Capítulo 7 - Lizzie

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Retornamos para onde encontramos o rapaz. Alego que não é prudente voltar para a cena do crime. Podem estar nos esperando para atacar novamente. Ilariki protesta e garante que ao sentir um cheiro estranho, mudaria nossa rota, mas que ele precisa passar lá, pois deixou algo que pode nos ajudar. Ele me deixa esperando e entra mais afundo na mata, onde minha visão não pode mais segui-lo.

Em alguns instantes ele retorna puxando um cavalo pelas rédeas, o pobre mamífero morde os cabelos do Ilariki como se fossem gramas; ele de estar com fome.

— Ajudará com o percurso. — Ilariki tenta afastar a boca do animal de seus cabelos.

Ele me ajuda a subir no animal e sobe logo depois. É a primeira vez que eu cavalgo, sei que sou a guia por ser a única capaz de enxergar o mapa, mas fico tão nervosa ao montar pela primeira vez, que minhas mãos suam como uma cachoeira. Paro de pensar no pior ao notar que o cavalo está machucado superficialmente com um ferimento de raspão, possivelmente, foi causado pela flecha que Ilariki lançou, mas o que me chama atenção á que o cavalo tem cicatrizes em volta de toda a sua pelagem preta. Passo a mão em sua crina, acariciando-o.

"O que faziam com você?", penso.

— Estamos perto? Já está escurecendo. — ele tenta enxergar o mapa novamente.

— Não.

— Acho bom pararmos e continuamos ao amanhecer.

Ele amarra o cavalo em uma árvore.

— Vou pegar algumas frutas, mas ficarei perto — ele bate as palmas das mãos nas coxas.

Eu apronto meu saco de dormir embaixo de uma árvore com uma grande copa. Não paro de imaginar se minha mãe já usou esse saco. Está em perfeito estado, o seu azul ainda é vivo, um pouco desgastado dentro, mas por fora mantém a cor. Talvez, minha mãe dormirá com ele neste mundo, acompanhando o meu pai em suas aventuras.

Deixo meu saco de dormir pronto e pego meu kit para limpar os ferimentos do cavalo.

— Desculpe-nos por isso. — passo com cuidado o algodão na ferida da flecha. — Eu nunca cuidei de cavalos, mas espero que isso alivie.

Os olhos escurecidos como a noite me encaram enquanto limpo o seu ferimento. O cavalo permanece quieto, permitindo que eu o acaricie. Minha boca se curva em um sorriso com tanto carinho.

— Obrigada. — sussurro.

Ilariki aparece, segurando goiabas e maçãs. Ele acaricia o cavalo, deslizando seu indicador na lista branca que o cavalo tem na cabeça, e oferece uma maçã; que é devorada em uma só mordida.

Ilariki fica com uma maça e me oferece o resto. Meus braços ficam atolados com as frutas.

— Obrigada.

A noite chega rápido. Aproximo-me da fogueira quando o vento frio arrepia todo meu corpo. Olho para cima, entre as copas das árvores, não fiz isso na última noite. A visão das estrelas é linda. O céu está limpo, sem nuvens, possibilitando a visão das constelações, que parecem desenhadas à mão em uma tela escura.

Olho para o lado, Ilariki adormeceu em poucos minutos. Segurando sua espada, apoiando sua cabeça nela e seu corpo encostado na árvore.

Deito-me, olhando para o céu estrelado. Realmente, é um mundo lindo.

Acordo sentindo algo gelado e molhado em meus pés. O cavalo soltou-se da árvore, e começou a lamber o meu pé como se fosse um pedaço de maçã. Dou risadas incontroláveis com as cócegas. Pego uma maçã que guardei na bolsa e entrego para ele.

— Você não fugiu. — alegro-me com a confiança.

Ilariki acorda com a movimentação. Com as mãos nos ombros, ele aperta para massagear, não é uma forma confortável de dormir.

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