Capítulo 88 - Razões

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Enzo tentava fixar o olhar sobre o rosto esteticamente perfeito de Mariane que andava de um lado para o outro na suntuosa sala da mansão McGowan, mas não era feliz em sua tentativa por mais incisiva que fosse, afinal, acima do queixo erguido da mulher de cabelos loiros a razão do frio de sua espinha perturbada seus olhos castanhos culpados.
O encurralando como se fosse um criminoso o retrato de séculos atrás o lembrava do seu ato covarde de dias atrás: Havia deixado Marina ir e seu erro prometia persegui-lo enquanto houvesse horas no dia. Pela noite ou pela manhã.

— Ouviu o que eu disse? — Questionou a irmã mais velha do homem parando finalmente de caminhar. Os neurônios em polvorosa do mais novo agradeceram o pequeno cessar de barulho.

— Claro... — Respondeu Enzo com um sorriso sem dentes, tentando disfarçar a direção que tinha seus olhos em um problemático campo magnético. Mariane, no entanto, captou o ocorrido e antes que seu irmão pudesse encontrar melhor explicação caminhou na direção do quadro imenso que cobria a parede acima da lareira que acendiam nas frias noites na capital paulista.

— Você precisa focar no que é realmente importante — Apontou Mariane colocando seus dedos nas bordas do quadro com a finalidade de retirá-lo do espaço. Na opinião da loira sempre fora feio, mas agora não encontrava adjetivo mais adequado que apavorante. Queria a angústia de ver a pessoa na tela em alguém tempos depois longe.

— E o que é importante? Discutir sobre a partilha dos bens de mamãe como se ela não estivesse mais entre nós? — Questionou o loiro a outra percebendo sua ação sobre o quadro. Mariane, entretanto, hesitou por um instante e olhou o homem por cima do ombro.

— Sabemos que é irreversível, Enzo. Consultamos especialistas, movemos céus e terras e nada funcionou. Até a mamãe concorda que seja hora de imaginar um mundo em que temos que nos valer por nós mesmos sem a presença dela — A mulher disse sem remorso na voz. A mais velha era fria de uma maneira que sempre deixaria o rapaz com um sentimento pesado do peito. Aquilo somado a outra situação incômoda quase colocava uma pedra por dentro de seu peito. E Enzo, tão frágil, quase não podia suportar com tanto.

Olhou o quadro outra vez e pensou em sua mãe padecendo no leito da morte eminente. Algo se abrandou em seu peito como um sopro de uma brisa no meio do deserto. Tinha em sua mente finalmente um caminho...

— Eu só vou até o campo levar alguns documentos para o Renato, não há razão de você me acompanhar! — Disse Bianca batendo seu adorável pezinho em frente a namorada que insistia em acompanha-la mesmo com tanto a fazer no escritório.

— Não há mesmo? Não tem razão de eu querer sua companhia de pertinho enquanto a gente cavalga até lá? — Disfarçou sua preocupação com um pouco de fofura fazendo um bico para sua amada. Se a mulher virava uma menina com seu pezinho a leoa também sabia fazer ceder ao perfumar uma gata. De forma dócil conduzia Bianca por onde desejava.

— Pode ter minhas companhias por mais cinco minutos e depois eu vou — Ofereceu o pescoço a Rafaella que afundou o nariz ali a chamando até o seu colo a fazendo se sentar. Relaxou o corpo instantaneamente como há algumas noites quando se assustou novamente com seus demônios reaparecidos após a visita ao seu quarto de tortura.

— Não é o suficiente — Resmungou beijando a bochecha e depois dando um selinho na mulher da sua vida. O medo se apoderando lentamente só de cogitar que por um segundo algo poderia acontecer com ela se estivesse só.

O rugido da leoa Onde histórias criam vida. Descubra agora