para cutucá-lo, mexendo na pele para que se regenere mais rápido. Levanto da cama, e pareço um saco de batatas amassadas, caindo para o lado. Todo o meu corpo dói, pareço uma carne moída, sustentando-me pelos móveis para andar.

Eu saio do quarto. Não encontro ninguém. Que grande recepção. Vejo um papel embaixo do jarro da mesa.

Um recado?

É o desenho de uma localização, como um mapa. Está trêmulo, os entornos das montanhas parecem raios. Mas o papel exala um cheiro que é impossível não identificar. É o cheiro da Lizzie.

— Ilariki! — Tibini sai do banheiro, com uma toalha na cabeça, com os fios de seu cabelo caindo para fora do tecido, partindo em minha direção com os braços abertos. — Pelos Deuses.

— É, estou bem. — minhas costas ainda doem ao receber seu abraço. — Por quanto tempo fiquei desacordado?

— Uns três dias. Você estava acabado, mal conseguia se curar.

— Onde estão os outros? Onde está a Lizzie?

Ele abaixa o olhar, abre a boca, mas fecha de imediato.

— Estão todos bem? — indago, temendo sua relutância.

— Sim, sim, o Miruni saiu para comprar comida...

Ele para. Está procurando a palavra certa, passando a mão direita pela nuca, mexendo a cabeça de um lado para o outro.

— A Lizzie...

— Tibini, sem rodeios, por favor.

— Ela se foi.

— Como assim se foi? — sinto uma dor mais forte, cambaleando para o lado.

Ele gesticula para que eu sente, puxando a cadeira para mim.

— Eu estou bem. — digo, em um tom sério.

Ele senta no lugar. Mexendo as mãos em movimentos circulares, buscando as palavras certas. O seu mistério está começando a me incomodar. Mas vi no seu olhar que ele não queria me dar uma notícia ruim. Ele toma coragem e começa a me explicar tudo que sabia. Dizendo que o papel foi a única coisa que ela deixou antes de sair. Miruni foi ao mundo humano falar com ela, mas o avô não quis dizer onde ela está. Ele encolheu os ombros para trás para terminar a conversa.

— Não sabemos o que o Ikimari disse para ela. — ele conclui.

Eu respiro fundo e pego o papel da mesa, dobro e coloco em meu bolso. Abro a porta, pisando descalço na grama ao descer as escadas. Pisco rapidamente com meus olhos recebendo o sol depois de dias fechados. Massageio o canto dos olhos.

Ikimari está deitado embaixo da árvore, com os pés mergulhados no lago.

— O que você disse para ela? — pergunto. — Ikimari, o que você disse?

Ele abre os olhos devagar, me lançando um olhar caído.

— Você está bem? Como está se sentindo? — ele tira os pés da água, colocando-se em pé. — Você não deveria se levantar agora. Ainda está se recuperando.

— Não é momento para tratar-me como um inválido.

— Você está. — retruca ele.

— O que disse a Lizzie? — repito a pergunta. — Por que ela se foi?

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