Capítulo 48 - Ilariki

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Não consigo abrir os olhos. Sinto a água entrando em meus pulmões como pregos fervendo. Meus olhos ardem e são pressionados pela pressão da água, como se tivessem dedos grossos fechando-os com força. Minha pele começa a formigar, passando para uma ardência dolorosa em questão de segundos. Não sei se são espasmos da dor, mas volto a ter controle das minhas mãos, que são direcionadas para a minha garganta, na procura desesperada de ar. Minha boca se abre, entrando mais água com gosto de sangue e terra. Sinto minha pele mole, descascando-se como uma troca de pele de uma cobra. Algo me segura fortemente pelas costas, puxando-me para cima. Não consigo fechar a boca com os gritos de dor que são ecoados pela entrada da água. Sinto meu corpo subindo mais rápido, mas estou perdendo o ar. Meus pulmões estão prestes a estourar. Não vai demorar muito até que eu me afogue.

— Será a ponte entre os dois mundos. Não precisamos viver separados. Podemos viver juntos. Como amigos. Não, como uma família: humanos e animalians.

O que é isso? Estou ouvindo vozes. Sinto um alívio em meu peito. Estou recuperando o ar. Toco em minha pele, sentindo partes em carne viva ao tocar com meus dedos. Mas eu consigo respirar.

— Não precisamos fazer isso.

— O seu povo está nos matando.

— Meu povo não é assassino.

— Como nossos ancestrais puderam acreditar em animais?

Sinto um frescor na minha pele. Aliviando a dor, como se estivesse deitando-me em algodão. Eu toco minha pele, ainda arde ao toque.

— Decidiremos de uma vez por todas.

— Vocês não ficaram com os dois mundos. Esse mundo era nosso de início. Podemos resolver pacificamente.

— O sangue dos humanos não foram derramados pacificamente.

— Foram derramados porque queriam ser maiores que nós.

Os barulhos de metais me assustam. Meus ouvidos sangram. Escuto passos, pessoas andando. Não, é um batalhão. O tilintar das espadas me ensurdece, os gritos e choros que surgem apertam meu coração como garras afiadas ao ouvir o choro de crianças e mulheres. Forço-me a abrir os olhos, mas não consigo.

— Não podemos continuar com isso. Todos os lados já perderam muitas vidas. Os humanos não aguentaram mais.

— O que faremos?

— Quebraremos a ponte. Deixaremos eles em seu mundo, não voltaremos mais.

— E os humanos que estão conosco?

— Serão bem-vindos. Não pudemos unir os mundos, mas podemos tornar este um mundo para todos.

Bato nas costas de alguém. Sinto que estou flutuando, não sei por quanto tempo.

— Não demorará para que eles se voltem contra nós novamente, como nas histórias do passado. Essas criaturas aladas só podem ser deles.

— O que faremos?

— Atacaremos antes deles. Soube de caçadores que enfrentam criaturas piores que animalians. Com um bom dinheiro, podem caçar mais que criaturas.

Posso sentir cheiros. Sinto o cheiro das rosas e das flores. Sei onde estou. Estou na ponte. Sinto também o cheiro da Lizzie, é um cheiro diferente, além do seu doce perfume, sinto o cheiro da sua emoção, ela está triste.

— Não está vendo o que descobrimos? — Essa voz eu reconheço, é a voz do Okubo.

— Não, se puder me explicar.

Renascer dos Lobos Onde histórias criam vida. Descubra agora