Não consigo abrir os olhos. Sinto a água entrando em meus pulmões como pregos fervendo. Meus olhos ardem e são pressionados pela pressão da água, como se tivessem dedos grossos fechando-os com força. Minha pele começa a formigar, passando para uma ardência dolorosa em questão de segundos. Não sei se são espasmos da dor, mas volto a ter controle das minhas mãos, que são direcionadas para a minha garganta, na procura desesperada de ar. Minha boca se abre, entrando mais água com gosto de sangue e terra. Sinto minha pele mole, descascando-se como uma troca de pele de uma cobra. Algo me segura fortemente pelas costas, puxando-me para cima. Não consigo fechar a boca com os gritos de dor que são ecoados pela entrada da água. Sinto meu corpo subindo mais rápido, mas estou perdendo o ar. Meus pulmões estão prestes a estourar. Não vai demorar muito até que eu me afogue.
— Será a ponte entre os dois mundos. Não precisamos viver separados. Podemos viver juntos. Como amigos. Não, como uma família: humanos e animalians.
O que é isso? Estou ouvindo vozes. Sinto um alívio em meu peito. Estou recuperando o ar. Toco em minha pele, sentindo partes em carne viva ao tocar com meus dedos. Mas eu consigo respirar.
— Não precisamos fazer isso.
— O seu povo está nos matando.
— Meu povo não é assassino.
— Como nossos ancestrais puderam acreditar em animais?
Sinto um frescor na minha pele. Aliviando a dor, como se estivesse deitando-me em algodão. Eu toco minha pele, ainda arde ao toque.
— Decidiremos de uma vez por todas.
— Vocês não ficaram com os dois mundos. Esse mundo era nosso de início. Podemos resolver pacificamente.
— O sangue dos humanos não foram derramados pacificamente.
— Foram derramados porque queriam ser maiores que nós.
Os barulhos de metais me assustam. Meus ouvidos sangram. Escuto passos, pessoas andando. Não, é um batalhão. O tilintar das espadas me ensurdece, os gritos e choros que surgem apertam meu coração como garras afiadas ao ouvir o choro de crianças e mulheres. Forço-me a abrir os olhos, mas não consigo.
— Não podemos continuar com isso. Todos os lados já perderam muitas vidas. Os humanos não aguentaram mais.
— O que faremos?
— Quebraremos a ponte. Deixaremos eles em seu mundo, não voltaremos mais.
— E os humanos que estão conosco?
— Serão bem-vindos. Não pudemos unir os mundos, mas podemos tornar este um mundo para todos.
Bato nas costas de alguém. Sinto que estou flutuando, não sei por quanto tempo.
— Não demorará para que eles se voltem contra nós novamente, como nas histórias do passado. Essas criaturas aladas só podem ser deles.
— O que faremos?
— Atacaremos antes deles. Soube de caçadores que enfrentam criaturas piores que animalians. Com um bom dinheiro, podem caçar mais que criaturas.
Posso sentir cheiros. Sinto o cheiro das rosas e das flores. Sei onde estou. Estou na ponte. Sinto também o cheiro da Lizzie, é um cheiro diferente, além do seu doce perfume, sinto o cheiro da sua emoção, ela está triste.
— Não está vendo o que descobrimos? — Essa voz eu reconheço, é a voz do Okubo.
— Não, se puder me explicar.
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Renascer dos Lobos
FantasyLizzie é uma jovem comum, vivenciando os problemas do último ano do ensino médio, podendo contar sempre com suas amigas e com o seu avô. Ela só não tinha como prever que sua vida mudaria completamente com a descoberta de um novo mundo. Conflitos e p...