Capítulo 23 - Melinda

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Ele sai do banho enxugando seus fios pretos com a toalha. Peguei uma das blusas sociais simples do meu avô para ele, a sua está suja de sangue. Uma cor neutra, bege, combina com ele. Ele joga a toalha em seus ombros largos. Sua capa cobre todo seu corpo, não tinha visto antes a tatuagem em seu braço direito. É como a de Ilariki, traços grossos que contornavam o seu braço, mas apenas em um lado. Como se tivessem passado um pincel com tinta preta e desenhado contornos de ondas em sua pele, não tem desenhos ou algum símbolo que eu reconheço.

Eu entrego a blusa, e ele pega de minhas mãos. O tecido balança em seu corpo, enquanto ele abotoa na frente. Eu vejo um dos espinhos perdidos em suas costas. Aproximo-me para tirar, mas ele se esquiva.

— Tem um espinho. — fico constrangida por alguma razão.

— Não ouviu o que eu disse? Não pegue com as mãos.

— Ah! — eu tiro meu cachecol para pegar no espinho, mas ele puxa o espinho sozinho, jogando-o em uma vasilha de metal que separamos para recolher os que arrancamos. — Estamos jantando, você vai descer?

— Não quero comida humana.

— Mas é a mesma comida. — eu cruzo os braços. — Até mais gostosa, já que fui eu que fiz.

— Recuso. — ele fecha o último botão.

Sua atitude é fechada, não me deixa aberturas.

— O que aconteceu com seu pescoço? — ele pergunta.

— Meu pescoço? — só agora percebo que tirei o cachecol.

Antes de tudo acontecer, no caminho do mercado para casa, encontrei com Anthony passando na rua, ele vinha da rua da esquina da minha casa. Diminui os passos quando o vi se aproximando. Quando senti o barulho da sua moto aproximando-se, senti um arrepio tomar conta, mas eu olhei para o outro lado, tentando disfarçar, para que ele não me percebesse.

— Melinda. — não adiantou.

Segurei as sacolas com firmeza e apressei o passo. Ele desceu da moto, tirando o capacete e correu até mim. Puxou-me pelo braço, e fitou-me com seus olhos claros.

— O que pensa que está fazendo?

— Compras. — sabia que não era disso que ele estava falando, mas não pude segurar.

Ele apertou meu braço mais forte.

— Terminou comigo por mensagem. — ele balança seu braço ao falar. — Você não atende minhas ligações, me bloqueou. Não vai me dar uma explicação?

— Explicação? Acabou... só isso.

— Só isso? Você anda estranha ultimamente, faltando o colégio. E... e quem são aqueles caras na sua casa?

— Na minha casa? O que foi fazer na minha casa?

— Fui falar com você. — ele solta meu braço, passando a mão em meu rosto. — Tentar entender por que está agindo assim... tão estranha.

— Não estou agindo estranho.

Ele desce as mãos, agarrando meus dois punhos.

— É por um deles que você está assim? Foi por isso que terminou comigo? — ele aperta forte minha mão.

— Está me machucando. — digo.

A conversa começa a chamar a atenção das pessoas que passavam pela calçada.

— Nós podemos conversar em outro lugar, Anthony. — me encolho. — Eu ligo para você, falamos depois.

— Para voltar? — ele acaricia minha mão.

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